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Paulie Gatto odiava trabalhos rápidos, especialmente quando envolviam violência. Gostava de planejar as coisas antecipadamente. E algo como o dessa noite, embora fosse uma coisa insignificante poderia tornar-se um negócio sério se alguém cometesse um erro. Agora, saboreando sua cerveja, ele olhava em volta, vendo como os dois rapazes inexperientes estavam-se saindo com as duas prostitutazinhas no bar.

Paulie Gatto sabia tudo o que se podia saber a respeito desses dois rapazes. Os nomes deles eram Jerry Wagner e Kevin Moonan. Ambos tinham cerca de 20 anos de idade, boa aparência, cabelo castanho, eram altos e de compleição robusta. Ambos deviam voltar para a escola, fora da cidade, em duas semanas, ambos tinham pai com influência política e isso, aliado à classificação escolar, tinha-os até então mantido fora da convocação militar. Ambos estavam também sob sursis por atacarem a filha de Amerigo Bonasera. Eram dois canalhas imundos, achava Paulie Gatto. Fugindo à convocação, violando a liberdade condicional por beber num bar depois da meia-noite, caçando “mariposas”. Rapazes inexperientes... O próprio Paulie Gatto fora dispensado provisoriamente da convocação porque o seu médico forneceu à junta militar documentos provando que o paciente, do sexo masculino, de cor branca, com a idade de 26 anos, solteiro, recebera tratamentos de choques elétricos para curar um distúrbio mental. Tudo falso evidentemente, mas Paulie Gatto sentia que fazia jus a essa isenção militar. Foi arranjada por Clemenza depois que Gatto hesitara a respeito de ingressar no negócio da Família.

Foi Clemenza que lhe dissera que esse trabalho deveria ser prontamente executado, antes de os dois rapazes voltarem para a escola. Por que diabo devia ser feito em Nova York, Gatto ignorava. Clemenza dava sempre ordens extras em vez de comunicar o trabalho. Ora, se essas duas putinhas saíssem agora com os rapazes seria outra noite perdida.

Ele ouviu uma das mulheres rir e dizer:

— Você está maluco, Jerry? Não vou em carro nenhum com você. Não quero acabar no hospital como aquela outra pobre moça.

A sua voz denotava uma satisfação malévola. Isso foi o bastante para Gatto. Terminou de beber sua cerveja e saiu para a rua escura. Perfeito. Já passava da meia-noite. Havia apenas um outro bar que estava com a luz acesa. O resto das casas comerciais se encontrava fechado. O carro-patrulha do distrito se achava “controlado” por Clemenza. Ele estaria longe dali até receber uma chamada pelo rádio e então viria vagarosamente.

Paulie encostou-se no Chevrolet de quatro portas. No assento traseiro encontravam-se sentados dois homens, quase invisíveis, embora fossem muito grandes.

— Agarrem-nos quando eles saírem — ordenou Paulie.

Ele ainda pensava que tudo tinha sido estabelecido muito depressa. Clemenza lhe dera cópias fotográficas do rosto dos dois rapazes fornecidas pela polícia, além da informação sobre o lugar onde os rapazes iam beber toda noite para apanhar as pequenas do bar. Paulie recrutara dois dos homens violentos da Família e apontara-lhes os dois rapazes. Ele também fornecera-lhes instruções. Nada de pancadas no crânio ou na nuca, não deveria haver conseqüências fatais. Fora disso, eles podiam ir tão longe quanto quisessem. Ele lhes havia feito apenas uma advertência.

— Se esses tipos saírem do hospital em menos de um mês, vocês vão voltar a dirigir caminhões.

Os dois homenzarrões estavam saindo do carro. Ambos eram ex-pugilistas que nunca haviam conseguido qualquer sucesso e tinham sido contratados por Sonny Corleone para pequenas transações de agiotagem, de modo que pudessem levar uma vida decente. Eles, naturalmente, se sentiam ansiosos para mostrar sua gratidão.

Quando Jerry Wagner e Kevin Moonan saíram do bar, estavam completamente transtornados, O escárnio das mulheres do bar ferira-lhes sua vaidade de adolescentes. Paulie Gatto, encostado no pára-lama do carro, gritou para eles com uma gargalhada provocadora:

— Ei, Casanovas, essas vagabundas deram o fora em vocês!

Os dois rapazes viraram-se para ele com deleite. Paulie Gatto parecia o tipo perfeito para eles descarregarem a humilhação que tinham sofrido. Cara de bobo, baixo, franzino e atrevido. Avançaram para ele com disposição, mas logo sentiram os braços agarrados por dois homens que os seguraram por trás. No mesmo momento, Paulie Gatto enfiara de mansinho em sua mão direita um soco-inglês especialmente dotado de espigões de ferro. Seu ritmo era bom, ele se exercitava no ginásio três vezes por semana. Socou o rapaz chamado Wagner diretamente no nariz. O homem que segurava Wagner o levantou acima do chão e Paulie girou o braço, atingindo-lhe plenamente a virilha. Wagner ficou bambo e o homenzarrão deixou-o cair no chão. Isso não levou mais de seis segundos.

Em seguida, os dois homens voltaram a atenção para Kevin Moonan que estava tentando gritar. O homem que o segurava por trás fazia isso facilmente com uma enorme mão musculosa. A outra mão passou em torno da garganta de Moonan, a fim de evitar que ele emitisse qualquer som.

Paulie Gatto saltou para dentro do carro e ligou o motor. Os dois homenzarrões continuaram batendo em Moonan cujo rosto era uma massa informe. Faziam isso com assustadora decisão, como se tivessem todo o tempo que quisessem. Não davam socos às tontas, mas em seqüências compassadas, lentas, que levavam todo o peso de seus corpos maciços. Cada golpe resultava num pedaço de carne que se abria. Gatto deu um rápido olhar para o rosto de Moonan. Estava irreconhecível. Os dois homens deixaram Moonan deitado na calçada e voltaram sua atenção para Wagner, que tentava pôr-se de pé e começava a gritar por socorro. Alguém saiu do bar e os dois homens tiveram que “trabalhar” mais depressa agora. Espancaram Wagner, que caiu de joelhos. Um dos homens pegou-lhe o braço e o torceu, depois deu-lhe pontapés na espinha. Ouviu-se um som de algo que se partia e o grito de agonia de Wagner fez com que janelas se abrissem em toda a extensão da rua. Os dois homens “trabalhavam” muito depressa. Um deles mantinha Wagner suspenso, usando as duas mãos em volta da cabeça da vítima como um torno O outro atingia com seu enorme punho o alvo fixo. Outras pessoas saíram do bar, mas nenhuma procurou intervir.

— Vamos embora, chega! — gritou Paulie Gatto.

Os dois homenzarrões saltaram para dentro do carro e Paulie deu a partida. Alguém poderia descrever o carro e ver-lhe o número, mas isso não importava. Era uma placa da Califórnia roubada e havia uma centena de milhares de sedans Chevrolet pretos na cidade de Nova York.

CAPÍTULO 2

TOM HAGEN foi para o seu escritório de advocacia na cidade, na manhã de terça-feira. Ele planejava pôr em dia a sua papelada, a fim de ficar plenamente desimpedido para a reunião com Virgil Sollozzo. Reunião esta de tamanha importância que ele solicitara a Don Corleone a tarde inteira para conversação e preparar-se para a proposta que eles sabiam que Sollozzo ofereceria ao negócio da Família. Hagen desejava ter todos os pequenos detalhes esclarecidos, a fim de poder ir à reunião preparatória de espírito prevenido.

Don Corleone pareceu não se surpreender quando Hagen voltou da Califórnia na terça-feira, tarde da noite, e lhe comunicou os resultados das negociações com Woltz. Ele fizera Hagen descrever todos os detalhes e esboçara uma careta de desagrado quando Hagen lhe contou a história da linda menina e sua mãe. Ele pronunciara infamita, a sua maior palavra de reprovação. Fizera uma última pergunta a Hagen:

— Esse homem tem realmente colhão?

Hagen compreendeu exatamente o que Don Corleone quisera dizer com essa pergunta. Com o decorrer dos anos, ele aprendera que os valores de Don Corleone eram tão diferentes dos da maioria das pessoas que as suas palavras também podiam ter um significado diferente. Tinha Woltz caráter? Tinha ele uma vontade firme? Certamente que sim, mas não era isso o que Don Corleone estava perguntando. Tinha o produtor cinematográfico coragem bastante para não ser blefado? Tinha ele disposição para suportar o grande prejuízo financeiro que o retardamento na produção de seus filmes significaria, o escândalo de ser seu grande astro apontado como viciado em heroína? A resposta seria, outra vez, não. Mas igualmente não era isso o que Don Corleone queria dizer. Finalmente Hagen traduziu a pergunta de modo correto em sua mente. Tinha Jack Woltz colhão para arriscar tudo, para arriscar-se a perder tudo por uma questão de princípio, por uma questão de honra, por vingança?