— Certamente — respondeu Johnny. — Farei tudo pelo meu Padrinho, você sabe disso, Mike.
Mas havia uma fraca sombra de dúvida em sua voz.
— Você não perderá dinheiro no negócio nem tampouco seus amigos — disse Michael sorrindo. — Você adquirirá ações do hotel, e se houver mais alguém que você ache suficientemente importante poderá também adquirir ações. Talvez você não acredite em mim, portanto quero esclarecer que estou falando em nome de Don Corleone.
— Eu acredito em você, Mike — respondeu Johnny apressadamente. — Mas há mais de dez hotéis e cassinos que estão na Faixa agora mesmo. Quando vocês chegarem, o mercado talvez esteja abarrotado, talvez vocês venham muito tarde com toda a concorrência que já existe por aqui.
— A Família Corleone tem amigos que estão financiando três desses hotéis — esclareceu Tom Hagen.
Johnny compreendeu imediatamente que ele queria dizer que a Família Corleone era dona dos três hotéis, com seus cassinos. E que haveria um grande número de ações a serem distribuídas.
— Vou começar a trabalhar nisso — disse Johnny.
Michael voltou-se para Lucy e Jules Segal.
— Devo muito a você — disse ele a Jules. — Ouvi dizer que você quer voltar a cortar gente e que os hospitais não querem deixar que você use as suas instalações e equipamentos por causa daquele velho negócio do aborto. Quero saber de sua própria boca, é isso o que você quer?
Jules sorriu.
— Acho que sim. Mas você não conhece a organização médica. Seja qual for o poder que você tenha, isso nada significa para eles. Receio que você não poderá ajudar-me nisso.
Michael acenou com a cabeça distraidamente.
— Certamente, você tem razão. Mas alguns amigos meus, gente muito conhecida, vão construir um grande hospital em Las Vegas. A cidade precisará dele da maneira que está crescendo e da maneira que está projetada para crescer. Talvez aceitem você na sala de operações se se conversar direitinho com eles. Diabo, quantos cirurgiões tão bons quanto você podem querer vir para este deserto? Ou quase tão bons? Faremos um favor ao hospital. Assim, você pode contar com isso. Ouvi dizer que você e Lucy vão casar, não é verdade?
Jules deu de ombros.
— Assim que eu vir que tenho algum futuro.
— Mike, se você não construir esse hospital, morrerei solteirona — atalhou Lucy em tom de brincadeira.
Todos riram. Todos menos Jules. Este disse a Michaeclass="underline"
— Se eu aceitar tal emprego não me serão impostas quaisquer condições?
— Nada de condições — respondeu Michael friamente. — Tenho uma dívida com você e quero saldá-la.
— Mike, não fique magoado — pediu Lucy brandamente.
Michael sorriu para ela e respondeu:
— Não estou magoado. — Voltou-se para Jules e falou: — Você disse uma grande bobagem. A Família Corleone tem mexido os pauzinhos em seu benefício. Você acha que sou tão estúpido para pedir que você faça coisas que detesta? Mas se eu o pedisse, que é que tinha? Quem diabo jamais moveu um dedo para lhe ajudar quando você estava em dificuldade? Quando ouvi dizer que você queria voltar a trabalhar como um verdadeiro cirurgião, perdi um bocado de tempo para descobrir se eu podia ajudá-lo. Não lhe estou pedindo coisa alguma. Mas pelo menos pode considerar nossas relações como amistosas, e suponho que faria por mim o mesmo que faria por qualquer bom amigo. Esta é a minha condição. Mas você pode recusá-la.
Tom Hagen baixou a cabeça e sorriu. Nem mesmo o próprio Don Corleone faria isso melhor.
Jules ficou vermelho.
— Mike, eu não quis dizer absolutamente isso. Sou muito grato a você e a seu pai. Esqueça o que eu disse.
Michael acenou coma cabeça e respondeu:
— Ótimo. Até o hospital ser construído e começar a funcionar, você será diretor do serviço médico dos quatro hotéis. Forme a sua equipe. O seu salário vai subir também, mas você deve discutir com Tom mais tarde. E, Lucy, quero que você faça uma coisa mais importante. Talvez coordenar todas as lojas que serão abertas nas galerias dos hotéis. O lado financeiro delas. Ou talvez contratando as garotas de que precisarmos para trabalhar nos cassinos, algo como isso. Assim, se Jules não a desposar, você poderá ser uma solteirona rica.
Freddie, enquanto isso, fumava o seu charuto, zangado. Michael virou- se para ele e disse brandamente:
— Sou apenas o moço de recados de Don, Freddie. A sua tarefa ele mesmo lhe dirá, naturalmente, mas tenho certeza de que vai fazer algo muito grande para torná-lo feliz. Todos comentam o serviço formidável que você está fazendo aqui.
— Então por que ele está aborrecido comigo? — perguntou Freddie queixosamente. — Só porque o cassino está perdendo dinheiro? Eu não controlo esse setor, ele está a cargo de Moe Greene. Que diabo quer o velho de mim?
— Não se preocupe com isso — respondeu Michael.
Voltando-se para Johnny Fontane, Michael perguntou.
— Onde está Nino? Eu esperava vê-lo novamente.
Johnny deu de ombros.
— Nino está muito doente. Uma enfermeira está cuidando dele no quarto. Mas o doutor aqui diz que ele precisava ser internado, que ele está procurando se matar.
Michael comentou pensativamente, demonstrando realmente surpresa:
— Nino sempre foi um sujeito verdadeiramente bom. Eu nunca soube que ele tivesse feito alguma coisa repugnante, isto é, alguma coisa para prejudicar alguém. Ele nunca ligou para nada. A não ser para a bebida.
— É verdade — confirmou Johnny. — O dinheiro está rolando, ele poderia arranjar um bocado de trabalho, cantando ou representando nos filmes. Pode conseguir agora cinqüenta mil dólares por filme, e ele rejeita isso. Não dá a mínima importância ao fato de ser famoso. Durante todos os anos em que temos sido companheiros, nunca soube que ele tivesse feito alguma coisa condenável. E o filho da puta está bebendo para morrer!
Jules estava a ponto de dizer algo, quando bateram na porta do apartamento. Ficou surpreso quando o homem sentado na poltrona, mais próximo da porta, não atendeu, mas continuou a ler o seu jornal. Hagen é que foi abri-la. E quase foi jogado para o lado quando Moe Greene entrou a passos largos na sala seguido de dois guarda-costas.
Moe Greene era um bandido bonitão que se tomara famoso como pistoleiro do sindicato do crime no Brooklyn. Entrara no ramo do jogo e fora para o Oeste em busca de fortuna; tinha sido uma das primeiras pessoas a ver as possibilidades de Las Vegas e construíra um dos primeiros cassinos da Faixa. Ainda tinha acessos de fúria homicida e era temido por todo mundo do hotel, não se excluindo Freddie, Lucy e Jules Segal. Sempre ficavam longe dele, quando era possível.
O seu rosto bem talhado estava horrendo agora. Ele disse para Michael Corleone:
— Estive esperando aí para falar com você, Mike. Tenho um monte de coisas para fazer amanhã, por isso pensei que pudesse conversar com você esta noite. Que tal?
Michael Corleone olhou para ele com o que parecia ser um espanto amável.
— Está bem — respondeu.
Depois fez um sinal na direção de Hagen e disse:
— Sirva uma bebida ao Sr. Greene, Tom.
Jules notou que o homem chamado Albert Neri estudava Moe Greene atentamente, não dando a mínima atenção aos dois capangas postados na por ta. Ele sabia que não havia possibilidade de qualquer violência na cidade de Las Vegas. Isso era rigorosamente proibido por ser fatal para o projeto inteiro de transformar Las Vegas no refúgio legal dos jogadores americanos.
Moe Greene disse para os seus guarda-costas:
—Distribua algumas fichas com todas essas pessoas para que possam jogar no cassino.
Evidentemente, ele se referia a Jules, Lucy, Johnny Fontane e o guarda-costas de Michael, Albert Neri.
Michael acenou com a cabeça concordando:
— É uma boa idéia.
Só então foi que Neri se levantou de sua poltrona e se preparou para sair junto com os outros.
Depois das habituais saudações de despedida, ficaram na sala Freddie, Tom Hagen, Moe Greene e Michael Corleone.