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— A capital é mesmo proibida, Philip?

— Não segundo o tratado. — Tyrer experimentou a maior satisfação. Apenas alguns minutos, e ela já abandonara o monsieur. — O tratado estipulou que todas as legações ficariam instaladas em Iedo, a capital. Fui informado de que evacuamos Iedo no ano passado, depois do ataque que sofremos. É mais seguro permanecer em Iocoama, sob a proteção dos canhões da esquadra.

— Ataque? Que ataque?

— De alguns loucos chamados ronin... são alguma espécie de proscritos, assassinos... uns dez ou doze atacaram nossa legação, durante a madrugada. A legação britânica! Pode imaginar tamanho atrevimento? Os demônios mataram um sargento e um sentinela...

Ele parou de falar no momento em que Canterbury saiu da estrada, e apontou com o chicote.

— Olhem ali!

Os outros pararam ao seu lado. Podiam ver agora os estandartes compridos e finos, erguidos por uma coluna de samurais, que virava uma curva na estrada, aproximando-se, umas poucas centenas de metros à frente. Todos os viajantes se dispersavam, apressados, largando fardos e palanquins no chão, desmontando sem qualquer hesitação, e depois todos se ajoelharam nas margens da estrada, cabeças abaixadas para a terra batida, homens, mulheres e crianças, e ficaram imóveis. Apenas os poucos samurais na estrada permaneceram de pé. À passagem do cortejo, eles faziam uma reverência, deferentes.

— Quem é, Philip?— perguntou Angelique, excitada. — Pode ler o que está escrito nos estandartes?

— Lamento, mademoiselle, mas ainda não posso. Eles dizem que leva anos para se aprender a ler e escrever sua língua.

A felicidade de Tyrer se dissipou ao pensamento de tanto trabalho pela frente.

— Não seria o xógum?

Canterbury riu.

— Não há a menor possibilidade. Se fosse ele, toda esta área teria sido isolada. Dizem que ele tem cem mil samurais à sua disposição. Mas é alguém importante, talvez um rei.

— O que devemos fazer quando eles passarem?

— Daremos a saudação real — respondeu Struan. — Vamos tirar o chapéu, e gritar três vivas. O que você vai fazer?

— Eu, chéri?

Angelique sorriu, recordando o que o pai lhe dissera antes de deixar Hong Kong, a caminho de Iocoama:

— Encoraje o jovem Malcolm Struan, mas com todo cuidado, minha querida. Eu já o fiz, discretamente. Ele daria um maravilhoso marido para você, e foi por isso que concordei com esse passeio a Iocoama, sem acompanhante, desde que ele a escolte, em um dos seus navios. Daqui a três dias você completará dezoito anos, tempo de casar. Sei que ele tem apenas vinte anos, é jovem para você, mas é inteligente, o filho mais velho, vai herdar a Casa Nobre dentro de um ano, ou por aí... corre o rumor de que seu pai, Culum, o Tai-pan, está muito mais doente do que a companhia admite publicamente.

— Mas ele é britânico — comentara Angelique, pensativa. — E você odeia os britânicos, papai, diz que todos devemos odiá-los. Não é isso mesmo?

— É, sim, minha querida, mas não publicamente. A Inglaterra é o país mais rico do mundo, o mais poderoso, e na Ásia eles são os reis, e Struan a Casa Nobre... Richaud Frères é uma companhia pequena. Teríamos imensos benefícios se recebêssemos seus negócios franceses. Faça essa sugestão a ele.

— Oh, papai, eu não poderia, pois isso seria... Não poderia, papai.

— É uma mulher agora, não mais uma criança. Deixe-o fascinado, e ele próprio acabará fazendo a sugestão. Nosso futuro depende de você. Muito em breve Malcolm Struan será o Tai-pan, e você poderá partilhar tudo...

Claro que eu adoraria ter um marido assim, pensou ela. Como papai é esperto! E como era maravilhoso ser francês, e, portanto, superior! E é muito fácil gostar de Malcolm, talvez mesmo amá-lo, com seus olhos estranhos, sua jovem aparência. Espero que ele me peça em casamento. Angelique suspirou e voltou a concentrar sua atenção no presente.

— Inclinarei a cabeça, como fazemos no Bois para Sua Majestade, o imperador Luís Napoleão. O que é, Philip?

— Talvez seja melhor voltarmos — sugeriu Tyrer, apreensivo. — Todos dizem que eles são muito desconfiados de nossa proximidade de seus príncipes.

— Isso é bobagem — interveio Canterbury. — Não há perigo, nunca houve um ataque assim... não é como a Índia, África ou China. Como eu disse, os japoneses respeitam as leis. Estamos dentro dos limites do tratado e faremos a mesma coisa de sempre, deixaremos que eles passem, levantando um pouco o chapéu, polidamente, como se deve fazer diante de qualquer potentado, e depois seguiremos nosso caminho. Está armado, Sr. Struan?

— Claro.

— Eu não estou — disse Angelique, um pouco petulante, olhando para os estandartes, agora a apenas cem metros de distância. — Acho que as mulheres também deveriam andar com pistolas, se os homens agem assim.

Todos ficaram chocados.

— Nem é bom pensar nisso. Tyrer?

Contrafeito, Tyrer mostrou a Canterbury sua pequena pistola.

— Foi um presente de despedida de meu pai, mas nunca a disparei.

— Nem vai precisar agora. Só temos de nos preocupar com os samurais isolados, os que andam sozinhos ou aos pares, e que são anti-estrangeiros fanáticos. — Uma pausa e ele acrescentou, sem pensar: — Ou com os ronins. Mas não há motivo de preocupação. Há um ano ou mais que não temos problemas.

— Problemas? — repetiu Angelique. — Que tipo de problemas?

— Nada demais — respondeu Canterbury, não querendo afligi-la, e tentando encobrir o deslize. — Uns poucos ataques, de uns poucos fanáticos, nada importante.

Ela franziu o rosto.

— Mas monsieur Tyrer disse que houve um ataque em massa contra a legação britânica, e alguns soldados foram mortos. Isso não é importante?