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A Exposição do Centenário de Jonglor ficava em um grande parque a leste da cidade. Era praticamente uma mini cidade e constituía um espetáculo e tanto, pensou Sheerin.

Ele viu fontes, galerias, torres reluzentes, rosa e turquesa, feitas de plástico iridescente e duro como pedra. Grandes pavilhões mostravam tesouros artísticos de todas as províncias de Kalgash, produtos industriais, as últimas maravilhas científicas. Em cada canto havia alguma coisa interessante e agradável à vista. Milhares de pessoas, talvez centenas de milhares, passeavam pelas largas avenidas.

Sheerin tinha ouvido dizer que a Exposição do Centenário de Jonglor era uma das maravilhas do mundo e agora podia constatar que não havia exagero na afirmação. Poder visitá-la constituía um raro privilégio. Ela só acontecia uma vez a cada cem anos, para comemorar o aniversário da fundação da cidade, e ficava aberta durante três anos. Diziam que aquela, a Exposição do Quinto Centenário de Jonglor, tinha sido a maior de todas. De repente, sentiu uma alegria infantil, que não experimentava há muitos anos, por estar ali. Gostaria de ter tempo, mais tarde, para visitar a Exposição.

Entretanto, seu humor mudou abruptamente quando o carro se desviou da Exposição e entrou em uma estrada lateral que levava ao parque de diversões. Ali, como Kelaritan dissera, havia uma área cercada por cordões de isolamento. Os visitantes olharam de cara feia quando Cubello, Kelaritan e Varitta 312 o conduziram na direção do Túnel do Mistério. Sheerin podia ouvi-los resmungar, zangados, um ruído surdo que o deixou nervoso e mesmo um pouco assustado.

Percebeu que o advogado dissera a verdade: aquelas pessoas estavam aborrecidas porque o Túnel tinha sido fechado. Estão com inveja, pensou Sheerin admirado. Sabem que estamos indo para o Túnel e gostariam de poder ir também. Apesar de tudo que aconteceu.

— Vamos por aqui — disse Varitta.

A entrada do Túnel era uma gigantesca estrutura em forma de pirâmide, afunilada dos lados, em uma perspectiva estranha, estonteante. No centro havia um grande portão sextavado, dramaticamente revestido de vermelho e dourado. Estava fechado. Varitta tirou uma chave do bolso e abriu uma pequena porta lateral. Entraram.

Do lado de dentro, as coisas pareciam muito mais prosaicas. Sheerin viu uma série de cercas de metal, destinadas sem dúvida a orientar a fila dos que esperavam para andar no brinquedo. Mais além, havia uma plataforma parecida com a de uma estação de estrada de ferro, com um comboio de pequenos vagões abertos. E mais além… Escuridão.

— Quer assinar aqui, doutor? — pediu Cubello. Sheerin olhou para o papel que o advogado lhe entregara. Estava cheio de palavras impressas com letra miúda.

— Que é isso?

— Uma declaração isentando-nos de responsabilidade. É o formulário padrão.

— Ah, sim. — Sheerin rabiscou o seu nome, sem nem tentar ler o que estava escrito. Você não está com medo, disse para si mesmo. Não há nada a temer.

Varitta 312 colocou um pequeno aparelho em sua mão.

— É um controle remoto — explicou. — O passeio inteiro leva quinze minutos, mas se o senhor se der por satisfeito com o que já viu ou começar a passar mal, basta apertar este botão verde aqui que as luzes se acenderão na mesma hora. O seu carro irá rapidamente para o final do Túnel, fará meia-volta e retornará à estação.

— Obrigado — disse Sheerin -, mas acho que não vou precisar.

— Leve-o, mesmo assim. Não custa nada.

— Pretendo aproveitar ao máximo o passeio — declarou o psicólogo, divertindo-se com a própria bravata. Mas também não preciso ser imprudente, disse para si mesmo. Não pretendia usar o controle remoto, mas seria tolice recusar-se a levá-lo. Não custava nada.

Entrou na plataforma. Kelaritan e Cubello estavam olhando para ele de forma muito expressiva. Podia praticamente ouvir o que estavam pensando: O gordo idiota vai virar geleia lá dentro. Pois que pensassem o que bem entendessem.

Varitta havia desaparecido. Na certa tinha ido ligar o mecanismo do Túnel. Isto mesmo. Lá estava ela, em uma cabine de controle, à direita da plataforma, fazendo sinal de que estava tudo bem.

— Já pode entrar no carro, doutor — disse Kelaritan.

— Está bem. Está bem.

Menos de um em cada dez foi afetado. Provavelmente, essas pessoas eram mais sensíveis à Escuridão do que a maioria. Eu não sou. Sou um indivíduo muito estável.

Entrou no vagão. Havia um cinto de segurança. Afivelou-o, depois de ajustá-lo à cintura com alguma dificuldade. O vagão começou a andar lentamente, muito lentamente.

A escuridão estava à sua espera.

Menos de um em dez. Menos de um em dez. Compreendia o que era a síndrome da Escuridão. Isto, decerto, o protegeria. Embora toda a humanidade temesse instintivamente a ausência de luz, isso não queria dizer que a ausência de luz fosse necessariamente perigosa.

O perigo, Sheerin sabia muito bem, estava na reação das pessoas à ausência de luz. Era preciso manter-se calmo. A escuridão não era mais do que a ausência de luz, uma mudança nas condições externas. Estamos condicionados a temê-la porque vivemos em um mundo em que a escuridão não é natural, em que sempre existe luz, a luz de muitos sóis. Em certos dias, pode haver até quatro sóis no céu ao mesmo tempo; em geral, eles são três; nunca são menos de dois, e a luz de um só deles é suficiente para afastar a Escuridão.

A Escuridão… A Escuridão… A Escuridão!

Sheerin já havia entrado no Túnel. Atrás dele, o último vestígio de luz desaparecera. Viu-se perscrutando o vazio. Não havia nada à sua frente: nada. Um buraco. Um abismo. Uma zona de total ausência de luz. E estava mergulhando de cabeça nesse vácuo.

Ficou instantaneamente coberto de suor. Os joelhos começaram a tremer. A testa latejava. Colocou a mão diante do rosto, mas não conseguiu vê-la. Desista desista desista desista

Não. Não!

Sentou-se com o corpo ereto, os músculos tensos, os olhos bem abertos fitando teimosamente o mar de escuridão no qual mergulhava cada vez mais fundo. Medos primitivos chiavam e borbulhavam nas profundezas da sua alma, mas ele resistiu. Os sóis ainda estão brilhando fora do Túnel, disse para si próprio. Isto é apenas temporário. Daqui a quatorze minutos e trinta segundos, estarei do lado de fora.

Quatorze minutos e vinte segundos. Quatorze minutos e dez segundos. Quatorze minutos…

Mas será que o vagão estava mesmo se movendo? Era difícil dizer. Talvez tivesse parado. O mecanismo que o movimentava era silencioso; não havia pontos de referência.

E se estiver preso? Sentado aqui, no escuro, sem maneira de saber onde estou, o que está acontecendo, quanto tempo está passando? Quinze minutos, vinte, meia hora?

Até o limite de minha sanidade mental ser ultrapassado, e então…

Ainda bem que eu trouxe o controle remoto.

E se ele não funcionar? E se eu apertar o botão verde e as luzes não se acenderem?

É melhor testá-lo. Só para ter certeza…

O Bola é covarde! O Bola é covarde!

Não. Não. Não toque nisto. Uma vez que você acenda as luzes, não poderá apagá-las de novo. Você não deve usar o controle remoto, ou eles saberão… eles saberão…

O Bola é covarde! O Bola é covarde!

De repente, para sua própria surpresa, arremessou o controle remoto na escuridão. Houve um leve ruído quando ele caiu… em algum lugar. Depois, o silêncio voltou.