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SUSPEITA-SE DE HOMICÍDIO NA MORTE

DE GEORGE MELLIS. MILIONÁRIO ASSASSINADO.

O tenente Ingram estudou a tabela das marés e das correntes da véspera e, no final, reclinou-se na cadeira, o rosto alterado por uma expressão de perplexidade.

O corpo de George Mellis teria sido arrastado para o largo, se não ficasse preso nas pedras. O que o intrigava era o facto de tudo indicar que provinha de Dark Harbor, local onde aparentemente não estivera.

O detective Nick Pappas seguiu de avião para Maine, com o intuito de trocar impressões com o tenente Ingram.

- Penso que o meu departamento lhes pode ser útil - afirmou, depois de se saudarem. - Disponho de algumas informações interessantes acerca de George Mellis. Eu sei que o caso se desenrolou fora da nossa área de jurisdição, mas se vocês solicitassem a nossa cooperação, não hesitaríamos em a dar.

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Nos vinte anos de serviço de Ingram na Polícia do condado de Waldo, o único momento de excitação que conhecera fora no dia em que um turista embriagado alvejara a tiro a cabeça de um veado, exposta na parede de uma loja de curiosidades. Ora, o assassínio de George Mellis figurava na primeira página de toda a Imprensa, e ele pressentia uma oportunidade de ganhar notoriedade. Com um pouco de sorte, talvez até o transferissem para o departamento de detectives de Nova Iorque. Por conseguinte, murmurou:

- Bem, não sei…

Como se lhe lesse o pensamento, Nick Pappas esclareceu:

- Não pretendemos cobrir-nos de glória com isto. Vai haver forte pressão para deslindar o mistério, e se vocês o conseguissem rapidamente, facilitavam -nos a vida. Eu podia começar, fornecendo os antecedentes da vítima.

Por fim, o tenente Ingram decidiu que não tinha nada a perder.

- De acordo. Ouçamo-los.

Alexandra encontrava-se deitada, sob o efeito de sedativos. O seu espírito recusava-se obstinadamente a aceitar o facto de que o marido fora assassinado.

Ninguém dispunha do mínimo motivo para o matar. A Polícia falava de ferimentos provocados por uma faca, mas equivocava -se, sem dúvida. Só podia ter sido um acidente. “Ninguém lhe desejava a morte… Ninguém lhe desejava a morte…” A droga que o dr. Harley lhe administrara acabou por fazer efeito, e ela adormeceu.

Eva ficou abismada, quando se inteirou de que o corpo de Mellis fora encontrado.

“Mas talvez sirva para reforçar as suspeitas. Ela estava lá, na ilha.”

Kate achava-se sentada a seu lado, no sofá da sala, acabrunhada pelos acontecimentos das últimas horas - Que motivo levaria alguém a assassinar George? - murmurou.

- Não sei, avó - articulou Eva. - Sinto o coração despedaçar-se, ao pensar no desgosto de Alex.

O tenente Ingram interrogava o empregado do terminal do ferry-boat Lincoln ville- Islesboro.

- Tem a certeza absoluta de que nenhum dos Mellis utilizou oferry, sexta-feira à tarde?

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- Não o fizeram no meu turno e perguntei ao colega da manhã, que afirmou a mesma coisa. Só podiam vir de avião.

- E quanto a estranhos?

- Sabe perfeitamente que isso não acontece, nesta altura do ano. Aparecem alguns turistas no Verão, mas em Novembro nunca.

A seguir, Ingram avistou-se com o responsável do aeroporto de Islesboro, que declarou:

- Posso assegurar-lhe que George Mellis não passou por aqui, nessa tarde. Se se dirigiu à ilha, recorreu aoferry.

- Lew diz que não.

- A nado é que não o fez!

- E quanto a Mistress Mellis?

- Essa, sim. Aterrou no seu Beechcraft por volta das dez da noite. Meu filho, Charley, conduziu-a a Cedar Hill.

- Qual era o seu estado de espírito?

- É curioso que me faça essa pergunta. Parecia nervosa como uma colegial a caminho da sua primeira entrevista romântica. Toda a gente reparou. Costuma mostrar-se calma e dirigir uma palavra atenciosa a quem encontra, mas dessa vez estava com uma pressa medonha.

- Só mais uma coisa. Apareceu algum estranho nessa tarde ou noite?

- Não. Apenas as pessoas habituais.

Uma hora mais tarde, o tenente conversava com Nick Pappas pelo telefone.

- O que obtive até agora só serve para aumentar a confusão. Mistress Mellis chegou ao aeroporto de Islesboro no seu avião particular, sexta -feira à noite, por volta das dez horas, mas o marido não a acompanhava, nem apareceu noutro aparelho ou noferry. Na realidade, não existe elemento algum comprovativo de que pôs os pés na ilha em toda a noite.

- Excepto a corrente.

- Exacto.

- Quem o matou deve tê-lo lançado à água de uma embarcação, convencido de que a corrente o arrastaria para o largo. Examinou o Corsair?

- De ponta a ponta. Não apresenta o mínimo sinal de violência ou manchas de sangue.

- Gostava de mandar aí um perito. Importa-se?

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- Não, desde que você não se esqueça do nosso acordo.

- Tenho boa memória. Até amanhã.

Nick Pappas e uma equipa de técnicos apresentaram-se na manhã seguinte e o tenente Ingram acompanhou-os à doca onde o Corsair se encontrava ancorado.

Duas horas mais tarde, o chefe da equipa anunciava:

- Parece que acertámos na mouche. Há algumas manchas de sangue na parte inferior da amurada da popa.

Naquela tarde, o laboratório da Polícia confirmava que as manchas condiziam com o tipo de sangue de George Mellis.

O departamento policial das “meias de seda” de Manhattan desenvolvia azáfama invulgar. Uma série de rusgas a locais suspeitos tivera como resultado a superlotação das celas, repletas de prostitutas, bêbados e tarados sexuais. O ruído e o odor pungente atingiram os ouvidos e as narinas de Peter Temple-ton, quando entrou para falar com o tenente-detective Pappas.

- Olá, Peter. Agradeço a prontidão com que compareceu. Pelo telefone, Pappas dissera: “- Oculta-me elementos importantes, amigo. Apareça no meu gabinete antes das seis, ou mando buscá-lo pela Brigada de Choque.”

Quando a porta se fechou atrás dele, o psiquiatra inquiriu:

- De que se trata?

- Nada mais, nada menos do que de alguém particularmente inteligente. Sabe o que temos nas mãos? Um homem morto que desapareceu de uma ilha onde não pôs os pés.

- Não faz sentido.

- A quem o diz! O empregado do ferryboat e o tipo que explora o aeroporto juram que não viram George Mellis na noite em que desapareceu. A única outra via de acesso a Dark Harbor é por barco. Interrogámos todas as pessoas que alugam embarcações na área, e nada.

- Talvez ele não estivesse em Dark Harbor, nessa noite.

- Os técnicos do laboratório afirmam o contrário. Encontraram indícios de que foi lá, onde vestiu a roupa com que o encontraram morto.

- Mataram-no na casa?

- Não, no iate. Depois, lançaram o corpo pela borda fora. O assassino supôs que a corrente o arrastaria para o largo. Agora, é a minha vez de fazer perguntas. Mellis era seu paciente. Portanto, deve ter-lhe falado na mulher.

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- Que tem ela a ver com o assunto?

- Tem tudo. É a minha suspeita principal.

- Endoideceu! Porque pensa que Alexandra Mellis assassinou o marido?

- Encontrava-se lá e dispunha de um motivo. Chegou à ilha já de noite, com a desculpa incrível de que perdeu tempo no aeroporto errado à espera da irmã.

- Que diz a irmã?

- Que havia de dizer? São gémeas! Sabemos que George Mellis esteve na casa, naquela noite, mas a esposa jura que não o viu. É uma casa enorme, sem dúvida, porém, não a esse ponto. Depois, ela dispensou o pessoal, e quando perguntei porquê, alegou que a ideia foi do marido, impossibilitado de o confirmar ou negar.