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— Eles não o conhecem pessoalmente, senhor.

Mais reverências e depois Jamie ficou sozinho. Absorto em pensamentos, tornou a guardar o cinto com a arma na cômoda. Se eu não lhes vender as armas, Norbert venderá... independente do aspecto moral.

Vargas voltou, bastante satisfeito.

— Uma excelente possibilidade, senhor, mas uma grande responsabilidade.

— Tem razão. Fico imaginando o que o escritório central dirá desta vez.

— É fácil descobrir, senhor, e bem depressa. Não precisa esperar dezoito dias. O escritório central não se encontra lá em cima neste momento?

McFay ficou aturdido.

— Mas é isso mesmo! Eu tinha esquecido. Mas não é fácil pensar no jovem Malcolm como o tai-pan, nosso supremo tomador de decisões.

Passos se aproximaram, correndo, a porta foi aberta.

— Desculpe interromper — disse Nettlesmith, ofegante do esforço, o chapeu ensebado torto na cabeça. — Mas achei que era melhor que soubesse primeiro. Acabamos de receber o aviso de que a bandeira azul de sinalização foi hasteada no mastro da legação... depois desceu, tornou a subir, baixou para meio mastro e assim permaneceu.

Jamie fitou-o com uma expresão de surpresa.

— E o que isso significa?

— Não sei, exceto que meio mastro em geral indica uma morte, não é?

Bastante perturbado, o almirante tornou a focalizar o binóculo no mastro da legação. Os outros homens no tombadilho superior, seus comandantes do resto da esquadra, Marlowe, o general, o almirante francês e Von Heimrich igualmente preocupados, Seratard e André Poncin apenas simulando. Quando o vigia dera o alarme, meia hora antes, todos saíram apressados para o tombadilho, deixando a mesa do almoço. Com exceção do ministro russo, que dissera:

— Se querem esperar no frio, tudo bem, mas não contem comigo. Quando vier a notícia da praia, sim, não ou guerra, podem me chamar, por favor. Se iniciarem o bombardeio, eu me juntarei a vocês...

Marlowe observava a carne que se espremia por cima do colarinho do almirante, desprezando-o, e desejando estar em terra com Tyrer, ou a bordo de seu próprio navio, o Pearl. Ao meio-dia, o almirante substituíra o comandante temporário por um estranho, um certo tenente Dornfild, ignorando seu conselho. O velho miserável, olhe só como ele se mexe, pomposo, com seu binóculo... todo mundo sabe que é muito caro, entregue apenas a almirantes. O desgraçado...

— Marlowe!

— Pois não, senhor.

— É melhor descobrirmos o que está acontecendo. Trate de desembarcar... não, preciso de você aqui! Thomas, quer fazer a gentileza de enviar um oficial à legação? Marlowe, providencie um sinaleiro para acompanhar o destacamento.

No mesmo instante, o general sacudiu o polegar para um ajudante-de-ordens, que se afastou apressado, seguido de perto por Marlowe. Seratard aconchegou-se em seu casaco grosso contra o vento frio.

— Receio que Sir William tenha se metido numa enrascada.

— Lembro que já expôs suas opiniões esta manhã — cortou o almirante, em tom brusco.

A reunião com os ministros que ele convocara naquela manhã fora tumultuada e não trouxera qualquer solução, a não ser a sugestão do conde Zergeyev: o uso imediato e maciço da força.

— O que não dispomos no momento, meu caro conde — ressaltara o almirante —, se for necessário acompanhar o bombardeio com um desembarque para capturar a cidade e os arredores.

Ketterer comprimiu os lábios e lançou um olhar furioso para Seratard, a aversão mútua ostensiva.

— Tenho certeza que Sir William encontrará uma solução, mas devo dizer, com toda franqueza, que se nossas cores fossem atacadas, Iedo desapareceria em fogotum!

— Concordo — disse Seratard. — Uma questão de honra nacional!

O rosto de Von Heimrich assumiu uma expressão dura.

— Os japoneses não são estúpidos... como algumas pessoas. Não vamos acreditar que ignorem a força com que contamos agora.

O vento aumentou de intensidade de repente, fazendo ranger algumas cordas, o mar se tornou mais cinzento, as nuvens escureceram. Todos os olhos desviaram-se para uma linha preta de tempestade no horizonte, a leste. A tempestade se aproximava da terra, ameaçando o ancoradouro exposto.

— Marlowe, mande um... Marlowe! — berrou o almirante.

— Pois não, senhor? — indagou Marlowe, voltando depressa.

— Pelo amor de Deus, mantenha-se à distância da minha voz! Mande um aviso a todos os navios: Preparem a saída para o mar. Caso as condições deteriorem rapidamente, estão autorizados a efetuar a ação individual que julgarem necessária, e depois nos reagruparemos em Kanagawa, assim que a situação permitir. E vocês, comandantes, devem voltar logo a seus navios, enquanto o tempo ainda permite.

Todos se retiraram de bom grado, contentes por deixarem a companhia do almirante.

— Também voltarei para meu navio — declarou o almirante francês. — Bonjour, messieurs.

— Também vamos, monsieur almirante — disse Seratard. — Obrigado por sua hospitalidade, almirante Ketterer.

— E o conde Alexi? Ele não veio com vocês?

— Deixe-o dormir. Melhor que o urso russo fique dormindo, n‘est-cepas? Seratard falou com frieza, olhando para Von Heimrich, ambos conhecendo muito bem as manobras secretas da Prússia para conseguir que o czar se mantivesse neutro em qualquer confrontação, a fim de permitir a expansão prussiana pela Europa, atendendo a uma política de Estado ostensiva: a criação de uma nação alemã, integrada pelos povos que falavam alemão, tendo a Prússia na vanguarda.

Marlowe, apressando-se para falar com o sinaleiro, avistou seu navio, o Pearl, ancorado com perfeição e se preocupou com o que poderia lhe acontecer, desejando estar a bordo e no comando. Apreensivo, ele tornou a olhar para o mar, avaliando a linha da tempestade, as nuvens escuras, o cheiro e o gosto da maresia no vento. Desgraçado de almirante, pensou ele.

Na sala de audiência da legação, Sir William, ladeado por um oficial escocês, Phillip Tyrer e os guardas, sentava diante dos três emissários japoneses, que também sentaram, sem a menor pressa, com seus guardas postados por trás: o ancião de cabelos grisalhos, Adachi, o daimio de Mito; o falso samurai, Misamoto, o pescador; e um alto funcionário do Bakufu, baixo e barrigudo, secretamente fluente em holandês, cuja missão secreta era relatar em particular a Yoshi tudo que ocorresse na reunião, em particular o comportamento dos outros dois. Como sempre, nenhum deles usou seu nome correto.

Cinco palanquins haviam chegado, como no dia anterior, com a mesma cerimônia, e com uma quantidade maior de guardas. Apenas três estavam ocupados com o que Sir William achou estranho e perturbador. Isso, depois do incremento da atividade dos samurais durante a noite, em torno do templo e da legação, levara-o a transmitir um sinal de alarme parcial para a esquadra, hasteando a bandeira a meio mastro, com a esperança de que Ketterer compreendesse.