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— Como é o nome dele? — perguntou Jules.

Fontane respondeu com um fraco tremor de orgulho:

— Tucker, Dr. James Tucker. Que pensa você dele?

O nome lhe era familiar, estando ligado a famosos artistas de cinema, mulheres e a uma caríssima casa de saúde.

— Ele é um homem que se veste muito bem — respondeu Jules arreganhando os dentes.

Johnny agora ficou zangado.

— Você pensa que é melhor médico do que ele?

Jules deu uma gargalhada.

— Você é melhor cantor do que Carmem Lombardo?

Ficou surpreso ao ver Nino Valenti explodir numa gargalhada, batendo a cabeça na cadeira. A piada não fora assim tão boa. Então nas asas dessa gargalhada ele sentiu o cheiro de uísque e compreendeu que já tão cedo da manhã Nino Valenti, fosse lá quem fosse, estava pelo menos meio embriagado.

Johnny arreganhou os dentes para o amigo.

— Ei, você deve rir das minhas piadas, não das dele.

Entrementes, Lucy esticou a mão para Jules e puxou-o para a beira da cama.

— Ele parece um vagabundo, mas é um brilhante cirurgião — afirmou Lucy. — Se ele diz que é melhor do que o Dr. Tucker, então é melhor do que o Dr. Tucker. Ouça-o, Johnny.

A enfermeira entrou e avisou que eles tinham de sair. O médico residente ia fazer certo trabalho em Lucy e precisava ficar a sós com a paciente. Jules achou graça ao ver Lucy virar o rosto de forma que, quando Johnny Fontane e Nino Valenti a beijaram, o fizeram na face e não na boca, embora parecesse que eles esperavam isso. Ela deixou Jules beijá-la na boca e sussurrou-lhe no ouvido:

— Volte esta tarde, por favor.

Ele acenou com a cabeça.

Lá fora no corredor, Nino perguntou-lhe:

— Foi operação de quê? Alguma coisa séria?

Jules balançou a cabeça.

— Apenas um pequeno arranjo nos órgãos femininos. Um caso exclusivamente de rotina, por favor, creia-me. Estou mais interessado do que vocês, pretendo casar com ela.

Eles olharam para Jules com admiração e então este perguntou:

— Como vocês descobriram que ela estava no hospital?

— Freddie nos telefonou e pediu para visitá-la — respondeu Johnny. — Todos nós crescemos no mesmo bairro. Lucy foi dama de honra quando a irmã de Freddie casou.

— Oh! — exclamou Jules.

Ele não contou que conhecia toda a história, talvez porque eles estivessem tão preocupados em proteger Lucy e seu caso de amor com Sonny.

Enquanto caminhavam pelo corredor, Jules disse a Johnny:

— Tenho privilégio aqui de médico visitante, por que você não me deixa examinar a sua garganta?

— Estou com pressa.

— Essa garganta vale um milhão de dólares — explicou Nino Valenti — ele não pode deixar que médicos baratos a examinem.

Jules viu que Nino estava rindo para ele, obviamente o apoiava.

— Não sou um médico barato — respondeu Jules cordialmente. — Eu era o mais brilhante cirurgião jovem e diagnosticador da Costa Leste até que me pegaram num casinho de aborto.

Como ele sabia que aconteceria, isso os fez levarem-no a sério. Admitindo o seu crime, ele inspirou a crença em sua alegação de grande competência. Valenti foi o primeiro a externar a sua confiança.

— Se Johnny não quer utilizá-lo, tenho uma amiga que deseja que você cuidasse dela, contudo não é um caso de garganta.

— Quanto tempo você levará para me examinar? — perguntou Johnny nervoso.

— Dez minutos — respondeu Jules.

Era mentira, mas ele acreditava no processo de dizer mentiras às pessoas. Dizer a verdade e medicina eram coisas que não combinavam, a não ser em extremas emergências, assim mesmo nem sempre.

— Está bem — respondeu Johnny atemorizado e com a voz mais sombria e mais rouca.

Jules requisitou uma enfermeira e um consultório. Não tinha tudo o que ele precisava, mas havia o bastante. Em menos de dez minutos, notou que havia uma excrescência nas cordas vocais, isso foi fácil. Tucker, aquele incompetente filho da puta elegantemente trajado, de uma Hollywood artificial, podia tê-la localizado. Deus meu, talvez o sujeito nem mesmo tivesse licença para clinicar, e se a tivesse devia ser-lhe cassada. Jules não prestava agora qual quer atenção aos dois homens. Pegou o telefone e pediu que o otorrinolaringologista do hospital viesse até a sala em que se encontravam. Depois virou-se e disse para Nino Valenti:

— Acho que você vai ter de esperar muito, é melhor ir embora.

Fontane olhou para ele com absoluta descrença.

— Seu filho da puta, você acha que vai me prender aqui? Você acha que vai se divertir com a minha garganta?

Jules, com um prazer maior do que ele pensaria ser possível, respondeu-lhe olhando-o diretamente entre os olhos.

— Você pode fazer o que bem entender. Você tem uma excrescência nas cordas vocais, na laringe. Se ficar aqui algumas horas, poderemos chegar a uma conclusão, quer ela seja maligna ou não-maligna. Podemos tomar uma decisão quanto a operação ou tratamento. Posso fornecer-lhe toda a história. Posso dar-lhe o nome do maior especialista da América e podemos fazê-lo vir aqui de avião esta noite, à sua custa, sem dúvida, se eu achar que é necessário. Mas você pode sair daqui e procurar o seu amigo charlatão ou suar enquanto resolve consultar outro médico, ou então ser mandado para alguém in competente. Então, se for maligna e crescer muito, eles arrancarão toda a sua laringe ou você morrerá. Ou você pode apenas suar. Fique aqui comigo e resolveremos toda a questão em poucas horas. Você tem alguma coisa importante a fazer?

— Vamos ficar aqui, Johnny, que diabo! — interveio Nino. — Vou até o vestíbulo e telefono para o estúdio. Não contarei nada a eles, apenas que permaneceremos aqui. Depois volto para cá e fico em sua companhia.

Pareceu ser uma tarde muito longa, mas foi compensadora. O diagnóstico do especialista da equipe do hospital foi perfeitamente correto como Jules pôde ver após os exames de raios X e análise de laboratório. No meio dos exames, Johnny Fontane, com a boca embebida de iodo, vomitando o rolo de gaze colocado em sua boca, tentou escapulir. Nino Valenti agarrou-o pelos ombros e obrigou-o a sentar-se novamente na cadeira. Quando estava tudo terminado, Jules arreganhou os dentes para Johnny e disse:

— Verrugas. — Fontane não entendeu. Jules falou novamente, — Apenas algumas verrugas. Nós as arrancaremos exatamente como pele de salsicha. Em poucos meses você estará bom.

Nino deixou escapar um grito, mas Johnny ainda estava de cara feia.

— Será que poderei cantar depois disso, será que afetará o meu canto?

Jules deu de ombros.

— Sobre isso não há garantia. Mas como você não pode cantar agora, que diferença faz?

Johnny olhou para ele com revolta.

— Menino, você não sabe que diabo está dizendo. Você age como se tivesse dando boas notícias a mim, quando o que está falando é que não vou cantar mais. Isso é certo, talvez eu não possa mais cantar?

Finalmente, Jules ficou realmente aborrecido. Procedera como um verdadeiro medico e isso tinha sido um prazer. Fizera um grande favor a esse salafrário e Johnny estava se comportando como se ele tivesse agido erradamente. Jules disse friamente:

— Escute, Sr. Fontane, sou formado em medicina, e você pode muito bem me chamar de médico e não de menino. E eu lhe dei notícias muito boas. Quando eu o trouxe aqui, estava certo de que você tinha uma excrescência maligna na laringe que poderia resultar na extirpação de todo o seu aparelho vocal. Ou que o mataria. Estava preocupado com o fato de que talvez tivesse de lhe dizer que você era um homem morto. E senti-me muito feliz quando tive de dizer apenas “verrugas”. Porque a sua voz de cantor me deu tanto prazer, me ajudou a seduzir garotas quando eu era mais moço e você era um verdadeiro artista. Mas você também é um sujeito muito mimado. Pensa que porque é Johnny Fontane não pode ter câncer? Ou um tumor cerebral que não se pode operar? Ou um colapso cardíaco? Você pensa que não vai morrer nunca? Bem, tudo na vida não é doce música, e se você quer ver uma verdadeira complicação dê uma volta neste hospital e você cantará uma canção de amor sobre verrugas. Assim, deixe de palhaçada e continue a fazer o que realmente deve. O seu Adolphe Menjou médico pode arranjar-lhe o cirurgião indicado, mas se ele tentar entrar na sala de operações, sugiro que você deve mandar prendê-lo por tentativa de homicídio.