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O Dr. No levantou-se e afastou-se da cadeira. Caminhou vagarosamente até a porta e voltou-se. Seus olhos negros e ameaçadores fixavam Bond, pouco abaixo da armação da porta. A cabeça estava ligeiramente inclinada e os lábios finos tornaram a se mexer: — Faça uma boa corrida para mim, sr. Bond. Meus pensamentos, como se costuma dizer, o acompanharão.

O Dr. No afastou-se e a porta fechou-se suavemente por trás de seus costados amarelos.

XVII - O PROLONGADO GRITO

Havia um homem no elevador, cujas portas estavam abertas, à espera. James Bond, com os braços ainda torcidos, junto aos flancos, foi impelido para dentro do elevador. Agora, a sala de jantar estava vazia. Quando voltariam os guardas para desembaraçar a mesa e então notar o desaparecimento dos objetos subtraídos? As portas fecharam-se e o cabineiro ficou diante dos botões, de modo que Bond não pôde ver qual deles teria sido apertado. Sabia apenas que estavam, subindo, e tentou fazer um cálculo da distância percorrida. O elevador parou, e Bond teve a impressão de que o tempo gasto naquele percurso fora menor do que quando descera juntamente com Honeychile. As portas abriram-se para um corredor sem tapete, com uma pintura cinzenta e rústica nas paredes de granito. Esse corredor ia numa linha reta até uma distância de vinte metros.

— Espere aí — disse o guarda de Bond para o cabineiro — voltarei logo.

Bond foi conduzido ao longo do corredor, passando diante de portas marcadas com letras do alfabeto. Ouvia-se um leve zunido de maquinaria no ar, e, por trás de uma porta, Bond teve a impressão de ouvir descargas estáticas de equipamento eletrônico. Aquilo parecia vir da sala de máquinas, no coração da montanha. Logo chegaram à porta da extremidade do corredor que estava marcada com um Q negro. Ela estava entreaberta, de modo que logo se escancarou quando Bond foi empurrado através dela. Por trás daquela porta estava uma cela pintada de cinzento, com cerca de quinze pés quadrados. Nela nada havia, a não ser uma cadeira de madeira, sobre a qual estavam, lavadas e cuidadosamente dobradas, as calças pretas de Bond e a sua camisa azul.

O guarda soltou os braços de Bond, que logo se voltou e olhou para o rosto amarelo, sob os cabelos ondeados. Havia um leve sinal de curiosidade e prazer nos olhos marrons e úmidos. O homem estava de pé, segurando a maçaneta da porta. — Bem, aqui estamos, rapaz. Você está no ponto de partida. Poderá ficar aí sentado, apodrecendo, ou procurar uma saída e iniciar a corrida. Felicidades para você.

Bond pensou que valeria a pena tentá-lo. Deu ainda uma olhadela para além do guarda, onde o cabineiro ainda se conservava ao lado de suas portas abertas, observando-os.

Então disse suavemente: — Você não gostaria de ganhar dez mil dólares, garantidos, e uma passagem para qualquer lugar do mundo que desejasse? — Dito isso, observou cuidadosamente as reações do homem. A boca se abriu numa ampla careta, mostrando dentes escurecidos, desigualmente gastos pelos anos de mascagem de cana-de-açúcar.

— Muito obrigado, senhor. Prefiro continuar vivendo. — O homem fez menção de fechar a porta e Bond ainda gritou ansiosamente: — Podemos sair juntos daqui.

Os grossos lábios fizeram uma careta de desprezo, e o homem apenas disse: “Vá em frente!” E logo a porta se fechou com um duro estalido.

Bond deu de ombros, mas logo passou a examinar a porta. Era feita de metal e não havia maçaneta do lado de dentro. Bond preferiu não experimentar o ombro de encontro àquela barreira. Aproximou-se da cadeira, sentou-se sobre a pilha de suas roupas limpas, e olhou à volta da cela. As paredes eram inteiramente nuas, com exceção de uma grade para ventilação, feita de arame grosso, num dos cantos, logo abaixo do teto. Aquela abertura era maior que os seus ombros. Era, evidentemente, a entrada para a pista dos obstáculos. A única abertura restante, naquele recinto, era uma espécie de vigia de espesso vidro, logo acima da porta, e que não seria maior do que a cabeça de Bond. A luz, vinda do corredor, atravessava aquela grade e penetrava na cela. Nada mais havia. Não seria inteligente perder tempo. Seriam dez e meia. Lá fora, em alguma parte da falda da montanha, a jovem já deveria estar deitada, estendida sobre o chão, à espera do matraquear das pinças no coral cinzento. Bond apertou os dentes ao pensamento daquele corpo frágil e indefeso sob as estrelas. Bruscamente, pôs-se de pé. Que diabo estava ele fazendo ali sentado? O que quer que existisse do outro lado da grade deveria ser imediatamente enfrentado.

Bond apanhou a faca e o isqueiro, e tirou o quimono. Em seguida vestiu as calças e a camisa, enfiando o isqueiro no bolso. Experimentou o corte da faca com o polegar, e verificou que a lamina era bastante afiada. Seria ainda melhor se pudesse fazer uma ponta naquela lâmina. Ajoelhou-se no chão e começou a esfregar a extremidade arredondada da faca na laje do pavimento. Depois de um precioso quarto de hora, deu-se por satisfeito. Não era um estilete, mas que tanto serviria para cortar como para espetar. Colocou-a então entre os dentes e arrastou a cadeira para baixo da abertura gradeada. A grade? Supondo que pudesse arrancá-la pela base, aquele arame bem poderia ser esticado, de modo a formar uma lança, facultando-lhe assim uma terceira arma. Bond esticou os braços, com os dedos encurvados.

A coisa imediata de que tomou consciência foi uma dor de queimadura ao longo do braço e o choque de sua cabeça, ao atingir o chão de pedra. Ficou durante algum tempo estendido no solo, apenas com a lembrança de uma faísca azulada e o estalido e o chiado seco de eletricidade.

Depois de algum tempo, Bond pôs-se de joelhos e assim ficou por um momento. Em seguida baixou a cabeça e sacudiu-a lentamente de um lado para outro, como um animal ferido. Sentiu um leve odor de carne queimada. Levantou a mão direita à altura dos olhos e viu a mancha vermelha de uma queimadura aberta ao longo da parte interna dos dedos. A visão daquele ferimento trouxe-lhe também a consciência da dor. Bond proferiu uma imprecação. Vagarosamente pôs-se de pé. Dessa vez, olhou de soslaio, cautelosamente, para a grade, como se ela fosse feri-lo novamente. Irritado, encostou a cadeira na parede, apanhou a faca e com ela cortou uma faixa do quimono, envolvendo-a firmemente nos dedos. Em seguida tornou a subir na cadeira e olhou para a grade. Esperava-se que ele a atravessasse, e aquele choque tinha sido calculado apenas para amolecê-lo: era uma amostra do que estaria por vir. Com certeza o curto-circuito causado por ele já tinha posto fora de combate aquela armadilha. Olhou para a grade apenas por um instante, e já os dedos de sua mão esquerda a atingiam e atravessavam. Do outro lado não havia nada. Seria mesmo só aquela grade? Puxou a armação e ela cedeu uma polegada. Fez novo esforço e a grade foi arrancada do lugar, ficando pendurada por dois fios de cobre que desapareciam no interior da parede. Bond soltou a grade das pontas daqueles fios e desceu da cadeira. Havia um ponto de junção no arame de ferro, naquela grade, e Bond pôs-se a retificá-la, usando a cadeira como martelo.

Depois de dez minutos tinha à sua disposição um chuço recurvado de cerca de um metro de comprimento. Uma des extremidades, que tinha sido originalmente cortada por alicates, apresentava-se lacerada. Não atravessaria as roupas de um homem, mas teria efeito devastador no pescoço ou no rosto. Lançando mão de toda sua força e servindo-se da fresta inferior da porta metálica, Bond conseguiu fazer ainda um gancho com a extremidade rombuda daquele arame de ferro. Em seguida mediu-o com a perna e achou que aquela nova arma era demasiado longa. Em conseqüência, dobrou-a em dois e enfiou-a numa das pernas da calça. Agora, o chuço ia de sua cintura, onde fora pendurado, até o joelho. Voltou então para a cadeira e tornou a subir até a boca do ventilador, agora desobstruída. Não experimentou mais choque. Ergueu o corpo e introduziu-o naquele tubo que tinha mais quatro polegadas que a largura de seus ombros. Durante algum tempo deixou-se ficar, de barriga para baixo, a olhar para o interior da abertura. O túnel era circular e de metal polido. Bond apanhou o isqueiro, abençoando a inspiração que o fizera roubá-lo, e acionou-o. Sim, aquilo era folha de zinco que parecia nova. O túnel continuava em linha reta, sem qualquer característica especial, a não ser as costuras de junção das várias seções tubulares. Bond tornou a meter o isqueiro no bolso e foi-se arrastando para a frente.