-Eu gostava muitíssimo -disse Catherine entusiasticamente. Ela ansiava por isso. Teria uma oportunidade de lhe dizer como lhe estava grata.
Quando Constantin Demiris pousou o auscultador, sorriu para si próprio. «A perseguição começou.»
Jantaram no Ritz. A sala de jantar era elegante e a comida estava deliciosa, mas Catherine estava demasiado excitada para prestar atenção a alguma coisa que não fosse o homem que se sentava à sua frente. Ela tinha tanto para lhe contar,
-Você tem um pessoal de escritório maravilhoso-disse Catherine. 0 Wim é espantoso. Nunca vi ninguém que pudesse.,.
Mas Demiris não estava a prestar atenção às palavras. Estava a estudá-la, pensando como ela era tão bela e tão vulnerável. «Mas eu não devo precipitá-la», decidiu Demiris. «Não, vou fazer o jogo com calma para saborear a vitória. Esta será em tua homenagem, Noelle, e do teu amante.»
-Vaificar muito tempo em Londres?-Catherine estava a perguntar.
-Apenas um ou dois dias. Eu tinha um assunto para tratar. Eraverdade. Mas ele sabia que podiatê-lo resolvido pelo telefone. Não, ele viera a Londres para começar a sua campanha de aproximar Catherine mais dele, de torná-la emocionalmente dependente de si. Inclinou-se para a frente.
-Catherine, já lhe falei do tempo em que trabalhei nos campos de petróleo na Arábia Saudita...?
Demiris levou Catherine a jantar na noite seguinte.
-A Evelyn disse-me que você está a fazer um trabalho óptimo no escritório. Vou dar-lhe um aumento.
-0 senhor tem sido tão generoso-Catherine protestou.-Eu... Demiris olhou-a nos olhos.
-Você não sabe como eu posso ser generoso.
Catherine ficou embaraçada. «Ele está apenas a ser gentilu, pensou ela. «No posso imaginar coisas.
No dia seguinte, Demiris estava pronto para partir. - Gostaria de ir até ao aeroporto comigo, Catherine? - Gostava. Ela achava-o fascinante, quase enfeitiçados. Era divertido e brilhante, e ela sentia-se lisonjeada pela sua atenção. No aeroporto, Demiris beijou Catherine ao de leve no rosto. -Estou feliz porque pudemos passar algum tempo juntos, Catherine.
-Também eu. Obrigada, Costa.
Ela deixou-se ficar a ver o avião dele levantar voo. «Ele é muito especial», pensou Catherine. «Vou sentir saudades dele,» Não havia ninguém que tivesse ficado espantado com a aparente amizade íntima entre Constantin Demiris e o cunhado, Spyros Lambrou. Spyros Lambrou era quase tão rico e poderoso quanto Demiris. Demiris possuía a maiorfrota de cargueiros do mundo; Spyros Lambrou possuía a segunda maior. Constantin Demiris controlava uma cadeia de jornais e linhas aéreas, campos petrolíferos, siderurgias e minas de ouro; Spyros Lambrou tinha companhias de seguro, bancos, quantidades enormes de propriedades imobiliárias e uma fábrica de produtos químicos. Pareciam concorrentes amigos; mais do que isso, companheiros.
-Não é maravilhoso-diziam as pessoas-quedois doshomens mais poderosos do mundo sejam tão amigos?
Na realidade, eles eram rivais implacáveis que se desprezavam. Quando Spyros Lambrou comprouum iate de trintametros, Constantin Demiris de imediato encomendou um iate de 45 metros com quatro diesels G.M., uma tripulação de treze elementos, duas lanchas rápidas e uma piscina de água doce. Quando a frota de Spyros Lambrou atingiu um total de doze petroleiros, com umatonelagem de200 000, ConstantinDemiris aumentou a sua própria frota para vinte e três petroleiros, com uma tonelagem de 650 000. Spyros Lambrou adquiriu uma série de cavalos de corrida, e Demiris comprou uma cavalaria maior para correr contra ele, e consistentemente ganhou. Os dois homens encontravam-se frequentemente, pois desempenhavam funções juntos em comités de caridade, faziam parte da administração de várias corporações, e ocasionalmente frequentavam reuniões de família. Eram exactamente o oposto em temperamento. Enquanto Constantin Demiris tinha vindo da sarjeta e subira a pulso até ao topo, Spyros Lambrou nasceu aristocrata. Era um homem magro e elegante, sempre impecavelmente vestido, com modos corteses e do Velho Mundo. Conseguiu seguir o rasto da sua árvore genealógica até Otto da Baviera, que fora em tempos rei da Grécia. Durante as primeiras sublevações políticas na Grécia, uma pequena minoria, a oligarquia, fez fortunas no comércio, transportes e terras. 0 pai de Spyros Lambrou foi um deles, e Spyros herdara o seu império. No decurso dos anos, Spyros Lambrou e Constantin Demiris levaram por diante a sua charada de amizade. Mas cada um estava convicto de que no fim cada um destruiria o outro, Demiris por causa do seu instinto de sobrevivência, Lambrou por causa do tratamento que o cunhado dava a Melina. Spyros Lambrou era um homem supersticioso. Apreciava a sua sorte na vida, e tudo fazia para não contrariar os deuses. De tempos a tempos consultava médios para pedir orientação. Era assaz inteligente para reconhecer as fraudes, mas houve uma médio que ele achara excepcional, Ela previra o aborto da irmã, o que aconteceria ao casamento, e uma dúzia de outras coisas que vieram a acontecer. Vivia em Atenas. Chamava-se Madame Piris. Constantin Demiris tinha o hábito de chegar aos seus escritórios da Rua Aghiou Geronda todas as manhãs pontualmente às seis horas. Quando os seus rivais começavam a trabalhar, já Demiris conduzira várias horas de negócios com os seus agentes numa dúzia de países. 0 gabinete particular de Demiris era espectacular. A vista era magnífica, com j anelas panorâmicas que punham a cidade de Atenas aos seus pés. 0 pavimento era de granito preto. Nas paredes havia uma colecção de arte cubista, com Légers, Braques, e meia dúzia de Picassos. Havia uma enorme secretária de vidro e uma cadeira-trono de cabedal. Sobre a secretária estava uma máscara da morte de Alexandre o Grande, incrustada em cristal, A inscrição em baixo dizia: <•Alexandros. 0 defensor do homem.» Nesta manhã particular, o telefone privado de Constantin Demiris estava a tocar quando entrou no escritório. Havia apenas meia dúzia de pessoas que tinham acesso a este número. Demiris levantou o auscultador. -Kalimehra.
- Kalimehra.
A voz no outro lado pertencia ao secretário particular de Spyros Lambrou, Nikos Veritos. Parecia nervoso. -Peçoimensadesculpaporestaraincomodá-lo, senhorDemiris. 0 senhor disse-me para ligar quando eu tivesse alguma informação que o senhor pudesse...
- Sim. 0 que é?
-0 senhor Lambrou está a pensar adquirir uma companhia chamada Aurora International. Está cotada na Bolsa de Valores de Nova Iorque. 0 senhor Lambrou tem um amigo na direcção que lhe disse que um importante contrato com o governo vai ser adjudicado à companhia para a construção de bombardeiros. Isto , obviamente, é muito confidencial. As acções sofrerão um grande aumento quando 0 anúncio...
-Não estouinteressado nomercado de acções-ripostouDemiris. -Não volte a incomodar-me a não ser quando tiver algo importante a dizer-me.
-Desculpe-me, senhor Demiris. Eu pensei... Demiris havia desligado.
Às oito horas, quando o assistente de Demiris, Giannis Tcharos, chegou, Constantin Demiris ergueu o olhar da secretária. Há uma companhia na Bolsa de Nova Iorque, Aurora International. Informe
todos os nossos jornais de que a companhia vai ser investigada por motivo de fraude. Utilize uma fonte anónima, mas passe a palavra, Quero que eles insistam na história até as acções baixarem. Depois, comece a comprar até eu ter o controlo.
-Sim, senhor. É só?
-Não. Depois de eu adquirir o controlo, anuncie que os rumores eram infundados. Ah, mais uma coisa. Faça com que a Bolsa de Nova Iorque tenha conhecimento de que Spyros Lambrou comprou as acções baseado em informação dada por alguém lá de dentro.
Giannis Tcharos disse delicadamente:
-Senhor Demiris, nos Estados Unidos, isso é crime punido por lei.
Constantin Demiris sorriu. -Eu sei.
A dois quilómetros de distância, na Praça de Syntagma, Spyros Lambrou trabalhava no seu gabinete. 0 seu local de trabalho reflectia o seugosto ecléctico. 0 mobiliário consistia de antiguidades raras, uma mistura franco-italiana. Três das paredes estavam cobertas com obras de impressionistas franceses. A quarta parede estava toda dedicada a uma colecção de artistas belgas, de Van Rysselberghe a De Smet, Na tabuleta da porta do gabinete exterior podia ler-se: LAMBROU E ASSOCIADOS, mas nunca houvera nenhuns associados. Spyros Lambrou herdara um negócio bem sucedido do seu pai, e com o decurso dos anos transformara-o num conglomerado de implantação mundial. Spyros Lambrou deveria ter sido um homem feliz. Era rico e bem sucedido e gozava de excelente saúde. Mas era-lhe impossível ser completamente feliz enquanto Constantin Demiris fosse vivo. 0 seu cunhado era uma antema para ele. Lambrou desprezava-o. Demiris era polymichanos, um homem fértil em artimanhas, um patife sem moral. Lambrou odiara sempre Demiris pelo forma como tratava a irmã, mas a rivalidade feroz entre eles tinha o seu próprio terrível nexo. Começara dez anos antes, quando Spyros Lambrou almoçava com a irmã. Ela nunca o vira tão excitado.