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Era nada menos que magistral. E se estava tão boa agora, gutural como o diabo, como não ficaria boa quando ele estivesse em forma novamente? Johnny arreganhou os dentes para Nino e perguntou:

— Está tão boa quanto eu acho?

Nino olhou pensativamente para o seu rosto feliz.

— Está extraordinariamente boa — respondeu — Mas vamos ver como você vai se sair amanhã.

Johnny ficou magoado por Nino se mostrar tão pessimista.

— Seu filho da puta, você sabe que posso cantar assim. Não se preocupe com o dia de amanhã. Eu me sinto otimamente bem.

Mas não cantou mais naquela noite. Ele e Nino levaram as garotas para uma festa, e Tina passou a noite na cama dele, mas Johnny não foi tão bom no amor. A garota ficou um pouco decepcionada. Mas que diabo, a gente não pode fazer tudo bem num só dia, pensou Johnny.

Acordou de manhã com certa apreensão, com um vago terror de que sonhara que a sua voz tinha voltado. Então quando teve certeza de que não fora um sonho, receou que a sua voz sumisse novamente. Foi até a janela e cantarolou um pouco, depois desceu para a sala de estar ainda de pijama. Escolheu uma melodia no piano e depois de algum tempo tentou cantar com ela. Cantou abafadamente, mas não havia dor, nem aspereza em sua garganta, e continuou a cantar. As cordas eram verdadeiras e ricas, ele não precisava forçá-las absolutamente. Ela fluía fácil, fácil, escorria naturalmente. Johnny pensou que os maus tempos tinham passado, a sua voz voltara totalmente agora. E não se incomodava nem um pouco se fracassasse com os filmes, não se incomodava que não tivesse conseguido levantar o pau com Tina na noite anterior, não se incomodava que Virginia o detestasse porque ele era capaz de cantar novamente. Por um momento só teve uma coisa a lamentar. Se a sua voz tivesse voltado quando ele tentava cantar para as filhas, como teria sido formidável, Isso teria sido realmente formidável.

A enfermeira do hotel entrara no quarto empurrando um carrinho carregado de remédios. Johnny levantou-se e olhou fixamente para Nino, que estava dormindo ou talvez morrendo. Sabia que Nino não sentia ciúme por ele ter recuperado a voz. Compreendia que Nino apenas tinha ciúme porque ele se sentia muito feliz por ter recuperado a voz, porque gostava imensamente de cantar. Pois o que era óbvio agora era que Nino não gostava bastante de coisa alguma que o fizesse querer continuar a viver.

CAPÍTULO 27

MICHAEL CORLEONE chegou naquela noite e, por sua própria ordem, não foi recebido no aeroporto. Apenas dois homens o acompanhavam: Tom Hagen e um novo guarda-costas chamado Albert Neri.

O apartamento mais luxuoso do hotel havia sido reservado para ele e seus acompanhantes. À sua espera estavam as pessoas que seria necessário que Michael visse.

Freddie recebeu o irmão com um caloroso abraço. Freddie estava mais forte, com aspecto mais favorável, alegre e elegantemente trajado. Usava uma roupa de seda cinza esquisitamente talhada e acessórios que combinavam com ela. O seu cabelo era cortado a navalha e arrumado tão cuidadosamente quanto o de um galã de cinema, o seu rosto brilhava de tão cuidadosamente barbeado e suas mãos tinham sido devidamente tratadas por uma manicura. Era um homem completamente diferente daquele que embarcara em Nova York quatro anos antes.

Freddie recostou-se na cadeira e examinou Michael carinhosamente.

— Você parece bastante melhor agora que consertou a cara. Sua mulher finalmente conseguiu convencê-lo, hem? Como vai Kay? Quando virá aqui nos visitar?

Michael sorriu para o irmão.

— Você também está com uma ótima aparência. Kay teria vindo desta vez, mas tem um bebê para cuidar e está esperando outro. Além disso, estou aqui a negócio, Freddie, preciso voltar amanhã à noite ou na manhã seguinte.

— Você precisa comer alguma coisa primeiro disse — Freddie. — Temos um grande chefe de cozinha no hotel, você vai saborear a melhor comida que já comeu na sua vida. Vá tomar um banho de chuveiro, mudar de roupa e tudo se acertará depois aqui. Tenho todo o pessoal que você quer à sua disposição, todos eles estarão esperando quando você estiver pronto, terei apenas de chamá-los.

— Vamos deixar Moe Greene para o fim, está bem? — Michael falou prazenteiramente. — Convide Johnny Fontane e Nino para virem comer conosco. E também Lucy e seu doutor. Podemos falar enquanto comemos. — Em seguida, voltou-se para Hagen e perguntou: — Quer acrescentar mais alguém, Tom?

Hagen balançou a cabeça. Freddie recebera-o menos afetuosamente do que a Michael, mas Hagen compreendia. Freddie estava na lista negra do pai e culpava o consigliori de não procurar ajeitar as coisas. Hagen teria feito isso prazerosamente, mas não sabia por que Freddie não estava nas boas graças do pai. Don Corleone não expressara queixas específicas. Apenas dera a perceber o seu desagrado.

Já passava da meia-noite quando se reuniram em torno da mesa especial de jantar posta no apartamento de Michael. Lucy beijou Michael e não fez qualquer comentário sobre o fato de seu rosto parecer bem melhor depois da operação. Jules Segal estudou ousadamente o osso malar consertado e disse a Michaeclass="underline"

— Um bom trabalho. Está bem unido. E o problema do nariz?

— Já foi resolvido — respondeu Michael. — Obrigado por ter ajudado.

As atenções focalizaram-se em Michael à proporção que eles comiam. Todos notaram a sua semelhança com Don Corleone nas maneiras e no modo de falar. De um modo um tanto curioso, ele inspirava o mesmo respeito, a mesma admiração, contudo ele era perfeitamente natural, esforçando-se para deixar todos à vontade. Hagen, como de hábito, ficava em plano secundário. Albert Neri era também muito tranqüilo e discreto. Alegara que não estava com fome e sentara-se numa poltrona perto da porta lendo um jornal local.

Depois que terminaram o jantar, mandaram os garçons embora. Michael falou com Johnny Fontane:

— Ouvi dizer que você recuperou a voz e está cantando tão bem como nunca; você reconquistou todos os fãs. Parabéns.

— Obrigado — respondeu Johnny.

O ator estava curioso para saber exatamente por que Michael queria vê-lo. Que favor lhe pediria?

Michael dirigiu-se a todos em geraclass="underline"

— A Família Corleone está pensando em se mudar aqui para Lãs Vegas. Venderemos todos os nossos interesses no negócio de azeite e nos estabeleceremos aqui. D Corleone, Tom Hagen e eu conversamos muito sobre o assunto e pensamos que aqui é que está o futuro da Família. Isso não quer dizer agora mesmo ou no próximo ano. Pode levar dois, três ou até quatro anos para se acertarem todas as coisas. Mas esse é o plano geral. Alguns amigos nossos possuem uma boa percentagem deste hotel e cassino, de modo que isto será a nossa base fundamental. Moe Greene nos venderá sua participação de modo que toda a organização passará à propriedade total dos amigos de Don Corleone.

O rosto redondo de Freddie mostrava certa ansiedade.

— Mike, você tem certeza de que Moe Greene venderá a sua parte? Ele nunca mencionou nada disso a mim e adora o negócio. Realmente não acredito que ele venderá.

— Far-lhe-ei uma oferta que ele não poderá recusar — respondeu Michael tranqüilamente.

As palavras foram ditas com uma voz normal, embora o efeito fosse enregelante, talvez por ser uma frase preferida de Don Corleone. Michael voltou- se para Johnny Fontane e disse:

— Don Corleone está contando com você para nos ajudar a começar. Já nos explicaram que a diversão será o grande fator para atrair jogadores. Esperamos que você assine um contrato para aparecer cinco vezes por ano, um compromisso que talvez dure uma semana. Esperamos que os seus amigos do cinema façam o mesmo. Você fez um bocado de favores a eles, agora é a sua vez de cobrar.