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Como uma resposta à situação, a esteira parou com um solavanco.

Bond pousou a jovem no chão. Ela estava usando um sujo macacão de trabalhador, com as mangas e calças arregaçadas. A roupa era muito grande para ela, e Honey parecia uma menina metida num pijama de homem! Estava toda branca com a poeira do guano, com exceção das marcas de lágrimas em seu rosto. Ela disse, sem fôlego:

— Para lá! Há um túnel lateral que conduz às oficinas e à garagem. Eles nos virão procurar?

Não havia tempo para falar. Bond disse apressadamente: “Siga-me” e pôs-se a correr. Atrás, os pés de Honey batiam suavemente no silêncio vazio. Chegaram ao cruzamento onde o túnel lateral atravessava a rocha. De que lado viriam os homens? Bond puxou a jovem alguns pés, acima do túnel principal, atraiu-a para junto de seu corpo e sussurrou: — Sinto muito, Honey. Receio ter que matá-los.

— Claro. — A resposta sussurrada era perfeitamente natural. Ela apertou a mão de Bond e afastou-se para trás, a fim de lhe dar espaço. Depois, pôs as mãos nos ouvidos.

Bond tirou o revólver da cintura, cuidadosamente deslocou o tambor para o lado, e apalpou com o polegar para certificar-se de que as seis câmaras estavam carregadas. Bond sabia que não iria gostar daquilo: matar, novamente, a sangue frio, mas aqueles homens deviam ser os bandidos chineses negros, os guardas que se encarregavam do trabalho sujo. Certamente que tinham matado Strangways e sua companheira. Mas não adiantava procurar acalmar a sua consciência. A questão era: matar ou ser morto. Devia apenas fazê-lo com eficiência.

As vozes já estavam mais próximas. Havia três homens que falavam alto e nervosamente. Bond se perguntou se eles olhariam em torno, quando chegassem ao túnel principal. Ou teria que disparar contra eles, pelas costas?

Agora, eles estavam muito perto. Podiam-se ouvir os seus sapatos ferindo o chão.

— Isso perfaz dez dólares, que você me deve, Sam. — Não antes desta noite. Faça-os em pedaços, rapaz.

Faça-os em pedaços.

— Nada de dados para mim, esta noite. Hoje vou querer um pedaço daquela garota branca.

— Ha, ha, ha...

O primeiro homem chegou, depois o segundo, em seguida o terceiro. Eles carregavam os revólveres frouxamente, nas mãos.

Os três homens entraram no túnel principal, encaminhando-se para o lado em que estava Bond. Os alvos dentes dos guardas brilharam em suas bocas abertas. Bond atirou contra o último homem, na cabeça, e contra o segundo no estômago. O revólver do primeiro já estava em posição de tiro e uma bala passou raspando por Bond, perdendo-se pelo túnel. O revólver de Bond replicou e o homem levou as mãos ao pescoço para logo cair lentamente sobre a esteira transportadora. Os ecos reboaram lenta e abafadamente pelo túnel. Uma nuvem de fina poeira levantou-se no ar e depois pousou no chão e nas paredes do túnel. Dois corpos jaziam imóveis no chão, mas o homem que fora atingido no estômago agitava-se ainda no solo. Bond enfiou o revólver na cintura da calça e disse à jovem — Venha. — Ato contínuo, segurou a mão de Honey e foi arrastando-a atrás de si, pela entrada do túnel lateral. A caminho, ele disse: — Desculpe-me, Honey — e logo pôs-se a correr.

Ela respondeu: — Não seja estúpido. — Depois disso não se ouviu mais nada, a não ser as batidas dos pés descalços de ambos no chão.

O ar era limpo, no túnel lateral, e era mais fácil de percorrê-lo, mas depois da tensão dos tiros, a dor começou novamente a se apossar do corpo de Bond. Contudo, continuava correndo automaticamente e mal conseguia pensar na jovem. Toda a sua mente se concentrava em resistir à dor e nas tarefas que o aguardavam quando chegasse ao fim do túnel.

Não sabia se os tiros tinham sido ouvidos e também não tinha a mínima idéia relativamente à oposição que ainda lhe restaria enfrentar. O seu único plano era disparar contra qualquer pessoa que se lhe interpusesse no caminho, e, de qualquer maneira, chegar à garagem e apoderar-se do trator. Essa era a sua única esperança de se afastar da montanha e atingir a costa.

As lâmpadas de uma luz amarelada e pálida bruxuleavam sobre suas cabeças, mas nada de o túnel acabar. Atrás, Honey tropeçou. Bond deteve-se e se amaldiçoou por não ter pensado nela. Ela estendeu os braços para ele e por um momento descansou em seu peito, trêmula e com o coração palpitando.

— Desculpe-me, James — disse ela; — é que...

Bond estreitou-a e disse:

— Você se machucou, Honey?

— Não; estou bem. Sinto-me terrivelmente cansada. E os meus pés se cortaram um pouco ria montanha. Caí muito durante a noite, no escuro. Se pudéssemos andar um pouco... Já estamos quase chegando. E há uma porta na garagem, antes de chegarmos à oficina. Não poderíamos entrar lá?

Bond apertou-a mais de encontro ao peito, e disse:

— Isso é justamente o que estou procurando fazer, Honey. Esta é a nossa única esperança de nos livrarmos daqui. Se você puder agüentar até chegarmos lá, então teremos uma boa oportunidade.

Bond passou um braço pela cintura da jovem e alivio-a de seu peso. Preferiu não olhar para os pés de Honey. Sabia que eles deveriam estar em más condições. Pouco adiantaria que um se apiedasse do outro. Não havia tempo para isso, se é que desejassem escapar.

Pôs-se novamente a caminho, mas as contrações de seu rosto bem demonstravam o que significava para ele aquele esforço extra. Os pés de Honey iam deixando pegadas ensangüentadas no chão. Subitamente ela sussurrou algo ao seu ouvido, mostrando-lhe uma porta de madeira, na parede do túnel. A porta estava entreaberta e nenhum ruído vinha do outro lado. Bond tirou o revólver e abriu a porta. A comprida garagem estava vazia. Sob as lâmpadas de gás néon, o dragão pintado de ouro e negro, sobre rodas, parecia um carro alegórico — que aguardasse o momento de participar da procissão do Prefeito de Londres. Estava de frente para as portas corrediças, e a portinhola da cabina blindada estava aberta. Bond desejou que o tanque de gasolina estivesse cheio e que o mecânico tivesse feito os consertos necessários.

Súbito, de algum ponto do lado de fora, ouviram-se vozes. Elas se aproximaram mais e mais, tagarelando ansiosamente.

Bond segurou a mão de Honey e avançou. Havia apenas um lugar onde poderiam esconder-se — no trator. A jovem subiu para a cabina, logo acompanhada por Bond. Ali, agacharam-se e esperaram. Bond pensou: apenas três cartuchos deixados no tambor. Demasiado tarde ele se lembrava das armas penduradas à parede, na garagem. Agora as vozes estavam bem em frente à garagem. Ouviu-se o ruído da porta que deslizava sobre os roletes e uma confusão de vozes.

— Como é que você sabe que eles estavam atirando?

— Não podia ser outra coisa. Do contrário eu saberia.

— É melhor apanhar os rifes. Aqui, Joe! Apanhe aquele lá, Lemmy! E algumas granadas. A caixa está debaixo da mesa. Ouviu-se o barulho de parafusos sendo apertados e fechos de segurança estalando.

— Algum sujeito andou disparando. Não podia ser aquele gringo inglês. Você viu a que ficou reduzido aquele sujeito grande, lá na enseada? Credo! E o resto das armadilhas que o Doutor colocou no túnel? E aquela garota branca? Ela não deve ter guardado a mesma forma, hoje de manhã. Algum de vocês foi dar uma espiada?

— Não, senhor.

— Não.

— Não.

— Há, há... Não há dúvida que estou muito surpreendido com vocês, rapazes.

Ouviu-se ainda mais barulho de pés e depois a mesma voz que dizia:

— Bem, vamos indo? Dois na frente, até chegarmos ao túnel principal. Atirem para as pernas. Quem quer que esteja fazendo confusão, o Doutor há-de querê-lo para os seus passatempos.

As pistolas daqueles homens ecoaram no concreto. Bond susteve a respiração, enquanto os guardas se iam retirando, um a um. Notariam eles que a portinhola do trator agora estava fechada? Mas todos eles passaram sem prestar atenção àquele detalhe, internando-se pelo túnel. O ruído de seus passos foi diminuindo gradativamente, até silenciar de todo.