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Uma semana após o regresso da lua -de-mel, Webster anunciou em tom de desculpa:

- Vou retomar o trabalho, querida. Tenho numerosas operações atrasadas. Achas que passarás bem o dia sem mim?

- Farei o possível… - redarguiu Eva, secamente.

Ele saía de casa todas as manhãs muito antes de ela acordar, mas deixava tudo preparado para o seu pequeno-almoço. Por outro lado, abriu uma conta bancária em nome da esposa e mantinha -a abastecida com regularidade, o que permitia que Eva gastasse dinheiro sem restrições. Desde que a visse satisfeita, Webster considerava-se feliz. Eva aproveitava a oportunidade para comprar artigos dispendiosos para Rory, com o qual passava quase todas as tardes. Apetecia-lhe permanecer a seu lado o dia inteiro, mas tinha de pensar no marido. Assim, regressava a casa por volta das oito da tarde e já o encontrava na cozinha a contas com o jantar, sem que jamais lhe perguntasse donde vinha.

Durante o ano seguinte, Alexandra e Peter Templeton continuaram a encontrar-se com frequência crescente. Ele

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acompanhava-a, quando visitava o pai na clínica, e o facto contribuía para que ela sentisse a mágoa menos intensa.

Uma noite em que a foi buscar, Templeton verificou que Kate o esperava, e viu-se imediatamente confrontado com uma atitude perscrutadora.

- Com que então é médico, hem? Enterrei uma dúzia deles e ainda ando por cá.

Percebe alguma coisa de negócios?

- Pouco, Mistress Blackwell.

- Pertence a alguma corporação?

- Não.

- Raios! - fungou num gesto de desdém. - Não sabe nada. Precisa de um perito que o ensine a lidar com os impostos. Marcar-lhe-ei uma entrevista com o meu e…

- Agradeço-lhe, Mistress Blackwell, mas sinto-me bem assim.

- Meu marido também era casmurro - Kate voltou-se para Alexandra, que acabava de surgir. - Convida-o para jantar. Tenho de o trabalhar melhor, para que se convença.

Quando saíram, Templeton murmurou:

- Tua avó detesta-me!

- Pelo contrário, gosta de ti - afirmou Alexandra, rindo. - Havias de ouvir como fala às pessoas que lhe desagradam.

- Nem me atrevo a pensar como reagiria se lhe dissesse que tenciono casar contigo!

Olhou-o em silêncio com uma expressão radiosa por um momento e replicou:

- Ficávamos ambas encantadas.

Kate assistira ao desenrolar do romance de Alexandra e Peter Temple ton com particular interesse. Simpatizava com o jovem psiquiatra e acabou por decidir que seria um marido excelente para a neta. Todavia, no fundo, ela era uma calculista e agora, sentada diante de ambos junto da lareira, declarou:

- Devo confessar que fiquei totalmente surpreendida. Na verdade, sempre esperei que Alexandra casasse com um empresário capaz de assumir o comando da Kruger-Brent.

- Não se trata de uma proposta de negócios, Mistress Blackwell. Alexandra e eu queremos casar.

- Por outro lado - prosseguiu Kate, como se não tivesse sido interrompida -, é um psiquiatra, pelo que conhece

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o modo como a mente e as emoções das pessoas funcionam. Talvez dê um bom negociante. Gostava que se envolvesse na companhia. Podia…

- Não - atalhou ele, com firmeza. - Sou médico. Os negócios não me interessam.

- Não se trata de um negócio qualquer, como se lhe propusesse o trespasse de uma mercearia. Você vai entrar para a família e eu preciso de alguém que dirija…

- Lamento - o seu tom era terminante. - Não quero ter nada de comum com a Kruger-Brent. Deverá procurar outra pessoa para isso.

- E tu, que tens a dizer? - Kate virou-se para a neta, com uma expressão de curiosidade.

- Concordo com tudo o que Peter decidir.

- O mundo está cheio de ingratos! No enta nto, é possível que ainda venham a mudar de opinião. Pensam ter filhos?

- Isso é uma questão privada - esclareceu Templeton, rindo. - Palpita -me que gosta de manipular as pessoas e as situações, Mistress Blackwell, mas nós pretendemos viver as nossas vidas sem interferências, e os nossos filhos, se os houver, viverão a deles.

- Nem me passou pela cabeça que fosse de outro modo - afirmou Kate, esboçando um sorriso angelical. - Sempre impus a mim própria a regra de não interferir nas vidas dos outros.

Dois meses depois, Alexandra e Templeton regressavam da lua -de-mel. Ela encontrava-se grávida e, quando se inteirou, Kate reflectiu: “Óptimo. Há-de ser um rapaz!”

Eva, deitada na cama, contemplava Rory, que acabava de sair da casa de banho, desnudo. Tinha um corpo admirável. Ela nunca se cansava do seu contacto.

Suspeitava de que não era a única a experimentar prazer sexual com ele, mas abstinha-se de o interrogar a esse respeito, com receio de que ele se afastasse.

Rory acercou-se da cama, debruçou-se e fez deslizar o dedo em torno dos seus olhos, ao mesmo tempo que observava:

- Estão a aparecer-te algumas rugas, mas ficam-te muito bem.

Cada uma destas palavras cons tituiu uma punhalada, uma lembrança da diferença de idades entre ambos.

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Eram quase nove horas quando Eva entrou em casa e descobriu que Webster assava carne no forno.

- Olá, querida - saudou-a, ao mesmo tempo que lhe depositava um beijo na face. - Preparei um pitéu especial. Adivinha o que…

- Quero que me removas estas rugas, Keith.

- Quais rugas? - inquiriu, pestanejando.

- Estas - volveu ela, indicando a área em redor dos olhos.

- Mas são provocadas pelo riso, querida. Adoro-as.

- E eu detesto -as! - bradou.

- Podes crer que não…

- Livra-me delas! Não é esse o teu modo de vida?

- Sim, mas… - Webster emitiu um suspiro de resignação. - Está bem.

- Quando?

- Dentro de umas seis semanas. De momento tenho…

- Não sou um dos teus malfadados pacientes. Como tua mulher, devo ter primazia.

Amanhã mesmo!

- A clínica não abre aos sábados.

- Manda-a abrir!

- Acompanha-me à sala.

Fê-la sentar diante de uma luz intensa e examinou-lhe o rosto minuciosamente.

De um momento para o outro, transformara-se miraculosamente do marido tímido e subserviente num cirurgião brilhante. Talvez considerasse a operação desnecessária, mas Eva tinha uma opinião diferente. Parecia-lhe vital, pois não suportava a ideia de poder perder Rory.

- Não vejo problema algum - declarou finalmente Webster. - Tratamos disso amanhã.

- Costumo ter uma enfermeira a auxiliar-me - explicou no dia seguinte, quando se dirigiam para a clínica -, mas numa intervenção tão simples não vejo necessidade.

- Já agora, dá também um toque aqui - recomendou Eva, pousando os dedos numa pequena adiposidade no pescoço.

- Sem dúvida, querida. Vou anestesiar-te, para que não sintas o mínimo desconforto.

Uma vez na sala de operações, ela viu-o encher uma seringa hipodérmica e darlhe uma injecção com uma suavidade que quase não lhe permitiu sentir a picada.

De qualquer

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modo, não se importaria que se registasse dor, pois sujeitava-se àquilo por Rory.

Antes de adormecer, evocou o seu corpo escultural e viril, sempre disposto a satisfazer-lhe o apetite.

Quando acordou, encontrava -se deitada num quarto particular da clínica, com o marido sentado à cabeceira da cama.

- Como correu? - perguntou em voz débil.

- O melhor possível - foi a resposta, acompanhada de um sorriso.

Eva inclinou a cabeça com satisfação e voltou a adormecer.

Webster continuava presente, quando tornou a despertar, transcorridas algumas horas.

- Vamos manter as ligaduras por uns dias. Continuarás internada, para receberes assistência mais cuidada.

- Pois sim.

Examinava-a diariamente e exibia invariavelmente uma expressão de agrado devida ao que se lhe deparava.

- Perfeito.