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Quando Sonny telefonava para avisar-lhe que ia lá, ela se certificava se havia bastante bebida no apartamento e bastante comida para a ceia e para o breakfast, porque, geralmente, ele só iria embora numa hora adiantada da manhã seguinte. Tanto Sonny como Lucy buscavam sentir o máximo prazer em suas relações. Sonny tinha a sua própria chave, e quando ele entrava, ela se atirava nos seus braços robustos. Eles eram brutalmente primitivos. Durante o primeiro beijo, apalpavam-se reciprocamente, ele a erguia no ar e ela envolvia suas pernas em torno das coxas grossas dele. Amavam-se em pé mesmo, no vestíbulo do apartamento, como recordação do primeiro ato de amor que realizaram juntos, e depois, ele a carregava para o quarto.

Ficavam amando-se na cama. Permaneciam juntos no apartamento, durante dezesseis horas, completamente nus. Ela preparava-lhe grandes pratos. Às vezes, Sonny recebia telefonemas sobre negócios, mas ela nunca prestava atenção às palavras. Estava sempre ocupada, brincando com o corpo dele, acariciando-o, beijando-o, mordendo-o. Quando se levantava para apanhar uma bebida e andava ao lado dela, Lucy não podia deixar de esticar a mão para tocar-lhe o corpo nu, segurá-lo, amá-lo, como se o sexo dele fosse um brinquedo especialmente fabricado, estranho mas inocente, e que provocava os êxtases conhecidos e surpreendentes. A princípio, Lucy se sentia envergonhada desses excessos de sua parte, mas logo verificou que agradavam seu amante, que a sua completa escravização à vontade dele o lisonjeava; Em tudo isso, havia uma inocência animal e, reciprocamente, eram felizes.

Quando o pai de Sonny foi baleado na rua, ela compreendeu, pela primeira vez, que o seu amante podia estar em perigo. Sozinha, em seu apartamento, Lucy não chorou, mas gemeu em voz alta. Não tendo vindo vê-la, por quase três semanas, ela passou a tomar pílulas para dormir, a beber, curtindo a própria angústia. Sentia uma dor física, e seu corpo doía. Quando finalmente Sonny apareceu, ela ficou agarrada ao corpo dele durante quase todo o tempo. Depois, vinha pelo menos uma vez por semana, até ser assassinado.

Lucy soube de sua morte através dos relatos dos jornais e, naquela mesma noite, tomou uma dose maciça de pílulas para dormir. Por algum motivo, as pílulas, em lugar de a matarem, deixaram-na tão doente, que ela saiu cambaleando pelo vestíbulo de seu apartamento e caiu desmaiada em frente à porta do elevador, onde foi encontrada e levada para o hospital. Sua ligação com Sonny não era conhecida por muita gente, assim seu romance mereceu apenas algumas linhas nos tablóides.

Durante sua permanência no hospital, Tom Hagen foi visitá-la e consolá-la. Tom Hagen foi quem lhe arranjou emprego no hotel dirigido por Freddie, irmão de Sonny. Tom também lhe informou que ela receberia uma mesada da Família Corleone, pois Sonny estabelecera isso em seu testamento. Perguntou-lhe se estava grávida, julgando ter sido esse o motivo por que ela tomara as pílulas. Lucy respondeu negativamente. Inquiriu-lhe se Sonny viera vê-la naquela noite fatal, ou telefonara para dizer que iria vê-la. Ela ainda lhe respondeu que não. Sonny não lhe telefonara. Ela sempre esperava por ele, quando acabava de trabalhar. E contou toda a verdade a Hagen.

— Ele foi o único homem que amei realmente — confessara. — Não posso amar mais ninguém.

Ela o viu sorrir, embora também estivesse surpreso.

— Você acha isso tão inacreditável? — perguntou ela. — Não foi ele quem o levou para casa, quando você era menino?

— Sonny era um ser diferente — respondeu Hagen — quando cresceu isso ainda mais se acentuou.

— Não para mim — retrucou Lucy — talvez fosse para as outras pessoas.

Sentia-se ainda muito fraca para explicar como Sonny havia sido apenas gentil com ela. Jamais se mostrava zangado, nem mesmo irritado ou nervoso.

Hagen tomou todas as providências para que ela se mudasse para Las Vegas. Um apartamento alugado a estava esperando. Ele mesmo a levou ao aeroporto e fê-la prometer que, se alguma vez se sentisse solitária, ou se as coisas não corressem bem, telefonaria para ele a fim de ajudá-la como lhe fosse possível.

— Será que o pai de Sonny sabe o que você está fazendo? — perguntou-lhe Lucy hesitante, antes de subir no avião.

— Estou agindo por ele — respondeu Hagen sorrindo — e também por mim mesmo. Ele é antiquado nesse assunto e jamais se colocaria contra a mulher legal do filho. Mas sente que você era apenas uma moça e Sonny devia saber melhor o que estava fazendo. Esse seu negócio de tomar pílulas abalou muita gente.

Ele não explicou por que um homem como Don Corleone achava incrível que uma pessoa pudesse tentar o suicídio.

Agora, após quase 18 meses em Las Vegas, Lucy estava surpresa de ver-se quase feliz. Algumas noites, sonhava com Sonny e, acordando antes do amanhecer, continuava pensando em suas próprias recordações, até adormecer novamente. Desde então não tivera outro homem. A vida em L.as Vegas era boa. Nadava nas piscinas do hotel, velejava no lago Mead e percorria de automóvel o deserto no seu dia de folga. Emagrecera e isso lhe melhorara a silhueta. Ainda era voluptuosa, porém mais americanizada do que no antigo estilo italiano. Trabalhava como recepcionista na seção de relações públicas do hotel e nada tinha a ver com Freddie, embora, quando ele a via, parasse para bater um papinho. Ficou surpresa com a transformação que Freddie sofrera. Tornara-se um conquistador de mulheres, elegantemente vestido, e parecia ter verdadeira vocação para dirigir uma estância de jogo. Controlava a parte do hotel, coisa que geralmente não é feita pelos donos de cassino. Com o verão longo e muito quente, ou talvez em virtude da sua vida sexual mais ativa, emagrecera, e o trajar à moda de Hollywood fê-lo parecer muito jovial.

Seis meses depois, Tom Hagen veio ver como ia indo ela. Lucy recebia um cheque de seiscentos dólares todos os meses, além do seu salário. Hagen explicou que se devia provar que esse dinheiro provinha de alguma fonte; por isso, pediu-lhe que assinasse um documento, outorgando-lhe procuração total, a fim de que ele pudesse encaminhar-lhe a importância adequadamente. Informou-lhe ainda que, por uma questão de formalidade, ela seria possuidora de 5% das ações do hotel em que trabalhava. Ela teria de satisfazer todas as formalidades exigidas pelas leis de Nevada. Todas essas providências seriam tomadas por outras pessoas, a fim de que ela tivesse o mínimo trabalho. Contudo, não deveria discutir com qualquer pessoa nada do que ficara combinado entre eles, sem o consentimento dele. Lucy estaria protegida por todos os meios legais, e o seu dinheiro todo mês estaria garantido. Se as autoridades ou qual quer órgão de fiscalização do governo a interrogassem, simplesmente deveria encaminhá-los para o seu advogado e ninguém a incomodaria mais.

Lucy concordou. Compreendeu o que estava acontecendo, mas não tinha objeções a fazer contra aquilo para que estava sendo usada. Parecia um favor razoável. Mas quando Hagen lhe pediu que mantivesse os olhos abertos com respeito ao hotel, e vigiasse Freddie e o patrão dele, o homem que possuía e dirigia o hotel, como o maior acionista, ela respondeu:

— Ó Tom, você não vai querer que eu espione Freddie, vai?

Hagen sorriu.

— Don Corleone está preocupado com ele. Freddie está sendo companheiro constante de Moe Green e queremos apenas garantir que ele não se envolva em complicações.

Não se interessou em explicar a ela que Don Corleone financiara a construção desse hotel no deserto de Las Vegas não somente para proporcionar um abrigo para o filho, mas também para fincar o pé na porta a fim de realizar operações maiores.

Foi pouco depois dessa entrevista que o Dr. Jules Segal veio trabalhar como médico do hotel. Ele era muito magro, muito bonito e encantador, parecendo muito moço para ser médico, pelo menos para Lucy. Conheceu-o quando lhe nasceu um calombo acima do pulso. Ficou preocupada com isso alguns dias; então uma manhã foi ao conjunto de salas do médico no hotel. Duas coristas estavam na sala de espera, conversando. Elas tinham a beleza loura cor de pêssego que Lucy sempre invejara. Pareciam angelicais.