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— Don Corleone raramente fala pelo telefone. Não quer a sua voz gravada, mesmo dizendo algo completamente inocente. Receia que possam alterar as suas palavras de forma que pareça que está dizendo outra coisa inteiramente diferente. Penso que é este o motivo. De qualquer modo, sua única preocupação é que venha algum dia a ser enquadrado pelas autoridades. Assim, ele não quer dar margem.

Entraram no carro de Johnny e partiram para o aeroporto. Hagen estava pensando que Johnny era um sujeito melhor do que imaginara. Ele já aprendera alguma coisa, e o fato de levá-lo pessoalmente de carro ao aeroporto provava isso. Cortesia pessoal, algo em que o próprio Don Corleone sempre acreditava. E as desculpas que ele apresentara tinham sido sinceras. Ele conhecia Johnny há muito tempo e sabia que as desculpas não tinham sido originadas do medo. Johnny sempre tivera “tutano”. Esse o motivo por que ele sempre encontrara dificuldades, com os seus superiores no cinema e com as mulheres. Ele também era uma das poucas pessoas que não tinham medo de Don Corleone. Ele e Michael eram talvez os dois únicos homens de quem Hagen sabia que se podia dizer isso. Assim as suas desculpas foram sinceras, ele as aceitaria como tal. Hagen e Johnny teriam de ver-se bastante um ao outro nos próximos anos. E Johnny teria de passar pelo teste seguinte, o que provaria quão esperto ele era. Teria de fazer algo para Don Corleone que este jamais pediria que ele fizesse ou insistisse para fazer como parte do acordo. Hagen tinha dúvida sobre se Johnny Fontane era bastante esperto para compreender essa parte da transação.

Depois que Johnny deixou Hagen no aeroporto (Hagen insistiu para que Johnny não o acompanhasse até o avião), voltou para a casa de Virginia. Ela ficou surpresa ao vê-lo de volta. Mas ele queria ficar na casa dela a fim de ter tempo para pensar nas coisas e poder traçar seus planos. Johnny sabia que o que Hagen lhe dissera era extremamente importante, que toda a sua vida estava sendo modificada. Tinha sido outrora um grande artista, mas agora com a idade de trinta e cinco anos ele estava liquidado. Não se enganava a respeito daquilo. Mesmo que ganhasse o prêmio como melhor ator, que diabo poderia significar para ele na melhor das hipóteses? Nada, se não recuperasse a voz. Seria um artista de segunda classe, sem qualquer poder real, sem qualquer substância. Mesmo aquela garota que o havia rejeitado fora delicada e habilidosa e agira com certa esperteza, mas teria sido tão fria se ele realmente estivesse no auge? Agora com Don Corleone fornecendo-lhe a grana ele poderia ser grande como qualquer pessoa em Hollywood. Poderia ser rei. Johnny sorriu. Ele poderia ser até um Don.

Seria interessante morar com Ginny novamente por algumas semanas, talvez por mais tempo. Levaria as meninas a passear todo o dia, talvez tivesse mais alguns amigos. Pararia de beber e de fumar, realmente cuidaria de si mesmo. Talvez sua voz se tornasse forte novamente. Se isso acontecesse, e com o dinheiro de Don Corleone, ele seria invencível. Estaria realmente tão perto de ser um rei ou imperador antigo como era possível na América. E não dependeria mais de ter voz ou de até quando o público gostava dele como artista. Seria um império baseado no dinheiro e o tipo mais especial, mais cobiçado de poder.

Virginia preparou o quarto de hóspedes para ele. Ficou estabelecido que Johnny não usaria o quarto dela, que não viveriam como marido e mulher. Não poderiam ter essa relação nunca mais. E embora o mundo exterior dos colunistas mexeriqueiros e fãs do cinema pusessem a culpa do fracasso do seu casamento exclusivamente nele, de maneira curiosa, entre os dois, ambos sabiam que fora ela a maior causadora do divórcio.

Quando Johnny Fontane se tornou o mais popular cantor e artista de comédias musicais do cinema, nunca lhe ocorreu abandonar a mulher e as filhas. Ele era demasiadamente italiano, demasiadamente antiquado. Naturalmente tinha sido infiel. Isso era impossível evitar em sua profissão, dadas as tentações a que era continuamente exposto. E apesar de ser um sujeito magro de aparência delicada, tinha a paixão inesgotável de muitos tipos latinos franzinos. E as mulheres o deleitavam com suas surpresas. Johnny gostava de sair com uma garota de aparência virginal, meiga e recatada e descobrir-lhe os seios para vê-los tão inesperadamente cheios e exuberantes, libidinosamente provocantes em contraste com o rosto de camafeu. Ele gostava de constatar acanhamento e timidez nas garotas de aspecto sensual que tinham movimentos simulados como jogadores de basquetebol, seduzindo como se já tivessem deitado com uma centena de homens, e então quando ele ficava a sós com elas tinha de lutar durante horas para levá-las até a cama a fim de fazer o serviço e finalmente verificar que eram virgens.

E todos aqueles caras de Hollywood zombavam de sua preferência por virgens. Diziam que isso era um velho gosto carcamano, indiscutível, que quase sempre levava um tempo enorme para fazer uma virgem dar-lhe uma chupada com todas as conseqüências e que depois, geralmente, acabava sendo uma péssima trepada. Porém Johnny sabia que tudo dependia de levar habilidosamente a garota inexperiente. Tinha-se de gozá-la pelo processo normal e, depois, o que poderia ser melhor do que uma garota que estava tendo as suas primeiras sensações sexuais e gostando delas? Era tão bom deflorá-las! Era tão bom fazê-las passar as pernas em torno da gente! As coxas delas tinham cores diferentes, as nádegas também, a pele delas tinha cores diferentes e sombras de branco, castanho e queimado, e quando ele dormiu com aquela garota preta em Detroit, uma garota direita, não uma prostituta, que era filha de um cantor de jazz no mesmo cabaré em que ele trabalhava, ela tinha sido uma das coisas mais agradáveis que ele já tivera. Seus lábios realmente tinham gosto de mel de abelha quente misturado com pimenta, sua pele escura era suculenta, cremosa, e ela era tão meiga como Deus jamais fizera outra mulher igual, e era virgem.

Muitos homens estão sempre falando em chupar isso e aquilo e em outras perversões sexuais, mas ele realmente não apreciava muito tais coisas. Já não gostava tanto de uma garota depois que eles faziam uma dessas anormalidades; isso não o satisfazia plenamente. Ele e a sua segunda mulher finalmente passaram a se desentender porque ela preferia tanto as perversões sexuais a ponto de não querer mais outra coisa, e ele tinha de brigar para trepar normalmente. Ela começou a ironizá-lo e a chamá-lo de quadrado, e espalhou-se a notícia de que ele gozava como uma criança. Talvez fosse por isso que a garota da noite anterior o rejeitara. Bem, para o diabo com tudo, ela não seria uma boa trepada, de qualquer forma. Podiam-se conhecer logo as garotas que realmente gostavam de trepar, as quais eram geralmente as melhores. Especialmente as que não faziam isso há muito tempo. O que ele realmente detestava eram as que haviam começado a trepar aos doze anos de idade e já estavam muito gastas quando chegavam aos vinte anos e fingiam-se de inocentes, e algumas delas eram as mais bonitas de todas e podiam enganar qualquer homem.

Virgínia levou café e bolo para o quarto de Johnny e pôs na mesa comprida ali existente. Johnny contou a ela simplesmente que Hagen o estava ajudando a conseguir crédito para produzir filmes e ela ficou entusiasmada com isso. Ele seria importante novamente. Porém ela não tinha idéia de quão poderoso Don Corleone realmente era, de forma que não entendeu a importância da vinda de Hagen de Nova York. Ele explicou a ela que Hagen o estava orientando no que dizia respeito aos detalhes jurídicos.

Quando terminaram o café, Johnny disse a ela que iria trabalhar aquela noite, dar alguns telefonemas e traçar planos para o futuro.

— Metade de tudo isso será no nome das meninas — confessou-lhe ele.

Virginia respondeu com um sorriso de agradecimento e deu-lhe um beijo, desejando-lhe boa noite, antes de retirar-se do quarto dele.

Havia um prato de vidro cheio de cigarros com seu monograma preferido, e um umedecedor com charutos cubanos pretos, finos corno lápis, na sua escrivaninha. Johnny recostou-se na cadeira e começou a discar o telefone. Sua cabeça estava realmente zumbindo ao máximo. Ele chamou o autor do livro, a novela de grande sucesso, no qual o seu novo filme se baseava. O autor era um sujeito da idade dele que havia subido com dificuldade e tinha agora um nome famoso no mundo literário. Fora para Hollywood esperando ser tratado como figura importante e, como a maioria dos escritores, era considerado um joão-ninguém. Johnny vira a humilhação que ele sofrera uma noite no Brown Derby. O escritor tinha combinado com uma bem conhecida artistazinha de seios grandes um encontro na cidade e possivelmente uma trepada depois. Mas enquanto estavam jantando, a artistazinha deixou o famoso escritor a ver navios porque um cômico de cinema mal vestido chamou-a com o dedo. Isso deu ao escritor a idéia exata sobre quem era realmente importante na hierarquia de Hollywood. Não importava que o seu livro o tivesse feito famoso no mundo inteiro. Uma artistazinha o trocaria pelo mais sujo, mais mal vestido e mais falso figurão do cinema.