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A Ajah Vermelha. Rand sentia o suor brotar de seu rosto. Se ao menos as Donzelas lá fora entrassem. Ou as Sábias, Sulin… qualquer pessoa que pudesse gritar por ajuda, despertar o Palácio. Treze Aes Sedai, e a Ajah Vermelha no comando. Se pudesse abrir a boca, teria gritado.

Quando as portas se abriram, Bain ficou surpresa. Rand al’Thor acabara de receber as Aes Sedai. Mas seu olhar automaticamente se desviou ao ver as serviçais carregando os baús para fora. Uma Aes Sedai de cabelos negros plantou-se diante dela, e Bain tratou de se levantar. Mal sabia o que pensar da história que as outras Donzelas tinham contado em Caemlyn, coisas das quais apenas os chefes e as Sábias tinham conhecimento, mas os olhos negros daquela mulher pareciam saber tudo sobre o fracasso dos Aiel, tanto tempo antes. Aqueles olhos se fixaram nos de Bain até que ela tomasse apenas vaga ciência da outra Aes Sedai de cabelos negros que confrontava Chiad, e da outra, cheia de pompa, que conduzia as mulheres com os baús para longe. Bain se perguntou se a Aes Sedai que a encarava pretendia matá-la pelo fracasso dos Aiel. Bem, elas decerto já teriam começado a matança, se fosse essa a intenção, já que decerto sabiam de tudo. Ainda assim, aqueles olhos escuros cintilavam com uma dureza que trazia o presságio claro da morte. Bain não tinha medo de morrer, só queria tempo para se velar antes.

— Parece que o jovem Mestre al’Thor está acostumado a ir e vir de Cairhien a hora que bem entende — comentou a Aes Sedai, a voz dura como pedra. — Não estamos acostumadas a ter alguém virando as costas para nós de maneira tão rude. Se ele voltar ao Palácio nos próximos dias, então também voltaremos. Senão… nossa paciência não é infinita.

Ela foi embora, desfilando ao lado da outra, indo atrás das mulheres com os baús.

Bain e Chiad trocaram olhares apressados e correram até os aposentos de Rand al’Thor.

— Como assim, ele sumiu? — inquiriu Perrin.

As orelhas de Loial tremelicaram na direção dele, mas o Ogier manteve o olhar fixo no tabuleiro de pedras, assim como Faile. Ela cheirava… Perrin não conseguia distinguir nada no amontoado de aromas que vinha dela — aquela combinação de odores o deixava desesperado.

Nandera simplesmente deu de ombros.

— Ele faz isso às vezes. — Parecia bastante calma, os braços cruzados e o rosto impassível, mas cheirava a irritação, aquele fedor que remetia a pequenos espinhos. — Ele foge das Donzelas e às vezes passa o dia todo fora. E acha que a gente não sabe. Pensei que você pudesse saber aonde ele foi. — Algo em sua voz dava a entender que, se ela descobrisse o paradeiro de Rand, pretendia ir atrás.

— Não — respondeu, com um suspiro. — Não faço ideia.

— Preste atenção no jogo, Loial — resmungou Faile. — Claro que você não pretendia pôr uma pedra aí.

Perrin suspirou outra vez. Tinha decidido passar o tempo inteiro ao lado de Faile. Cedo ou tarde a mulher teria que falar com ele, e Berelain decerto o deixaria quieto se ele estivesse com a esposa. Bem, ao menos Berelain o deixara em paz. Assim que Faile percebeu que ele não sairia para caçar, laçou Loial antes que o Ogier pudesse correr para a Biblioteca, e os dois estavam engatando uma partida de jogo de pedras atrás da outra. E praticamente sem falar. Perrin queria estar onde quer que Rand estivesse.

Deitado de costas na cama, Rand encarava as grossas vigas do porão, mas não olhava para elas de fato. A cama não era grande, mas os dois colchões com travesseiros de penas de ganso e os bons lençóis de linho proporcionavam conforto. No quarto também havia uma cadeira robusta e uma mesa pequena e simples, porém muito bem-feita. Ainda sentia dor nos músculos por conta do transporte até ali dentro de um dos baús. Com o Poder, foi fácil dobrar seu corpo, enfiando a cabeça entre os joelhos, e cordas simples bastaram para transformá-lo em um embrulho.

O som de metal contra metal o fez virar a cabeça. Galina usara uma grande chave para destrancar uma portinhola na jaula de ferro que circundava a cama, a mesa e a cadeira. Uma mulher grisalha de rosto enrugado estendeu os braços jaula adentro apenas o suficiente para botar uma bandeja coberta por um pano na mesa, então se afastou quase com um salto.

— Pretendo levar você até a Torre com a saúde razoável — declarou Galina, com frieza, enquanto trancava a portinhola. — Coma, ou será forçado a comer.

Rand voltou a encarar as vigas. Seis Aes Sedai estavam sentadas em cadeiras ao redor da jaula, sustentando a blindagem. Manteve o Vazio, para caso as mulheres vacilassem, mas não investiu contra a barreira. Quando elas o empurraram, trôpego, para dentro da jaula, ele tentou derrubar aquele muro invisível. Algumas riram, ao menos as que perceberam. Em vez disso, decidiu avançar com cautela em direção à fúria de saidin, uma tempestade de fogo e gelo logo fora de seu campo de visão. Alcançou-a, sentiu a muralha invisível que o apartava da Fonte, deslizou ao longo dela como se tentasse encontrar uma aresta. O que encontrou foi um local onde a muralha parecia se dividir em seis pontos — serviam para barrá-lo tão bem quanto a parede, mas eram seis, não um, e definitivamente eram pontos distintos.

Fazia quanto tempo que estava ali? Uma desolação se abatera sobre ele, embotando a passagem do tempo, mergulhando-o em um estado de letargia. Estava ali havia tempo suficiente para sentir fome, mas o Vazio deixava a sensação distante, e nem mesmo o cheiro de cozido quente e pão fresco vindo da bandeja suscitava algum interesse. Levantar-se requeria esforço demais. Até então, doze Aes Sedai se revezavam ao redor da jaula, nenhuma com um rosto que ele conhecera antes de chegar naquele porão. Quantas estariam naquela casa? Isso talvez fosse importante mais tarde. Onde ficava aquela casa, afinal? Não fazia ideia da distância que percorrera dentro do baú, sacolejando em alguma carruagem ou carroção. Por que se esquecera do conselho de Moiraine? Não podia confiar em nenhuma Aes Sedai, nem um pouquinho, nem por um instante. Seis Aes Sedai usando o poder para sustentar aquela blindagem deveria ser detectável para qualquer mulher capaz de canalizar que estivesse lá fora. Só precisava que Amys, Bair ou alguma outra passasse na rua e desconfiasse. Elas deviam estar achando que ele desaparecera logo que Coiren deixou o palácio. Bem, isso se houvesse uma rua lá fora. Só precisava…

Tateou outra vez a blindagem, bem lentamente, para que elas não percebessem. Seis pontos. Seis pontos que poderiam ser descritos como macios. Aquilo só podia significar alguma coisa. Desejou que Lews Therin voltasse a falar, mas o único som em sua cabeça eram seus próprios pensamentos vagando pelo Vazio. Seis pontos.

Avançando depressa pela rua que passava junto à grande casa de pedra onde estavam as Aes Sedai, Sorilea mal sentia que as mulheres ainda canalizavam lá dentro. Sentia pouco porque só podia canalizar bem pouco, mas não foi por isso que ignorou o que se passava ali. Aquelas mulheres estavam canalizando dia e noite desde que haviam chegado, e mais nenhuma das Sábias continuava perdendo tempo se perguntando o porquê. Sorilea decerto tinha questões mais importantes em que pensar. No palácio do Assassino da Árvore, as Donzelas já começavam a ficar irritadas com Rand al’Thor, resmungando que o Car’a’carn teria que dar algumas explicações quando voltasse. Sorilea já vivera um bom tempo a mais que qualquer uma daquelas Donzelas, um bom tempo a mais que qualquer Sábia, fosse fraca no Poder ou não, e estava apreensiva. Como quase todo homem, Rand al’Thor saía e voltava quando queria, indo sempre para onde queria — nesse aspecto, os homens eram como os gatos —, mas desta vez ele sumira ao mesmo tempo que Min desaparecera, em algum ponto do caminho entre as tendas e o Palácio. Sorilea não gostava de coincidências, não importava quanto elas fossem frequentes quando o assunto era o Car’a’carn. Apertando o xale contra o corpo para amenizar aquele súbito frio na espinha, rumou depressa de volta para as tendas.