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— …BUM! Até nunca mais, mundo!

Aversal resmungou. Os magos, sentados sobre ele, decidiram que levantar não seria o mais sensato a fazer àquela altura. Por fim, ele disse:

— Tudo bem. Vocês estão certos. Obrigado. Foi erro meu perder a cabeça assim. Comprometeu minha capacidade de discernimento. E imprescindível manter a calma. Vocês têm toda a razão. Obrigado. Saiam.

Eles arriscaram obedecer. Aversal pôs-se de pé.

— Aquele chimpanzé — vociferou — nunca mais vai comer banana. Peguem…

— Hã… Macaco, Aversal — corrigiu o mais baixo dos magos, incapaz de se conter. — É macaco, entende? Não chimpanzé…

E murchou sob o olhar fixo do outro.

— O que importa? Macaco, chimpanzé, qual é a diferença? — perguntou Aversal. — Qual é a diferença, senhor Zoólogo?

— Não sei — admitiu o mago, submisso. — Acho que chimpanzé é um tipo de macaco.

— Cale a boca.

— Está bem.

— Nanico ridículo — completou Aversal.

Ele se virou e, numa voz nivelada feito lâmina de serra, acrescentou:

— Estou perfeitamente calmo. Minha mente está fria como um mamute pelado. A razão está no comando. Quem de vocês sentou na minha cabeça? Não, não posso ficar com raiva. Não estou com raiva. Basta pensar positivo. Minhas faculdades estão bem ajustadas… alguém duvida?

— Não, Aversal — responderam todos, em coro.

— Então me tragam uma dezena de barris de óleo e toda a lenha que conseguirem achar! Aquele macaco vai fritar!

No telhado da biblioteca — lar de corujas, morcegos e outras criaturas —, ouviu-se um tinido de corrente e o ruído de vidro se partindo com o máximo possível de educação.

— Eles não parecem muito preocupados — lamentou Nijel, ligeiramente insultado.

— Como vou lhe explicar? — perguntou Rincewind. — Quando escreverem a lista dos Grandes Gritos Mundiais de Guerra, “Hã… desculpe” não vai constar dela.

E deu um passo para o lado.

— Não estou com ele — alegou para um guarda que sorria. — Acabei de conhecê-lo por aí. Numa cova.

O mago soltou uma risada.

— Esse tipo de coisa acontece comigo o tempo todo.

Os guardas o encararam.

— Hã… — disse. — Tudo bem.

E voltou para perto de Nijel.

— Sabe usar a espada?

Sem despregar os olhos dos guardas, Nijel vasculhou a bolsa e entregou o livro para Rincewind.

— Li o capítulo três inteiros — informou. — Tem ilustrações.

Rincewind folheou as páginas amassadas. O livro fora tão usado que poderíamos embaralhá-lo, mas o que provavelmente havia sido a capa mostrava a xilogravura meio tosca de um homem musculoso. Os braços pareciam sacos cheios de bolas de futebol, e o sujeito estava mergulhado até os joelhos num mar de mulheres sensuais e vítimas massacradas, trazendo uma expressão presunçosa no rosto. À volta dele havia a legenda: Im appenas 7 dias vou ttornar voccê um herhói bárbbaro!Abaixo, em letra menor, estava o nome: Cohen, o Bárbbaro. Rincewind ficou desconfiado. Havia conhecido Cohen e, embora até certo ponto o velho soubesse ler, jamais conseguira usar a caneta e ainda assinava o nome com um “X”, que em geral soletrava errado. Por outro lado, o herói se deixava atrair por tudo que envolvesse dinheiro.

Rincewind estudou mais uma vez a ilustração e voltou os olhos para Nijel.

— Sete dias?

— Bem, eu leio devagar.

— Ah — disse Rincewind.

— E não me preocupei com o capítulo seis, porque prometi à minha mãe que me limitaria a roubar e saquear até achar a garota certa.

— Então, esse livro ensina a ser herói?

— Ah, ensina. É muito bom. — Nijel dirigiu a Rincewind um olhar preocupado. — É legal, não é? Custou caro.

— Bem, hum. Se é assim, vá à luta.

Nijel endireitou o que, por falta de palavra melhor, chamaremos de ombros, e agitou a espada outra vez.

— E melhor vocês quatro tomarem cuidado — avisou. — Ou… esperem aí.

Pegou o livro de Rincewind e virou rapidamente as folhas, até achar o que estava procurando. Depois continuou:

— E, ou “os ventos frios do destino vão soprar seus esqueletos descorados as legiões do inferno vão afogar sua alma viva em ácido”. Pronto.

Ouviu-se o acorde metálico de quando os quatro homens sacaram as espadas em perfeita harmonia.

A espada de Nijel se agitou. Traçou um complicado número oito no ar, girou sobre o braço, passou de uma das mãos para a outra pelas costas, pareceu contornar o peito duas vezes e se lançou como um salmão.

Uma ou duas das moças do harém aplaudiram. Até os guardas se mostraram impressionados.

— Esse foi o Golpe em Arco Triplo com Lançamento Extra — orgulhou-se Nijel. — Quebrei vários espelhos para aprender. Olhe, eles estão parando.

— Nunca devem ter visto nada igual — murmurou Rincewind, calculando a distância até a porta.

— Acho que não.

— Principalmente a última parte, quando ela fica presa no teto.

Nijel olhou para cima.

— Engraçado — observou. — Isso sempre acontecia lá em casa também. O que será que estou fazendo de errado?

— Nem imagino.

— Nossa. Sinto muito — lamentou Nijel, enquanto os guardas pareciam se dar conta de que o espetáculo havia terminado e se aproximavam para a matança.

— Não se culpe… — disse Rincewind, ao ver Nijel, em vão, estendendo o braço para tentar soltar a lâmina.

— Obrigado.

— Deixe que eu faço isso.

Rincewind considerou o passo seguinte. Na verdade, considerou vários passos. Mas a porta ficava longe demais e, de qualquer maneira, pelo barulho que vinha de fora, as coisas não estavam muito melhor por lá.

Só havia um jeito. Ele teria de tentar mágica.

Ergueu a mão, e dois homens caíram. Ergueu a outra mão, e os outros dois também caíram.

Quando ele começava a se perguntar o que teria ocorrido, Conina surgiu sobre os corpos inertes, negligentemente massageando a lateral da mão.

— Achei que você não vinha mais — reclamou. — Quem é o seu amigo?

Como já foi sugerido, a Bagagem raramente demonstra sentimentos. Ou, pelo menos, qualquer sentimento menos extremo do que a fúria cega. Portanto, fica difícil avaliar sua emoção ao acordar a alguns quilômetros de Al Khali, de tampa para baixo, num rio seco, com as pernas para o ar.

Mesmo alguns minutos após a alvorada, o ar já parecia o sopro de uma fornalha. Depois de balançar um pouco, a Bagagem conseguiu dispor a maioria das pernas na direção certa e ficou se agitando para deixar a menor quantidade possível de pés na areia quente. Ela não estava perdida. Sempre sabia exatamente onde estava. Estava sempre aqui.

Só que todos os outros lugares pareciam temporariamente errados.

Depois de pensar um pouco, a Bagagem virou-se e avançou vagarosamente para um penedo.

Deu alguns passos para trás e se sentou, um tanto intrigada. Era como se estivesse cheia de penas quentes, e então teve a vaga noção do bem que poderiam fazer sombra e água fresca.

Depois de algumas arrancadas em falso, caminhou até o alto de uma duna de areia próxima, que oferecia a vista de centenas de outras dunas.

No seu cerne, a Bagagem estava aflita. Havia sido rejeitada. Havia sido mandada embora. Havia sido desprezada. Também havia bebido orakh suficiente para envenenar um país pequeno. Se tem uma coisa de que os acessórios de viagem necessitam mais do que tudo é de alguém a quem pertencer. Cheia de esperança, a Bagagem partiu cambaleante pela areia ardente.

— Acho que não temos tempo para apresentações — disse Rincewind, enquanto uma parte longínqua do palácio ruía, com um estrondo que fez o chão tremer. — É hora de…