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Agora, eram sete contra seis.

Akimoto desvencilhou-se de sua luta e correu para ajudar Hiraga, que avançava contra Anjo e seus três guardas e estava levando a pior. Com uma finta espetacular, Hiraga forçou um dos guardas a se desequilibrar, matou-o, recuou, correu para o lado, a fim de atrair os outros dois samurais, proporcionando a Akimoto a abertura de que precisava para liquidar Anjo.

Foi nesse instante que soou um grito de advertência. Vinte guardas do castelo contornaram a curva no caminho, a cinqüenta metros de distância, e corriam em socorro a Anjo. Uma hesitação mínima de Akimoto deu a um guarda o tempo necessário para aparar o golpe violento que teria matado Anjo, permitindo-lhe fugir na direção dos reforços. Agora, os shishi se encontravam em total inferioridade numérica.

Não havia a menor possibilidade de matar Anjo! Nem de superar os oponentes!

— Recuar! — berrou Hiraga.

Como um só homem, a manobra ensaiada muitas vezes, Akimoto e os outros quatro remanescentes desvencilharam-se de seus duelos e correram de volta pelo portão destruído, Hiraga por último... e o jovem bastante ferido, Jozan, cambaleando atrás. Por um instante, os guardas ficaram confusos. Mas logo se recuperaram e partiram em perseguição, juntos com os reforços, enquanto alguns samurais interceptavam Jozan, que os manteve a distância, a espada levantada, girando, o sangue escorrendo do ferimento no flanco.

Akimoto seguiu na frente da retirada desordenada, através do palácio em ruínas, o caminho de fuga definido por vários reconhecimentos. Hiraga era a retaguarda, o inimigo se aproximando. Ao alcançar a primeira barricada, onde Gota esperava em emboscada, para apoiá-lo, Hiraga parou de repente, e os dois partiram para o contra-ataque, golpeando com a maior ferocidade, ferindo mortalmente um homem, obrigando outro a bater em retirada e derrubando um terceiro. Eles tornaram a fugir, no instante seguinte, levando o inimigo cada vez mais pelo labirinto.

Quase tropeçando, correram pela estreita abertura no muro meio queimado, onde Akimoto e outro homem esperavam, numa segunda emboscada. Sem hesitação, os dois liquidaram o primeiro atacante, gritando “Sonno-joi”, enquanto os demais, surpresos com o ataque súbito, pararam para se reagrupar. Quando soltaram seu grito de batalha, passaram por cima do cadáver do companheiro e saíram no outro lado da abertura, Akimoto, Hiraga e os outros shishi não mais podiam ser vistos, em parte alguma.

Os samurais espalharam-se e iniciaram uma busca meticulosa.enquanto o céu se enchia de nuvens escuras, ameaçadoras.

Na frente do portão em ruínas, Anjo estava agora cercado por guardas. Cinco dos seus homens haviam sido mortos, dois se achavam gravemente feridos. Os dois shishi mortos já haviam sido decapitados. Um jovem shishi se encontra estendido no chão, impotente, uma perna quase cortada, a segurá-la em agonia tentando impedir que se separasse do corpo. Jozan se encolhia contra um muro.

A chuva começou a cair. O samurai parado diante do jovem tornou a perguntar:

— Quem é você? Qual é o seu nome? Quem o mandou? Quem é seu líder-

— Já disse, sou um shishi de Choshu, Toma Hojo. Eu era o líder. Ninguém me mandou. Sonno-joi!

— Ele está mentindo, Sire — declarou um oficial, ofegante.

— Claro que está — disse Anjo, furioso. — Mate-o.

— Respeitosamente, solicito permissão para cometer seppuku.

— Mate-o!

O oficial, enorme, parecendo um urso, deu de ombros e avançou para o jovem. De costas para o ancião, ele sussurrou:

— Tenho a honra de agir como seu representante. Estique o pescoço.

A espada zuniu pelo ar, enquanto ele desfechava o golpe único. Formalmente, levantou a cabeça pelo topete, mostrando-a a Anjo.

— Eu vi — disse Anjo, seguindo o ritual correto, ao mesmo tempo em que sufocava de raiva por aqueles homens terem ousado atacá-lo, terem ousado deixá-lo apavorado, a ele, o chefe do roju! — E agora, aquele... ele também é um mentiroso. Mate-o!

— Com todo respeito, solicitou que ele tenha permissão para cometer seppuku.

Anjo já ia gritar que o oficial tinha de matar o assassino em potencial brutalmente ou cometer seppuku ele próprio, mas sentiu o súbito antagonismo coletivo dos samurais ao seu redor. O medo habitual dominou-o. Em quem posso confiar? Apenas cinco daqueles homens eram seus guardas pessoais.

Ele fingiu considerar o pedido. Quando conteve a fúria, acenou com a cabeça, virou-se e se encaminhou para os portões do castelo, sob a chuva crescente. Seus homens o acompanharam, enquanto os demais circulavam Jozan.

— Pode descansar por um momento, shishi — disse o oficial, gentilmente, passando a mão pelo próprio rosto, para remover a água da chuva. — Dêem-lhe um pouco de água.

— Obrigado.

Jozan se preparara para aquele momento desde que, com Ori, Shorin e os outros, jurara “Honrar o imperador e expulsar os estrangeiros”. Concentrando as forças que lhe restavam, ficou de joelhos e descobriu, horrorizado, que estava com medo de morrer. O oficial percebeu o terror, já esperava por isso. Adiantou-se no mesmo instante, agachou-se ao lado de Jozan.

— Tem um poema de morte, shishi? Pois recite-o para mim. Agüente firme. Não fraqueje agora. É um samurai e este é um dia tão bom quanto outro qualquer.

A voz era suave, para encorajar o jovem, fazer com que as lágrimas cessassem.

— Do nada para o nada, uma espada corta seu inimigo, uma espada corta o céu. Solte o seu grito de batalha, e viverá para sempre. Diga: Sonno-joi... de novo...

Durante todo o tempo, ele estivera se preparando. Com um movimento súbito e ágil, levantou-se, tirou a espada da bainha... e despachou o jovem para a eternidade.

— Puxa! — exclamou um de seus homens, com a maior admiração. — Uraga-san, foi um golpe maravilhoso.

— Sensei Katsumata, de Satsuma, foi um dos meus mestres — disse o oficial com a voz um pouco rouca.

Seu coração batia forte, como nunca antes, mas estava satisfeito por ter cumprido seu dever como um samurai. Um dos seus homens levantou a cabeça pelo topete. A chuva se transformou em lágrimas, diluindo as verdadeiras.