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A grande cúpula do Observatório da Universidade de Saro, que, majestosa, dominava as encostas verdes do Morro do Observatório, brilhava à luz da tarde. O pequeno disco avermelhado de Dovim já havia desaparecido no horizonte, mas Onos ainda estava alto a oeste, e Trey e Patru, atravessando o céu a leste em uma diagonal precisa, deixavam trilhas reluzentes na superfície da cúpula.

Beenay 25, um rapaz ágil e esguio, de gestos rápidos e precisos, caminhava para lá e para cá no pequeno apartamento na cidade de Saro que compartilhava com a companheira oficial, Raissta 717, recolhendo livros e anotações. Raissta, instalada com conforto no sofá verde escuro, olhou para ele e franziu a testa.

— Vai a algum lugar, Beenay?

— Ao Observatório.

— Mas ainda é muito cedo! Em geral, você só vai lá depois que Onos se põe.

— Hoje tenho um encontro, Raissta.

Ela lhe dirigiu um olhar sedutor. Os dois eram alunos de pós-graduação e tinham quase trinta anos. Ambos eram professores-assistentes, ele de astronomia, ela de biologia. Fazia apenas sete meses que se haviam tornado companheiros oficiais. A relação era recente, mas os primeiros problemas já começavam a aparecer. Beenay fazia seu trabalho à noite, quando apenas os sóis mais fracos estavam no céu. Raissta se sentia mais animada durante o dia, iluminada pelos raios dourados de Onos.

Nos últimos tempos, ele passava cada vez mais tempo no Observatório, as coisas estavam chegando a tal ponto que raramente os dois estavam acordados ao mesmo tempo.

Beenay sabia que a moça estava passando por maus pedaços. Ele também passava por maus pedaços. Entretanto, o estudo que estava fazendo da órbita de Kalgash era um trabalho de extrema complexidade e muito absorvente. Se Raissta tivesse a paciência de esperar mais algumas semanas… um mês ou dois, talvez..

— Não pode ficar mais um pouco esta noite? — perguntou a moça.

Beenay sentiu um aperto no coração. Raissta estava lhe lançando seu olhar de venha-e-vamos-brincar. Não era fácil resistir e, lá no fundo, ele não queria isso. Entretanto, Yimot e Faro estavam à sua espera.

— Já lhe disse. Tenho um…

— …encontro. Pois eu também tenho. Com você.

— Comigo?

— Ontem você me disse que poderia ter algum tempo livre esta tarde. Eu estava contando com isso, você sabe. De modo que reservei algumas horas para nós. Cheguei a fazer o serviço do laboratório de manhã…

A coisa estava ficando cada vez pior, pensou Beenay. Ele lembrou-se de que realmente havia dito alguma coisa a respeito de passar a tarde com Raissta, esquecendo-se por completo do compromisso com os dois jovens estudantes.

Agora, ela fazia beicinho e sorria ao mesmo tempo, um truque que conseguia executar com perfeição. Beenay estava muito tentado a fazer o que ela queria, mas isto implicaria deixar Faro e Yimot esperando por mais de uma hora, o que não seria justo. Esperando por mais de duas horas, provavelmente. Além disso, tinha que admitir que estava ansioso para saber se os cálculos dos dois estudantes estavam de acordo com os seus.

Era uma decisão difíciclass="underline" de um lado, o desejo que sentia por Raissta, do outro a necessidade de conhecer o resultado de uma importante questão científica. E embora tivesse obrigação de chegar na hora para o encontro que havia marcado com Faro e Yimot, percebeu, confuso, que também havia, de certa forma, marcado um encontro com Raissta… um encontro que era não só uma obrigação, mas também um prazer.

— Escute — disse, sentando-se no sofá e segurando a mão de Raissta entre as suas -, eu não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo, posso? Quando falei com você ontem, não me lembrei que Faro e Yimot iriam me ver hoje no Observatório. Mas vou fazer um trato com você. Deixe-me cuidar logo do assunto com eles e em pouco tempo estarei de volta, e teremos a noite inteira para nós. Que tal?

— Esta noite você vai fotografar aqueles asteroides — disse ela, fazendo beicinho de novo, mas desta vez sem sorrir.

— Droga! Não importa. Posso pedir a Thilanda para me substituir. Ou a Hikkinan. Ou a quem estiver lá. Estarei de volta antes de Onos se pôr. Juro.

— Jura?

Ele apertou a mão de Raissta e lhe dirigiu um sorriso malicioso.

— É um juramento que eu tenho todo o interesse em cumprir. OK? Não está zangada?

— Hum…

— Vou me livrar de Faro e Yimot o mais depressa que puder.

— Acho bom. — Enquanto ele voltava a arrumar os papéis, Raissta perguntou: — Afinal, que há de tão importante nesse trabalho com Faro e Yimot?

— Estamos fazendo um estudo das forças gravitacionais.

— Isso não me parece uma coisa muito importante.

— Espero que não seja importante para ninguém — replicou Beenay. — Mas isto é uma coisa que ainda temos que investigar.

— Gostaria de saber o que você quer dizer com isto. Beenay olhou para o relógio e suspirou fundo. Yimot e Faro podiam esperar um minuto ou dois.

— Sabe que ultimamente venho estudando o movimento de Kalgash em torno de Onos, não sabe?

— Claro que sei.

— Muito bem. Há algumas semanas, descobri uma anomalia. Meus resultados não estavam de acordo com a Teoria da Gravitação Universal. Naturalmente, a primeira coisa que fiz foi refazer os cálculos. Acontece que a anomalia não desapareceu. Fiz todas as contas de novo pela terceira vez. E pela quarta. Sempre a mesma anomalia, qualquer que fosse o método utilizado.

— Oh, Beenay, sinto muito por você. Tem trabalhado tanto nisto e agora descobre que suas conclusões estão erradas…

— E se não estiverem?

— Mas você disse…

— No momento, não sei se meus cálculos estão corretos ou não. Tudo indica que estejam, mas ao mesmo tempo é difícil acreditar que não haja um erro. Verifiquei várias vezes, usando métodos diferentes, e obtive sempre o mesmo resultado, o que me assegura que não houve erro na computação. Entretanto, a resposta que venho obtendo é impossível. A única explicação que me ocorre é que estou partindo de uma hipótese falsa e fazendo tudo certo daí em diante. Neste caso, é claro que vou obter a mesma resposta errada, seja qual for o método que use para verificar os cálculos. Posso não estar vendo uma falha no conjunto inicial de postulados. Se você usar o valor errado para a massa do nosso planeta, por exemplo, acabará com a órbita errada, por mais precisos que sejam os cálculos. Está me acompanhando?

— Até agora, estou.

— Foi por isso que propus o problema a Faro e Yimot, sem a explicação exata do que se trata, e lhes pedi para calcular a coisa toda desde o princípio. Eles são rapazes espertos. Tenho certeza de que posso confiar na sua competência matemática. Se chegarem à mesma conclusão que eu, embora estejam abordando o problema de um ângulo que exclui totalmente os erros que eu possa haver cometido em minha linha de raciocínio, terei que admitir que meus resultados estão corretos, afinal.

— Mas seus resultados não podem estar corretos, Beenay. Você não disse que não estão de acordo com a Lei da Gravitação Universal?

— E se a Lei da Gravitação estiver errada, Raissta?

— O quê? O quê?

Raissta olhou para ele, espantada.

— Entende agora qual é o problema? — perguntou Beenay. — Entende por que estou ansioso para saber qual foi a conclusão de Yimot e Faro?

— Não. Não, não estou entendendo.

— Depois a gente continua a discutir o assunto. Prometo.

— Beenay… — fez Raissta, em tom aflito.

— Agora tenho que ir. Mas estarei de volta o mais cedo possível. Prometo!

5

Siferra não perdeu tempo. Pegou uma picareta e uma escova na tenda de equipamentos, que tinha sido entortada pela tempestade de areia, mas ainda estava quase intacta, e começou a escalar a colina de Thombo, seguida com esforço por Balik.