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Bond tocou no braço da jovem e colocou o dedo nos lábios. Cautelosamente ele abriu a portinhola da cabina e tornou a escutar. Nada. Pulou para o chão, deu a volta ao trator, e foi até a porta da garagem que estava entreaberta. Olhou para todos os lados. Não havia ninguém à vista. Apenas um cheiro de alimentos fritos, que trouxe água à boca de Bond. Podia-se ouvir o barulho de pratos e panelas, na construção mais próxima, a cerca de vinte metros de distância, e de uma das tendas mais distantes chegou o som de uma guitarra e a voz de um homem entoando um calipso. Cães começaram a ladrar sem muita vontade, e depois reinou o silêncio. Eram os cães de fila Dobermann.

Bond deu a volta e correu para o fundo da garagem. Nenhum som vinha do túnel. Suavemente fechou a porta do túnel a chave e trancou-a. Depois foi ao suporte das armas, pregado à parede, e escolheu outro “Smith & Wesson” e uma espingarda “Remington”, tendo o cuidado de verificar que ambas as armas estavam carregadas. Em seguida foi ter à portinhola do trator e entregou as armas à jovem. Agora, para a porta de entrada. Bond encostou o ombro e lentamente começou a abri-la. Quando a porta ficou escancarada, Bond correu para a cabina do trator e sentou-se no banco do motorista.

— Feche a porta, Honey — sussurrou ansiosamente, enquanto simultaneamente virava a chave de partida.

A agulha, no mostrador, correu para “máximo”. Bond pediu a Deus que a máquina partisse rapidamente. Ele bem sabia que alguns motores diesel eram lentos. Em seguida pisou resolutamente no acelerador.

O chocalhar das engrenagens era ensurdecedor. Certamente que aquela barulheira seria ouvida em todo o grupo de construções. Bond parou e tentou novamente. O motor resfolegou e silenciou. Mais uma vez, agora felizmente a coisa pegou e Bond calmamente procurou engrenar. Para que lado? Experimente este. Sim, deu certo. Solte o freio, idiota! Por Deus, o motor quase afogara.

Mas agora já estavam fora da garagem e ganhando velocidade. Bond pisou até a tábua.

— Alguém está-nos perseguindo: — Bond teve que gritar, para poder ser ouvido naquela barulheira.

— Não. Espere! Sim, um homem saiu de alguma das tendas! Outro! Estão nos acenando com os braços e gritando. Agora estão chegando outros. Um deles correu para a direita e outro entrou apressadamente na tenda. Lá vem ele com um rife. Deitou-se. Vai disparar.

— Feche a fenda aí. Deite no chão!

Bond olhou para o velocímetro. Vinte quilômetros. E eles estavam numa descida. Não se podia esperar mais do motor. Bond concentrou-se em manter as gigantescas rodas nos sulcos do caminho. A cabina saltava e sacolejava sobre as molas. Não era muito fácil manter pés e mãos nos controles. Um punho de ferro bateu com clangor na cabina. E mais um. Qual seria a distância? Quatrocentos metros? Boa pontaria. Bond gritou:

— Honey, dê uma espiada. Abra a fenda, um pouquinho só.

— O homem já se levantou. Parou de atirar. Eles estão todos nos observando — uma multidão deles. Espere, não é só isso. Os cães estão vindo! Ninguém os acompanha. Estão descendo pelo caminho, em nosso encalço. Será que eles nos pegam?

— Não tem importância, Honey. Venha e sente-se ao meu lado. Segure-se bem. Cuidado com a cabeça no teto. — Bond soltou um pouco o acelerador. — Puxa, Honey, saímos dessa! Quando chegarmos ao lago pararei e atirarei contra os cães. Eu conheço bem esses monstrinhos, basta matar-se um para que os outros se entretenham em devorá-lo.

Bond sentiu a mão de Honey em seu pescoço, e ela a manteve assim, enquanto o trator ia aos pulos pela rota. Chegando ao lago, Bond avançou uns cinqüenta metros para dentro da água, deu volta com o trator e debreou. Através do pára-brisa ele pôde ver a matilha contornando a última curva. Apanhou o rife a seus pés e introduziu o cano pela abertura. Agora os cães já tinham chegado ao lago e começavam a nadar. Bond manteve o dedo no gatilho e descarregou uma saraivada no meio dos animais. Um deles começou a se debater, e logo outro, e mais outro. Bond podia ouvir os seus uivos de dor, a despeito do ruído do motor. Havia sangue na água, e dentro em pouco começou uma luta. Bond viu um dos cães saltar sobre um dos feridos e enterrar os dentes em sua nuca. Agora todos pareciam estar loucos. Todos se mordiam, numa verdadeira roda viva, em meio a uma água sanguinolenta e espumante. Bond descarregou toda a sua arma entre os animais e deixou-a cair no chão. Depois disse: “Eis aí, Honey”, e embreou novamente, iniciando a travessia do lago em velocidade moderada, na direção dos mangues que ficavam na foz do rio.

Durante cinco minutos mantiveram-se assim em silêncio. Depois Bond descansou uma das mãos no joelho da jovem e disse:

— Agora não deve haver mais perigo, Honey. Quando descobrirem que o chefe está morto, haverá pânico. Acho que os mais espertos procurarão fugir para Cuba, num avião ou numa lancha. Hão-de ficar preocupados com salvar a pele e não conosco. De qualquer forma, não sairemos com a canoa enquanto não estiver bastante escuro. Agora devem ser umas dez horas. Devemos chegar à costa dentro de uma hora. Chegando lá descansaremos e procuraremos pôr-nos em forma para a viagem. O tempo parece muito bom, e acho que haverá um pouco mais de luar, esta noite. Você acha que pode agüentar?

A mão de Honey apertou a garganta de Bond:

— É claro que posso, James. E você? Pobre do seu corpo! Está todo coberto de queimaduras e ferimentos. E o que são essas marcas vermelhas em sua barriga?

— Depois eu conto. Estou bem. Mas diga-me o que lhe aconteceu na noite passada. Como é que você conseguiu safar-se dos caranguejos? Que teria falhado nos planos daquele bastardo? Durante toda a noite não pude pensar em outra coisa senão em você sendo devorada pelos caranguejos. Meus Deus, que pesadelo! Que aconteceu?

A jovem estava mesmo rindo. Bond observou-a melhor. Os seus cabelos estavam desgrenhados e os seus olhos azuis inchados pela falta de dormir, mas a não ser isso ela bem poderia estar a caminho de casa, de volta de um churrasco.

— Aquele homem pensou que entendia de tudo — começou a jovem. — Mas não passava de um tolo. — Ela bem poderia estar falando de um mestre-escola idiota. — Ele estava muito mais impressionado com os caranguejos negros do que eu. Para começar, não me importo que nenhum animal me toque, mas, de qualquer modo, aqueles caranguejos nem mesmo pensariam em arranhar alguém que fique imóvel e não tenha nenhuma ferida no corpo. A verdade é que eles não gostam de carne. Nutrem-se principalmente de plantas e outras coisas. Se ele disse a verdade, isto é, se ele conseguiu matar uma jovem negra, por aquele modo, ou ela tinha alguma ferida ou deve ter morrido de terror. Ele com certeza quis ver se eu resistia à prova. Velho nojento. Só desmaiei durante o jantar porque sabia que ele reservava algo de muito mais terrível para você.

— Diabo! Eu gostaria de ter sabido disso. Logo imaginei você sendo reduzida a pedaços.

A jovem resmungou:

— Naturalmente que não foi muito agradável ver arrancarem as minhas roupas e amarrarem-me em cavilhas, no chão. Mas aqueles negros não ousaram tocar em mim. Apenas disseram gracejos e depois se afastaram. Também não era muito agradável a rocha, mas eu estava pensando em você e como poderia chegar até o Dr. No e matá-lo. Foi então que ouvi os caranguejos começando a Corrida — é como nós dizemos cm Jamaica — e logo eles chegavam matraqueando o escorregando às centenas. Passaram sobre o meu corpo e à minha volta. Pela atenção que eles me deram, eu bem poderia ter sido uma rocha. É verdade que me fizeram um pouco de cócegas ou me aborreceram tentando puxar o meu cabelo, e isso foi tudo. Apenas esperei que amanhecesse, quando eles se recolhem em buracos e vão dormir. Gostei muito deles. Fizeram-me companhia. Depois foram-se tornando mais e mais escassos, até que desapareceram, e eu então pude começar a mexer-me. Sacudi todas as cavilhas, uma a uma, o depois me concentrei na que prendia a minha mão direita. Por fim consegui arrancá-la da fenda feita na rocha, e o resto foi fácil. Voltei para as construções e comecei a fazer reconhecimentos. Entrei na oficina, próxima à garagem, e encontrei este velho macacão. Foi quando a esteira transportadora começou a se mover, não muito longe, e eu me pus a pensar naquilo, chegando à conclusão de que deveria levar o guano através da montanha para o cais. Sabia que você já devia estar morto àquela hora. Pensei, pois, em chegar até a esteira, atravessar a montanha e alcançar o Dr. No para matá-lo. Para isso tive o cuidado de munir-me de uma chave de parafusos. Ela riu; depois continuou: