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— Bom-dia, chefe. O senhor tinha dito oito e meia.

— Sim, entre, Quarrel. Temos um dia cheio à nossa frente. Já comeu qualquer coisa?

— Já obrigado, chefe. Peixe salgado e um trago de rum.

— Arre! — disse Bond; — é coisa forte, logo assim de manhã!

— Refresca muito, — respondeu Quarrel, imperturbável.

Sentaram-se no alpendre. Bond ofereceu um cigarro a Quarrel, e também acendeu um.

— Hoje — disse ele — vou passar a maior parte do dia em King's House e talvez no Instituto de Jamaica. Não precisarei de você até amanhã de manhã, mas precisaria que você fizesse umas coisas na cidade. Está bem?

— Às ordens, chefe, vá dizendo.

— Primeiro, este nosso carro está "manjado". Temos que nos livrar dele. Vá ao Motta, ou qualquer outra garagem de aluguel, e escolha o mais novo e o melhor dos carros, sem chofer, que possa encontrar. Um carro fechado. Alugue-o por um mês. Está certo? Depois, procure pelas imediações do porto dois homens que se pareçam conosco. Um deles deverá ser capaz de guiar um carro. Compre roupas para eles, semelhantes às nossas, pelo menos da cintura para cima. E o tipo de chapéus que nós poderíamos usar. Diga que nós precisamos que eles levem um carro a Montego amanhã de manhã, pela estrada de Ocho Rios e Spanish Town. Deverão deixá-lo na garagem "Levy". Telefone ao Levy e diga-lhe que o guarde para nós. Compreendeu?

Quarrel sorriu.

— O senhor está querendo tapear alguém...

— Acertou. Você dará dez libras a cada um daqueles homens. Diga que eu sou um ricaço americano e que quero o meu carro levado para Montego por gente respeitável. Dê a entender que sou um pouco pancada. Eles deverão estar aqui às seis e meia, amanhã cedo. Você já estará, então, com o outro carro. Dê um jeito de eles desempenharem bem o seu papel, e mande-os com o "Sunbean", de capota arriada. Ouviu?

— Está bem, chefe.

— Que foi feito daquela casa da Praia Norte em que estivemos da última vez, Beau Desert, no Porto Morgan? Você sabe se está alugada?

— Não saberia dizê-lo, chefe. Fica longe dos lugares freqüentados por turistas, e pedem muito por ela.

— Bem. Vá ao Escritório Granham e veja se pode alugá-la por um mês, ou qualquer outro bangalô na mesma zona. Não se preocupe com o preço. Diga que é para um ricaço americano, Mr. James. Apanhe as chaves, pague o aluguel e diga que eu escreverei para confirmar. Posso telefonar-lhes, se quiserem mais informações. — Bond remexeu no bolso de trás e tirou um grosso maço de notas. Deu metade a Quarrel. — Aqui estão duzentas libras. Creio que dá para tudo. Procure-me, se precisar mais. Você sabe onde me poderá encontrar.

— Obrigado, chefe — disse Quarrel, aturdido pela elevada quantia. Enfiou-a em sua camisa azul e abotoou-a até o pescoço.

— Mais alguma coisa?

— Nada, mas tome cuidado para que não o sigam. Deixe o carro em qualquer lugar, na cidade, e vá a pé a todos esses lugares. E tenha especial cuidado com qualquer chinês que se aproxime de você. — Bond levantou-se e foi até a porta. — Espero você às seis e meia, amanhã. Iremos para a Praia Norte. Pelo que posso imaginar, será essa a nossa base durante algum tempo.

Quarrel assentiu com a cabeça. Sua expressão era enigmática. Disse: "Está bem, chefe," e foi-se pelo corredor.

Meia hora mais tarde, Bond desceu e tomou um táxi até King's House. Não assinou o livro de visitas do Governador no fresco vestíbulo de entrada. Deixaram-no numa antecâmara durante quinze minutos, o tempo suficiente para provar-lhe que ele carecia de importância. Um ajudante de ordens veio então buscá-lo e levou-o ao escritório do Governador, no primeiro andar.

Era uma sala ampla e fresca recendendo a fumaça de charuto. O governador em exercício, num terno creme de tussor, colarinho duro e laço borboleta totalmente inadequados, estava sentado a uma grande escrivaninha de mogno, na qual nada mais havia senão o "Daily Gleaner", o "Times Weekly" e um vaso de botões de hibisco. Suas mãos estavam pousadas à frente. Era um homem de seus sessenta anos, fisionomia vermelha, bastante petulante e viva, e olhos azuis penetrantes. Não sorriu nem se levantou. Disse apenas:

— Bom-dia, senhor... hum!... Bond. Queira sentar-se.

Bond sentou-se na cadeira em frente do Governador e respondeu:

— Bom-dia, Excelência, — e esperou. Um amigo dele, funcionário do Ministério das Colônias, tinha-o avisado de que a recepção seria glacial.

— Ele está quase em idade de se aposentar, — explicara-lhe o amigo. — É um cargo interino. Tínhamos que achar alguém que pudesse assumir as funções de Governador interino, dentro de um prazo muito curto, quando Sir Hugh Foot foi promovido. Foot era um tipo magnífico. Esse nem procura competir com ele. Sabe que tem o cargo por alguns meses, até acharmos quem substitua Foot. Foi preterido quando do preenchimento do cargo de governador-geral da Rodésia. A única coisa que ele quer agora é aposentar-se e arrumar algum cargo de diretor na City. O que ele menos deseja é que surja alguma encrenca em Jamaica. Obstina-se em querer dar por encerrado esse seu caso Strangways. Não vai gostar de ver você fuçando por lá.

O Governador pigarreou. Reconhecia que Bond não era nenhum tipo de homem servil.

— O senhor desejava ver-me?

— Apenas a fim de apresentar-me, Excelência — disse Bond calmamente. — Estou aqui para tratar do caso Strangways. Pensei que o senhor tivesse recebido uma comunicação do Secretário de Estado. — Isto era para lembrá-lo de que por trás de Bond havia gente poderosa. Bond não apreciava tentativas que visassem diminuir a ele ou ao seu Serviço.

— Lembro-me da comunicação. E que posso fazer pelo senhor? Para nós o caso está encerrado.

— De que maneira encerrado, sr. Governador? O Governador respondeu abruptamente:

— É evidente que Strangways fugiu com a moça. Era na maior parte do tempo um sujeito desequilibrado. Alguns de seus... hum!... colegas... não parecem ser capazes de deixar as mulheres em paz. — Era visível que o Governador incluía Bond entre esses. — Tive que pagar fiança pelo rapaz, diversas vezes, por outros escândalos, antes dessa ocasião. Isso não é nada bom para a fama da Colônia, sr. — hum!... Bond. Espero que seus chefes nos mandem gente melhor para preencher o cargo desse homem. Isto é — acrescentou ele secamente — se um funcionário de Controle Regional for realmente necessário. De minha parte, tenho toda a confiança em nossa polícia.

Bond sorriu com simpatia.

— Darei conhecimento do seu ponto de vista em meu relatório, sr. Governador. Penso que meu Chefe estará disposto a discuti-lo com o Ministro da Defesa e o Secretário de Estado. Naturalmente, se o senhor estiver disposto a assumir essas tarefas suplementares, isso representaria para o meu Serviço muita economia de pessoal. Tenho certeza de que a polícia jamaicana é extremamente eficaz.

O Governador olhou desconfiado para Bond. Talvez fosse melhor tratar esse sujeito com mais cuidado.

— Isso tudo não passa de uma troca de palavras sem caráter oficial, sr. Bond. Quando eu chegar a uma conclusão definitiva, comunicarei eu mesmo o meu ponto de vista ao Secretário de Estado. Entrementes, há alguém, dos meus subordinados, com quem o senhor desejaria avistar-se?

— Gostaria de falar com o Secretário para a Colônia, sr. Governador.

— Ah, deveras? E posso saber por quê?

— Tem havido complicações em Crab Key. Qualquer coisa a respeito de um santuário para aves. O caso foi passado ao meu Serviço pelo Ministério das Colônias. Meu Chefe pediu-me que fizesse uma investigação enquanto estiver por aqui.

O Governador demonstrou alívio.

— Pois não, pois não. Vou providenciar a fim de que o sr. Pleydell-Smith o atenda imediatamente. Então, o senhor pensa que nós podemos deixar que o caso Strangways se esclareça por si mesmo? Os responsáveis aparecerão dentro de menos tempo do que o senhor pensa, pode estar certo. I