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M voltou-se para Bond: — Tem alguma objeção a fazer?

— É uma boa arma — concordou Bond. — Um pouco mais volumosa que a "Beretta". Como sugere o Armeiro que eu deva carregá-la?

— Coldre de três correias de Berns Martin — respondeu sucintamente o major Boothroyd. — É melhor levá-lo por baixo do cós da calça, para a esquerda. Mas pode ser posto também sob a axila. Couro rijo, de selim. Esse coldre retém a arma dentro, com uma mola. Faz com que se puxe a arma com maior rapidez do que isso — apontou para o coldre que estava sobre a escrivaninha. — Três quintos de segundo para balear um homem a sete metros de distância, é o que calculo.

— Está resolvido, então. — A voz de M tinha um tom definitivo. — E quanto a uma arma mais pesada?

— Existe somente um revólver para isso — disse o major Boothroyd, impassível. — O "Smith & Wesson" (Centennial Airweight). Revólver de calibre 38, sem percussor, de modo que não prende nas roupas. Comprimento total de seis polegadas e meia, e pesa menos de 400 gramas. Para diminuir o peso, só cabem cinco balas no tambor. Mas quando todas forem disparadas, — e o major Boothroyd condescendeu em dar um sorriso glacial, — alguém terá morrido. Atira com os cartuchos especiais "S & W". Cartuchos muito precisos. Com carga normal, a velocidade de boca é de 290 metros por segundo, e a energia de boca é de duzentas e sessenta libras. Há diversos comprimentos de cano, três polegadas e meia, cinco polegadas...

— Está bem, está bem! — A voz de M fizera-se impaciente. — Está aprovado sem discussão. Se o senhor diz que é a melhor arma, eu acredito. Portanto, vão ser a "Walther" e o "Smith & Wesson". Mande um exemplar de cada arma para 007. Com coldre e correia. E providencie para que ele se exercite com elas, a partir de hoje. Deve estar em forma dentro de uma semana. Combinado? Então, muito obrigado, Armeiro. Não quero tomar mais seu tempo.

— Muito obrigado — respondeu o major Boothroyd. Deu meia-volta e saiu com passo duro.

Houve um momento de silêncio. M fez girar a poltrona e ficou observando as vidraças sobre as quais escorria uma cortina de água. Bond aproveitou a oportunidade e relanceou os olhos no relógio. Dez horas. Seu olhar fixou-se então na pistola e no coldre que estavam' sobre a mesa. Pensou em sua união de quinze anos com aquele feio pedaço de metal. Lembrou-se das ocasiões em que a voz seca daquela arma lhe salvara a vida, e daquelas em que a sua ameaça fora suficiente. Pensou nos dias em que se preparava literalmente para matar, em que desmontava a pistola, lubrificava-a e colocava as balas cuidadosamente no carregador de mola. Em seguida, experimentava o mecanismo uma ou duas vezes, descansando os cartuchos no colchão de alguma cama de hotel. Depois, a limpeza final com um trapo bem enxuto e a pistola era colocada no pequeno coldre a tiracolo. Fazia uma pausa diante do espelho, para certificar-se de que nada podia ser percebido. Finalmente, saía para o encontro que haveria de terminar em trevas ou em luz. Quantas vezes a arma lhe salvara a vida? Quantas sentenças de morte tinha ela assinado? Bond sentia-se desarrazoadamente triste. Como era possível sentir-se tamanho apego por um objeto inanimado e, além do mais, feio? Por uma arma que, era forçoso reconhecê-lo, não pertencia à mesma classe das que o Armeiro escolhera? Mas ele lhe tinha tal apego e M ia romper esses laços...

M fez novamente girar a poltrona e encarou-o.

— Sinto muito, James, — disse ele, mas não havia simpatia em sua voz. — Sei que gosta deste pedaço de ferro, mas creio que é preciso desistir dele. Nunca se deve dar nova oportunidade a uma arma — nem tampouco a um homem. Não posso correr riscos com os membros da Seção Dois-Zeros. Eles têm que estar convenientemente equipados. Compreende isso, não? Uma pistola é mais importante que um braço ou uma perna, no seu trabalho.

Bond sorriu levemente.

— Bem sei. Não vou discutir. Estou apenas triste por me separar dela.

— Então, está bem. Encerremos o assunto. Tenho outras notícias para o senhor. Um trabalho a fazer. Em Jamaica. Trata-se de um problema pessoal. Pelo menos, é o que parece. Já houve investigação de rotina e um relatório. O sol lhe fará bem, e o senhor poderá exercitar-se com suas novas armas, atirando em tartarugas ou quaisquer outros bichos que existam por lá. Umas pequenas férias não lhe farão nenhum mal. Gostaria de tratar desse caso?

— Está ainda ressentido comigo por causa do meu último trabalho, — pensou Bond. — Ele acha que eu não correspondi à confiança que tinham em mim. Não quer me dar trabalho sério. Quer me experimentar primeiro. Está certo! — E disse em voz alta — Está parecendo vida de preguiçoso. Não tenho feito outra coisa senão viver no mole, nestes últimos tempos. Mas se tiver que ser feito... Se o senhor mandar...

— Sim — respondeu M. — Estou mandando.

III - TAREFA PARA AS FÉRIAS

Escurecia. Fora, o tempo ia piorando cada vez mais. M estendeu o braço e acendeu a lâmpada de mesa, protegida por um abajur verde. O centro da sala tornou-se semelhante a um lago amarelo e quente no qual o couro da mesa punha um brilho de sangue.

M puxou a pesada pasta para sua frente. Bond notou-a pela primeira vez. Leu sem dificuldade as letras que se lhe apresentavam invertidas. Que teria feito Strangways? Quem seria Trueblood?

M apertou um botão na mesa. — Vou chamar o Chefe do Pessoal para falarmos sobre isso — disse ele. — Conheço o arcabouço do caso, mas ele terá que completar, o enchimento. Parece-me que é uma historiazinha bem suja.

O Chefe do Pessoal entrou. Era coronel do corpo de sapadores, quase da mesma idade que Bond, mas com as fontes prematuramente grisalhas em conseqüência de trabalhos e responsabilidades sem fim. Sua resistência física e seu senso de humor é que o salvavam de uma depressão nervosa. Era o melhor amigo de Bond, na Sede. Sorriram um para o outro.

— Pegue uma cadeira, Chefe do Pessoal. Encarreguei 007 do caso Strangways. Temos que deslindar essa embrulhada antes de designarmos gente nova para o posto. Enquanto isso, 007 poderá atuar como chefe. Quero que ele parta dentro de uma semana. O senhor pode tomar as devidas providências junto ao Ministério das Colônias e ao Governador? E agora, vamos recapitular o caso. — Dirigiu-se a Bond. — Parece-me que o senhor conheceu Strangways, 007. Verifiquei que o senhor trabalhou com ele naquele negócio de tesouro, há cerca de cinco anos. Qual era sua opinião a respeito dele?

— Bom sujeito. Um pouco nervoso. Pensei que ele já tivesse sido substituído. Cinco anos representam um tempo muito longo nos trópicos.

M não tomou conhecimento do comentário. — E a sua assessora, essa moça Trueblood, Mary Trueblood. Chegou a conhecê-la?

— Nunca a vi.

— Vejo que ela tem uma boa folha de serviço. Foi oficial no Serviço Feminino da Marinha Real antes "de vir para cá. Nada contra ela em sua Ficha Confidencial. Parece bonita, a julgar pelo retrato. Isso pode provavelmente explicar muita coisa. O senhor julgaria que Strangways fosse mulherengo?

— Talvez fosse — replicou Bond cautelosamente, não querendo dizer nada contra Strangways, mas lembrando-se do quanto este lhe parecera notavelmente bem apessoado. —Mas que lhes aconteceu?