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- Claro que você foi enviada do céu para que soubéssemos o que é a beleza.

Melina riu-se.

- 0 senhor é muito lisonjeiro, senhor Demiris. Ele abanou a cabeça.

-Você está para além da lisonja.

-Nada do que eu dissesse poderia fazer-lhe justiça.

Nesse momento o Conde Manos apareceu e interrompeu a conversa. Nessa noite, mesmo antes de adormecer, Melina pensava em Demiris. Ouvira falar dele, claro. Era rico, era viúvo e tinha a reputação de ser um homem de negócios implacável e um mulherengo compulsivo. «Ainda bem que não estou envolvida com ele», pensou Melina.

Os deuses riam-se.

Na manhã seguinte à festa, o mordomo de Melina entrou na sala onde se tomava o pequeno-almoço.

- Chegou uma encomenda para si, menina Lambrou. Foi entregue pelo motorista do senhor Demiris.

- Entregue-ma, por favor.

«Então o Constantin Demiris pensa que me vai impressionar com o dinheiro dele. Bem, vai apanhar um grande desapontamento. Seja o que for que mandou... uma jóia cara, ou uma antiguidade sem preço... vou devolver imediatamente.»

A encomenda era pequena e rectangular, belamente embrulhada. Curiosa, Melina abriu-a. A carta dizia simplesmente:

«Achei que ia gostar disto. Constantin»

Tratava-se de um exemplar encadernado a couro de Toda Raba de Nikos Kazantzakis, o seu autor preferido. Como é que podia ter sabido?

Melina escreveu um bilhete de agradecimento cortês e pensou: «Pronto Na manhã seguinte, chegou novo embrulho. Desta vez era um disco de Delius, o seu compositor favorito. 0 bilhete dizia:

«Talvez queira ouvir esta música enquanto lê Toda Raba.» Desse dia em diante chegavam prendas todos os dias. As flor, s preferidas, o perfume, a música, os livros. Constantin Demiris dera-se ao trabalho de saber quais eram os gostos de Melina, e ela não podia senão sentir-se lisonjeada pela sua atenção. Quando Melina telefonou a agradecer a Demiris, ele disse; - Nada que eu lhe desse lhe faria justiça. «A quantas mulheres dissera ele o mesmo?» -Almoça comigo, Melina? Ia dizer que não, mas depois pensou: «Não faz nenhum mal almoçar com o homem. Ele tem sido muito atencioso.

-Almoço, sim.

Quando disse ao Conde Manos que ia almoçar com Constantin Demiris, ele objectou.

-Para quê, minha querida? Não tens nada a ver com esse homem terrível. Para quê encontrares-te com ele?

-Vassilis, ele tem-me enviado pequenas ofertas todos os dias, Vou dizer-lhe que pare com isso.

E no momento em que Melina dizia isto, pensou: «Eu podia terlhe dito ao telefone. ConstantinDemiris reservara mesa no popularrestaurante Floca na Rua Panepistimiou e estava à espera de Melina quando ela chegou. Ele pôs-se de pé.

-Já cá está. Receava tanto que pudesse mudar de ideia. - Cumpro sempre a minha palavra.

Ele olhou para ela e disse solenemente.

- E eu cumpro a minha. Eu vou casar-me consigo. Melina abanou a cabeça, meio confusa, meio incomodada.

- Senhor Demiris, eu estou comprometida com outra pessoa. - Com o Manos? -Ele acenou uma mão num gesto de rejeição. -Ele não lhe serve.

- Oh, não ? E porquê?

- Informei-me sobre ele. Há loucura na familia dele, ele é hemofílico, procurado pela polícia por causa de uma queixa de índole sexual em Bruxelas, e é um péssimo jogador de ténis.

Melina não pôde deixar de rir, -E você?

-Eu não jogo ténis.

- Compreendo. E por isso eu devo casar consigo?

- Não. Vai casar-se comigo, porque eu vou fazer de si a mulher mais feliz de sempre.

- Senhor Demiris...

Ele cobriu a mão dela com a sua. - Costa.

Ela retirou a mão.

-Senhor Demiris, eu vim hoje aqui para lhe dizer que pare de enviar-me presentes. Não tenciono voltar a vê-lo.

Ele analisou-a por um longo momento.

- Tenho a certeza de que não é uma pessoa cruel. -Espera que não.

Ele sorriu.

- Óptimo. Então não há-de querer ver o meu coração sofrer. - Duvido de que o seu coração sofra assim tão facilmente. Você tem cá uma reputação.

- Ah, isso foi antes de conhecê-la. Há muito tempo que sonho consigo.

Melina riu-se.

- Juro. Quando era jovem, eu costumava ler sobre a família Lambrou. Você era muito rica e eu era muito pobre. Eu não tinha nada. Vivíamos ao deus-dará. 0 meu pai era estivador nas docas de Piraeus. Eu tinha catorze irmãos e irmãs, e tínhamos que lutar por tudo o que queríamos.

Mesmo não o desejando, ficou sensibilizada. - Mas agora você é rico.

- Sou. Não tão rico quanto vou ser, - 0 que é que o tornou rico?

-Afome. Eu estava sempre com fome. Ainda tenho fome. Ela podia ler a verdade nos seus olhos.

- Como é que você.., como é que você começou? - Quer mesmo saber?

E Melina deu por si a dizer. - Quero mesmo saber.

-Quando eu tinha dezassete anos, fui trabalhar para uma pequena companhia petrolífera no Médio Oriente, As coisas não me estavam a correr bem. Uma noite jantei com um jovem geólogo que trabalhava para uma grande companhia. Pedi um bife nessa noite, e ele pediu apenas sopa, e disse que era porque não tinha os dentes de trás e não tinha dinheiro para mandar fazer uma dentadura. Dei-lhe cinquenta dólares para ele comprar dentes novos. Um mês depois telefonou-me a meio da noite para me dizer que acabara de descobrir um novo depósito de petróleo. Ainda não contara ao patrão. De manhã pus-me a pedir emprestado todos os centavos que pude, e à noite eu tinha comprado opções sobre toda a terra em redor da nova descoberta. Veio a ser um dos maiores depósitos de petróleo do mundo. Melina bebia cada uma das suas palavras, fascinada.

-Isso foi o início. Eu precisava de petroleiros para transportar o meu petróleo, por isso, com o tempo adquiri uma frota. Depois, uma refinaria. Depois uma companhia área.-Ele encolheu os ombros.Não parou mais.

Só muito tempo depois de estarem casados é que Melina descobriu que aquela história do bife era pura ficção. Melina Lambrou não tivera intenção de voltar a ver Constantin Demiris. Mas por uma série de coincidências cuidadosamente preparadas,Demiris conseguiainvariavelmente aparecer namesmafesta, no mesmo teatro ou acontecimento de caridade em que Melina estava presente. E cada vez mais ela sentia o seu magnetismo poderoso. Ao pé dele, Vassilis Manos parecia-detestava admiti-lo, mesmo a si própria - um chato. Melina Lambrou gostava dos pintores flamengos, e quando Caçadores naNeue, de Bruegel, apareceu no mercado, antes que pudesse comprá-lo, Constantin Demiris enviou-lho de presente. Melina ficou fascinada pelo conhecimento excepcional que ele tinha dos seus gostos.

-Não posso aceitar que me dê um presente tão caro-protestou. -Ah, mas não se trata de um presente. Tem de pagá-lo. Jante comigo esta noite.

E ela acabou por concordar, 0 homem era irresistível.

Uma semana depois Melina rompeu o noivado com o Conde Manos.

Quando Melina contou a novidade ao irmão, ele ficou espantado. -Porquê, em nome de Deus? -perguntou Spyros. -Porquê? - Porque me vou casar com Constantin Demiris,

Ele ficou estupefacta.

-Tu deves estar louca. Não podes casar com o Demiris. Ele é um monstro. Ele vai destruir-te. Se...

-Tu estás enganado a respeito dele, Spyros. Ele é um ser maravilhoso. E nós estamos apaixonados. E...

-Tuestás apaixonada-ripostou ele. -Não sei qual é aintenção a dele, mas não tem nada a ver com amor. Sabes qual é a fama dele com as mulheres? Ele...

- Isso pertence ao passado, Spyros. Eu vou ser a mulher dele. E ele não pôde fazer nada para convencer a irmã a desistir do casamento.

Um mês depois, Melina Lambrou e Constantin Demiris estavam casados. No começo parecia um casamento perfeito. Constantin era divertido e atencioso. Era um amante excitante e apaixonado, e constantemente surpreendia Melina com presentes excessivos e viagens por lugares exóticos. Na primeira noite da lua-de-mel, disse:

-A minha primeira mulher nunca foi capaz de me dar um filho, Agora vamos ter muitos rapazes,

-Nenhuma rapariga?