Выбрать главу

"WXN chamando WWW... WXN chamando WWW." Ela sintonizou, girando o dial quase imperceptivelmente e tentou de novo. Seu relógio marcava seis e vinte e nove. Começou a sentir-se inquieta. Dentro de poucos segundos, Londres chamaria. Céus! Que faria ela? — pensou a moça, de repente, — se Strangways não chegasse a tempo? Era inútil que ela respondesse a Londres e fingisse que era ele — inútil e perigoso. A Segurança Radiofônica estaria vigiando o chamado, como vigiava, aliás, os chamados de todo e qualquer agente. Aqueles instrumentos que mediam as mínimas particularidades da "mão" de um operador denunciariam imediatamente que não era Strangways quem operava. Tinham mostrado a Mary Trueblood a floresta de dials na sossegada sala da sede; ela tinha observado como os ponteiros oscilantes registravam o peso de cada mão, a velocidade de cada grupo de cifras, a hesitação diante de determinada letra. O Encarregado do Controle tinha-lhe explicado tudo quando ela fora destacada para a estação das Caraíbas, cinco anos antes — como tocaria uma cigarra e o contato seria automaticamente interrompido, se outro operador que não o genuíno entrasse no ar. Era essa a proteção básica contra o perigo de algum transmissor do Serviço Secreto cair em mãos inimigas. E se um agente fosse capturado e forçado a entrar em contato com Londres, sob ameaça de tortura, bastaria que ele acrescentasse umas poucas particularidades fora de rotina, e estas revelariam a história de sua captura como se a tivessem narrado em linguagem comum.

Pronto! Já estava começando! Ela estava percebendo aquela espécie de vácuo no éter que significava que Londres ia entrar. Mary Trueblood olhou para o relógio. Seis e trinta. A moça entrou em estado de pânico! Mas agora, finalmente, ouviam-se passos no "hall". Graças a Deus! Dentro de um segundo ele estaria aí. Ela tinha que protegê-lo! Tomou a resolução desesperada de correr o risco e manteve o circuito aberto.

"WWW chamando WXN... WWW chamando WXN... Está-me ouvindo?... Está-me ouvindo?" Londres estava entrando, claramente, procurando a estação de Jamaica.

Os passos se aproximavam da porta.

Friamente, com plena segurança, ela respondeu — Estou ouvindo alta e claramente... Estou ouvindo alta e claramente... estou ouvindo...

Houve uma explosão por trás dela. Alguma coisa foi bater em seu tornozelo. Ela olhou para os pés: era a fechadura da porta.

Mary Trueblood voltou-se rapidamente na cadeira giratória. Um homem estava no limiar da porta. Não era Strangways. Era um enorme mestiço de pele amarelada e olhos oblíquos. Segurava um revólver na mão. A arma estava munida de vim grosso cilindro preto.

Mary Trueblood abriu a boca para gritar.

O homem sorriu. Devagar, amorosamente, ergueu a arma e desfechou três tiros que a alcançaram no seio esquerdo e à volta dele.

A moça caiu molemente pelo lado da cadeira. Os audiofones escorregaram de sua cabeça dourada para o chão. Por um segundo, se tanto, o pequeno crepitar de Londres soou no quarto. Em seguida, parou. A cigarra do quadro de controle, da Segurança Radiofônica, assinalara que algo de anormal estava ocorrendo com WXN.

O assassino retirou-se. Voltou pouco depois, carregando uma caixa, com os dizeres "Presto Pire" na etiqueta a cores e um grande saco de açúcar da tradicional marca "Tate & Lyle". Colocou a caixa no chão e voltou-se para o corpo. Enfiou a força o saco por cima da cabeça, até os tornozelos. Os pés ficaram de fora. Ele dobrou-os e enfiou-os para dentro. Arrastou o volumoso saco até o vestíbulo e voltou novamente para o quarto. Num dos cantos estava aberto o cofre, como lhe tinham dito que estaria, e os livros de códigos estavam na escrivaninha, prontos para o trabalho de decifração dos sinais de Londres. O homem atirou esses livros e todos os papéis, do cofre no centro do quarto. Arrancou as cortinas e acrescentou-as ao monte, em cima do qual pôs ainda duas cadeiras. Abriu a caixa de acendedores "Presto" e tirou um punhado deles, que meteu na pilha e acendeu. Foi então para o vestíbulo e preparou fogueiras semelhantes em pontos estratégicos. Os papéis e as peças de mobília bem secos pegaram fogo rapidamente e as labaredas começaram a lamber os lambris das paredes. O criminoso dirigiu-se à porta da frente e abriu-a. Podia avistar o coche fúnebre através da cerca de hibiscos. Não se ouvia barulho, a não ser o cricrilar dos grilos e o roncar abafado do motor. Para baixo e para cima, na estrada, não havia outros sinais de vida. 0 homem entrou novamente no vestíbulo cheio de fumaça e levantou sem esforço o saco, que pôs às costas, e saiu, deixando a porta aberta a fim de que passasse uma corrente de ar. Andou rapidamente pela alameda até a rua. A porta traseira do coche estava aberta. Deu o saco aos dois outros homens e ficou a observá-los, enquanto eles o punham a força no caixão, por cima do corpo de Strangways. Subiu, então, fechou a porta e sentou-se, pondo a cartola na cabeça.

Quando as primeiras chamas começaram a aparecer nas janelas do andar de cima do bangalô, o coche fúnebre se pôs silenciosamente em movimento e prosseguiu seu caminho na direção da represa Mona. Ali, o caixão bem lastrado deslizou para o seu túmulo de cem metros de profundidade. Dentro de exatamente quarenta e cinco minutos, os registros e o pessoal do posto das Caraíbas, do Serviço Secreto, estariam totalmente destruídos.

II - A ESCOLHA DAS ARMAS

Três semanas mais tarde, em Londres, o mês de março chegou tão traiçoeiro quanto uma cascavel.

Desde o raiar da primeira luz do dia primeiro de março, o granizo e uma chuva mesclada de neve, tocados por fortes vendavais, fustigavam a cidade e continuavam a fustigá-la, enquanto os londrinos se arrastavam penosamente para o trabalho, com as pernas açoitadas pelas barras encharcadas dos impermeáveis e os rostos congestionados de frio.

Era um dia horrível, e todos o diziam — até mesmo M, que raramente admitia a realidade das condições atmosféricas, mesmo em suas manifestações mais acentuadas. Quando o velho "Rolls" preto, cuja placa não trazia nenhum número digno de despertar atenções, parou à porta do alto prédio de Regents Park e ele apeou, subindo à calçada com movimentos rígidos, o granizo bateu-lhe no rosto como uma saraivada de chumbo de caça. Em lugar de correr para dentro do edifício, deu volta ao carro, até a janela do lado do chofer.

— Não precisarei mais do carro, Smith. Pode recolhê-lo e voltar para casa. Irei pelo metrô, à noite. Não é tempo para se guiar carro. Pior ainda que no tempo dos comboios de guerra!

O antigo foguista-chefe Smith distendeu a boca num amplo sorriso. — Está bem. Muito obrigado. — E ficou a olhar o vulto aprumado, apesar da idade, que passava diante do "Rolls" e cruzava a calçada, entrando no prédio. O velho era assim mesmo. Sempre pensava primeiro nos subordinados. Smith engatou em primeira e deu a saída, procurando ver através do pára-brisa por onde escorria a água. Homens assim não existiam mais, hoje em dia.

M subiu pelo elevador até o oitavo andar e seguiu pelo corredor revestido de espessa passadeira, até sua sala. Fechou a porta atrás de si, tirou o sobretudo e o cachecol e pendurou-os atrás da porta. Puxou do bolso um grande lenço azul de seda e passou-o rapidamente pelo rosto. Era estranho, mas nunca teria feito uma coisa dessas diante dos porteiros ou do ascensorista. Chegou à escrivaninha, sentou-se e inclinou-se para o aparelho de intercomunicações. Apertou um botão.

— Acabo de chegar, srta. Moneypenny. Transmita-me os sinais, por favor, e qualquer coisa mais que a senhorita tenha em mãos. Em seguida, mande chamar Sir James Molony. Deve estar fazendo suas visitas no hospital de St. Mary, agora. Diga ao Chefe de Pessoal que vou avistar-me com 007 dentro de meia-hora. E mande-me entregar a pasta relativa a Strangways. — M esperou pelo metálico "Sim, senhor" e largou o botão.