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A refeição era frugaclass="underline" carne de porco assada em quantidade reduzida, três batatas cozidas e salada. Os dois homens conversaram enquanto comiam e Margaret mantinha-se silenciosa.

Quando consumiram tudo o que tinham nos pratos, para o que não foi necessário muito tempo, o holandês proferiu com uma ponta de orgulho:

- O jantar estava excelente, filha - e em seguida, virando-se para Jamie: - Vamos então tratar de negócios?

- Perfeitamente.

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Retirou um longo cachimbo de barro de cima do aparador improvisado, encheu-o do tabaco aromático contido numa pequena bolsa e aproximou-lhe um fósforo aceso, ao mesmo tempo que observava o rapaz com intensidade.

- Os pesquisadores daqui são imbecis. Os diamantes escasseiam e eles abundam. Uma pessoa pode quebrar as costas durante um ano e obter apenas chlenters.

- Desculpe, mas não estou familiarizado com esse termo.

- Diamantes falsos. Sem valor. Está a compreender?

- Sim, senhor. Mas qual é o caminho a seguir?

- Os Grícuas.

- Perdão…

- É uma tribo africana do Norte. Esses fulanos costumam encontrar diamantes enormes e às vezes trazem-mos, para negociarmos - e Van der Merwe baixou a voz em tom cons-piratório. - Sei onde há muitos.

- Porque não vai o senhor mesmo buscá-los?

- Infelizmente, não posso abandonar a loja. Roubavam-me tudo. Preciso de alguém da minha confiança para ir até lá. Quando enco ntrar esse homem, fornecer-lhe-ei todo o equipamento necessário - e fez uma pausa para chupar o cachimbo.

- E hei-de indicar-lhe a localização dos diamantes.

Jamie pôs-se de pé num salto, sentindo o coração palpitar com intensidade.

- Não precisa de procurar mais longe. Sou a pessoa indicada. Garanto-lhe que trabalharei dia e noite - declarou o rapaz com a voz alterada pela excitação. - Heide trazer-lhe mais diamantes do que os que poderá contar.

O holandês estudou-o em silêncio, demoradamente, e, por último, inclinou a cabeça, limitando-se a pronunciar uma palavra:

- Já!

Jamie assinou o contrato na manhã seguinte e verificou que estava redigido em africânder.

- Vou explicar-lhe o conteúdo - disse Van der Merwe.

- Somos sócios e eu contribuo com o capital e você com o trabalho. Partilharemos tudo em partes iguais.

O rapaz fixou o olhar na folha de papel e, no meio do arrazoado de palavras estrangeiras, reconheceu apenas as que indicavam uma quantia: “duas libras”.

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- O que é isto? - perguntou, apontando-as.

- Significa que, além de ficar com metade dos diamantes que encontrar, ganhará duas libras por cada semana de trabalho. Apesar de eu ter a certeza de que estão lá, existe a possibilidade de não os encontrar. Assim, obterá alguma coisa pelo que fizer.

Não havia dúvida de que o homem se mostrava de uma lealdade a toda a prova, e Jamie não pôde deixar de lhe agradecer.

- Agora, tratemos do equipamento - propôs Van der Merwe.

Foram necessárias duas horas para escolher os apetrechos que acompanhariam Jamie: uma pequena tenda, um saco-cama, utensílios para cozinhar, dois crivos, uma picareta, duas pás, três baldes e uma muda de roupa. Também não faltavam um machado, uma lanterna, óleo de parafina, fósforos, sabão, alimentos enlatados, fruta, açúcar, café e sal. Por fim, ficou tudo preparado. O criado negro, Banda, sem proferir palavra, ajudou Jamie a acondicionar tudo, e este último depreendeu que não falava inglês. Margaret, por seu turno, encontrava-se na loja para atender os clientes, sem parecer interessada na presença do rapaz.

- A mula já se encontra lá fora - anunciou Van der Merwe. - Banda ajuda-o a carregar as coisas.

- Muito obrigado.

Consultou um pedaço de papel coberto de algarismos e informou:

- Deve-me cento e vinte libras.

- Como? - Jamie arregalou os olhos, incrédulo. - Mas assinámos um contrato e…

- Wat bedui'di? - a expressão do holandês toldou-se de cólera. - Pensava que lhe oferecia o equipamento e uma mula estupenda, o fazia meu sócio e ainda por cima lhe pagava duas libras por semana? Se tinha em vista obter alguma coisa em troca de nada, bateu à porta errada - e fez menção de começar a recolher os artigos.

- Não, por favor, Mister Van der Merwe! - suplicou o rapaz. - É que não tinha compreendido. Vou dar-lhe o dinheiro! - abriu a bolsa e colocou as economias que lhe restavam em cima do balcão.

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- Assim, está bem - concedeu o outro, após breve hesitação. - Foi um malentendido, hem? Esta cidade está cheia de vigaristas e preciso de conservar os olhos bem abertos.

- Com certeza. Faz muito bem.

Jamie reconhecia que a excitação o impedira de abarcar as cláusulas do contrato, mas agora estava tudo esclarecido. “Tenho sorte em ele me conceder nova oportunidade”, admitiu para consigo.

Van der Merwe levou a mão à algibeira e puxou de um pequeno mapa amarfanhado.

- É nesta região que encontrará as mooi klippe - indicou. - A norte daqui, em Magerdam, na margem setentrional do Vaal.

- Quantos quilómetros são? - perguntou Jamie, sentindo o coração voltar a palpitar com intensidade.

- Aqui, costumamos medir a distância em tempo. Com a mula, deve cobrir o percurso em quatro ou cinco dias. O regresso deve demorar mais, por causa do peso dos diamantes.

- Já! - concordou, com um sorriso.

Quando voltou a encontrar-se nas ruas de Klipdrift, já não era um turista, mas um pesquisador, um prospector a caminho da fortuna. Entretanto, Banda acabara de acondicionar o equipamento e provisões no dorso de uma mula de aspecto frágil e Jamie agradeceu-lhe.

O negro olhou-o fixamente por um momento e afastou-se sem proferir palavra, enquanto o rapaz pegava nas rédeas e murmurava:

- Vamos, companheira. Abriu a caça às mooi klippe para nós. E rumaram ao norte.

Jamie montou o acampamento junto de um ribeiro, ao anoitecer, deu de comer à mula e preparou uma refeição modesta para ele. A noite estava repleta de ruídos estranhos. Soavam grunhidos, uivos e passos de animais selvagens nas imediações. Achava -se desprotegido para os enfrentar, o que lhe provocava um sobressalto cada vez que detectava um som ominoso. Esperava ser atacado a todo o momento e pensou involuntariamente no conforto e na segurança de que desfrutava em casa. Por fim, dormiu sem repousar, os sonhos povoados por leões, elefantes e selvagens empenhados em lhe arrancar das mãos um diamante gigantesco que encontrara.

Ao amanhecer, quando acordou, a mula estava morta.

Capítulo segundo Jamie não conseguia acreditar no que os olhos lhe revelavam e procurou um ferimento no corpo do animal, convencido de que fora atacado durante o sono, mas em vão. Morrera enquanto dormia. “Mr. Van der Merwe vai responsabilizarme pela sua morte”, reflectiu, apreensivo. “Mas quando vir os diamantes, esquecese do resto.”

Não podia voltar para trás. Prosseguiria em direcção a Magerdam, sem a mula. De súbito, ouviu um som no ar e ergueu a cabeça. Abutres gigantescos começavam a descrever círculos no local, o que lhe provocou um estremecimento. Agindo com a maior rapidez possível, recolheu tudo o que se lhe afigurava indispensável e partiu. Cinco minutos depois, quando olhou para trás, viu o animal morto coberto por numerosos abutres e estugou o passo.

Era Dezembro, Verão na África do Sul, e o percurso através da savana, sob o Sol alaranjado, constituía um pesadelo. Jamie iniciara a marcha em Klipdrift dominado por pensamentos eufóricos, mas, à medida que os minutos se convertiam em horas e estas em dias, começava a surgir o espectro do desânimo. Até onde a vista alcançava, a savana monótona estendia-se sob o sol escaldante, parecendo infinita.

Acampava onde descobria um pouco de água e dormia rodeado pelos sons mais sinistros, que todavia já não o aterrorizavam. Representavam a prova de que havia vida naquele inferno tórrido e contribuíam para que se sentisse menos só.