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- Senhor Demiris, receio que não seja assim tão simples. 0 promotor principal recusa-se...

-Opromotorprincipal é um palerma. Eles não me podem manter aqui dentro. E se pagarmos caução? Eu pago o que eles pedirem. Vassiliki lambeu os lábios nervosamente.

-A caução foi negada. Estive a analisar as provas que a polícia tem contra si, senhor Demiris. São... são bastante prejudiciais. -Prejudiciais ou não... eu não matei a Melina. Estou inocente! 0 advogado engoliu.

- Sim, claro, claro. Tem.., tem alguma ideia de quem possa ter morto a sua mulher?

-Ninguém. A minha mulher suicidou-se. 0 advogado fitou-o.

-Desculpe-me, senhor Demiris, mas não me parece que isso vá constituir uma boa defesa. Vai ter que pensar em algo melhor do que isso.

E, com um coração desfalecido, Demiris sabia que estava certo. Não havia júri no mundo que fosse acreditar na sua história.

Logo pela manhã do dia seólainte, o advogado veio ver Demiris de novo.

-Infelizmente tenho más notícias.

Demiris quase riu em voz alta. Estava numa prisão enfrentando uma sentença de morte, e este idiota estava a dizer-lhe que tivera más notícias. Que coisapodia serpior que a situação em que se encontrava?

- Sim?

-É sobre o seu cunhado.

- 0 Spyros? 0 que é que há com ele?

-Tenho informação de que ele foi à polícia dizer que uma mulher de nome Catherine Douglas ainda se encontra «va. Eu não estou realmente apor do julgamento de Noelle Page e Lorry Douglas, mas...Constantin Demiris já não escutava. Com toda opressão do que estava a acontecer-lhe, esquecera-se totalmente de Catherine. Se a encontrassem e ela falasse, poderiam implicá-lo nas mortes de Noelle e Lorry. Ele já mandara alguém a Londres para tratar dela, mas agora o caso tornara-se repentinamente urgente. Inclinou-se para a frente e agarrou o braço do advogado.

- Quero que mande uma mensagem para Londres imediatamente.

<~Leu a mensagem duas vezes e sentiu os indícios de uma excitação sexual que sempre o atingiam antes de concretizar um contrato para matar. Era como fazer o papel de Deus. Ele decidia quem vivia e quem morria. Estava espantado com o poder que possuía. Se tivesse de fazer isto imediatamente, não haveria tempo para elaborar o outro plano, Teria de improvisar alguma coisa. Simular um acidente. Hoje à noite.»

ARQUIVO CONFIDENCIAL Transcriçâo de Sessâo com Wim Vandeen

A: Como se sente hoje?

W: Bem. Vim de táxi. 0 nome de motorista é Ronal Christie. Chapa de matrícula três-zero-dois-sete-um licença do táxi número três-zero-sete. No caminho passámos portrinta e sete Rovers, um Bentley, dez jaguares, um Mini Minor, seis Austins, um Rolls-Royce, vinte e sete motorizadas e seis bicicletas.

A: Como é que você vai no escritório, Wim?

W: Você sabe.

A: Diga-me.

W: Odeio aquela gente.

A: E a Catherine Alexander?... Wun, e a Catherine Alexander?... Wim?

W: Oh, ela. Ela vai deixar de trabalhar lá.

A: 0 que é que quer dizer?

W: Ela vai ser assassinada.

A: 0 quê? Porque é que diz isso?

W: Ela disse-me.

A: A Catherine disse-lhe que vai ser assassinada? W: Foi a outra.

A: Que outra?

W: A mulher dele.

A: A mulher de quem, Wim?

W: Do Constantin Demiris.

A: Ela disse-te que a Catherine Alexander ia ser assassinada?

W: A senhora Demiris. A mulher dele. Telefonou-me da Grécia.

A: Quem é que vai matar a Catherine?

W: Um dos homens.

A: Está-se a referir a um dos homens que vieram de Atenas? W: Sim.

A: Wim, vamos ter de ficar por aqui. Tenho de sair. W: Certo.

Os escritórios da CorporaçãoHelénica de Comércio encerraram ãs sete horas. Alguns minutos antes das seis, Evelyn e os outros empregados estavam a preparar-se para sair.

Evelyn entrou no gabinete de Catherine.

-0 Milagre da Rua 34 está em exibição no Criterion. Teve críticas excelentes. Queres ir ver hoje à noite?

-Não posso-disse Catherine. -Obrigada, Evelyn. Prometi ao Jerry Haley que ia ao teatro com ele. Eles dão-te muito que fazer, não dão? Está bem. Diverte-te.

Catherine ouviu o barulho dos outros ao saírem. Por fim, houve silêncio. Deu um último olhar pela secretária, certificou-se de que tudo estava em ordem, vestiu o casaco, apanhou a carteira e saiu para o corredor. Estava quase a chegar à porta da frente quando o telefone tocou. Catherine hesitou, pensando se ia atender. Olhou para o relógio; ia chegar atrasada. 0 telefone continuou a tocar. Voltou a correr para a sala e pegou no telefone.

-Estou. Catherine.-Era Alan Hamilton. Ele parecia sem fôlego. - Graças a Deus que te apanhei.

-Aconteceu alguma coisa?

- Tu corres um grande perigo. Parece que alguém está a tentar matar-te.

Ela emitiu um som baixo e lamuriaste. Os seus piores pesadelos estavam a tornar-se verdadeiros. Sentiu-se repentinamente tonta. - Quem?

-Não sei. Mas deixa-te estar aí. Não saias do escritório. Vou buscar-te.

-Alan, eu...

-Não te preocupes, vou jápara aí. Tranca-te. Vai tudo acabarem bem,

A linha desligou-se. Catherine pousou o auscultador lentamente. - Oh, meu Deus! Manas apareceu no corredor. Olhou para o rosto pálido de Catherine e correu para ela.

-Passa-se alguma coisa, Miss Alexander? Voltou-se para ele.

-Alguém.., alguém vai tentar matar-me. Ele estava a olhar para ela embasbacado. -Porquê? Quem... quem poderia fazer uma coisa dessas? -Não tenho a certeza.

Ouviram alguém bater à porta. Atanas olhou para Catherine. -Acha que devo...?

-Não -disse ela de imediato, -Não deixes ninguém entrar, 0 doutor Hamilton está aí a chegar.

A pancada na porta da frente repetiu-se, mais alta.

-Podia esconder-se na cave-Atanas sussurrou.-Ficará mais segura lá.

Ela acenou com a cabeça nervosamente. -Tens razão.

Foram para o fundo do corredor, em direcção à porta que dava para a cave.

- Quando o doutor Hamilton chegar, diz-lhe onde estou. - Não vai ter medo de ficar lá em baixo?

- Não - disse Catherine.

Manas acendeu a luz e foi à frente pelas escadas da cave. -Ninguém a vai encontrar aqui-Atanas assegurou-lhe. -Não faz ideia nenhuma de quem pudesse querer matá-la? ElapensouemConstantinDemirisenosseussonhos.«Elevaimatar-te. Mas isso foi apenas um sonho.~>

- Não tenho a certeza.

Manas olhou para ela e sussurrou: -Eu acho que sei,

Catherine olhou fixamente para ele. - Quem?

-Eu. -Repentinamente na mão dele surgiu uma faca de ponta e mola, que ele empunhou contra a garganta dela.

-Atanas, isto não são horas para brincadeiras... Sentiu a faca pressionar-lhe mais fundo na garganta.

-Já alguma vez leu Encontro em Samarra, Catherine? -Não? Bem, agora é tarde de mais, não ? Fala de umapessoa que tentou fugir à morte. Foi para Samarra e a morte aguardava-a lá. -Isto é a sua Samarra.

Era obsceno ouvir estas palavras aterradoras vindas da boca de um rapaz com ar inocente.

-Atanas, por favor. Tu não podes... Ele esbofeteou-a com força na cara.

-Não posso fazê-lo porque sou um jovem? Surpreendi-a? Isso é porque eu sou um actor brilhante. Sabe porque é que pareço um rapaz? Porque quando eu estava em crescimento não tinha comida que chegasse. Eu vivia do lixo que roubava dos baldes do lixo à noite.

Ele tinha afaca apontada àgarganta dela, encostando-a contra a parede.

-Quando era rapaz, vi os soldados violarem a minha mãe e o meu pai e depois chicotearem os dois até à morte, e depois violaram-me a mim e abandonaram-me pensando que eu estava morto. Empurrava-a cada vez mais para o fundo da cave. -Atanas, eu... nunca te fiz mal nenhum, Eu... Ele deu um sorriso infantil,

-Não é nada pessoal. É negócio. Você vale cinquenta mil dólares, morta.

Foi como se uma cortina tivesse descido à frente dos seus olhos e ela estivesse a ver tudo através de uma névoa vermelha. Uma parte de si estava fora, olhando o que estava a acontecer.

-Eu tinha um plano maravilhoso pensado para si. Mas o patrão está com pressa agora, de forma que teremos de improvisar, não ? Catherine sentia a ponta da faca enterrar-se-lhe no pescoço, Ele desceu a faca e rasgou a parte da frente do vestido. -Belo-disse ele.-Muito belo. Eu estava a planear termos primeiro uma festa, mas como o seu amigo médico está aí a chegar não teremos tempo, pois não? Não sabe o que perde. Eu sou um amante fantástico, Catherine ficou sufocada, mal podendo respirar. Manas meteu a mão no bolso do casaco e tirou uma garrafa de quartilho. Dentro havia um líquido pálido e cor-de-rosa.