Выбрать главу

Quando Mat e Nalesean passaram por elas, Elayne tratou de esquecê-los no mesmo instante e começou a examinar a rua. Seria maravilhoso encontrar a tigela logo naquele dia. Em especial porque ela formaria dupla com Aviendha na vez seguinte em que saíssem. Elayne estava começando a gostar da mulher, apesar de suas ideias extremamente peculiares a respeito de Rand e delas, mas ela de fato tinha uma tendência a encorajar mulheres que pareciam prontas para sacar uma faca. Aviendha chegava a parecer desapontada pelos homens baixarem o olhar quando ela os encarava, em vez de sacarem uma lâmina como as mulheres fariam!

— Aquele ali — disse Elayne, apontando. Nynaeve estava enganada sobre a construção ter cinco andares. Ou será que não? Elayne torcia muito para que Egwene tivesse encontrado uma solução.

Egwene esperava pacientemente enquanto Logain bebia um pouco mais de água. A tenda dele não era tão espaçosa quanto haviam sido os alojamentos em Salidar, mas ainda era maior que a maioria das demais no acampamento. Tinha de haver espaço para as seis irmãs, sentadas em banquinhos, blindando-o noite e dia. A sugestão de Egwene para que a blindagem fosse amarrada fora encarada com algo próximo ao choque e não muito distante do desdém. Nenhuma das irmãs estava disposta a acatar a sugestão, em particular naquele momento, tão pouco tempo depois de ela ter elevado quatro mulheres a Aes Sedai sem fazerem o teste ou proferirem os votos com o Bastão dos Juramentos, e talvez nunca. Siuan dissera que elas não iriam. O costume mandava que fossem seis, embora, caso ele estivesse tão enfraquecido quanto Siuan e Leane, quaisquer três irmãs no acampamento certamente poderiam ter dado conta de prendê-lo, e o costume dizia que a blindagem em um homem devia ser mantida por mulheres canalizando, e não amarrada. Uma única lamparina provia uma iluminação fraca. Ela e Logain estavam sentados em lençóis dispostos como se fossem tapetes.

— Deixe-me entender — disse Logain ao baixar o copo de estanho. — Você quer saber o que eu acho da anistia de al’Thor? — Algumas irmãs se agitaram em seus banquinhos, talvez por ele não a ter chamado de “Mãe”, embora mais provavelmente por ficarem incomodadas com aquele assunto.

— Quero saber o que você pensa, sim. Você com certeza deve ter uma opinião. Se estivesse em Caemlyn ao lado dele, é muito provável que você já tivesse recebido um lugar de honra. Aqui, você pode ser amansado a qualquer momento. Outra coisa, você diz que conseguiu evitar a loucura por seis anos. Qual é a chance, na sua opinião, de que quaisquer homens que forem até ele possam fazer o mesmo?

— Elas realmente pretendem me amansar de novo? — Sua voz estava calma, mas o tom de voz era ferido e raivoso. — Eu me coloquei inteiramente do lado de vocês e fiz tudo o que me pediram. Me ofereci para prestar qualquer juramento que vocês mandassem.

— O Salão vai decidir em breve. Algumas prefeririam que, convenientemente, você morresse. Se as Aes Sedai recontarem a sua história… Bem, todos sabem que as Aes Sedai não podem mentir. Mas eu não acredito que você precise ficar com medo disso. Você nos serviu bem demais para eu permitir que lhe façam mal. E, aconteça o que acontecer, você ainda pode servir e ver a Ajah Vermelha ser punida, como deseja.

Logain se pôs de joelhos, rosnando de modo ameaçador, mas Egwene abraçou saidar e, em um piscar de olhos, envolveu-o com segurança em fluxos de Ar. As irmãs que mantinham a blindagem estavam com toda a sua força voltada só para isso — outro costume, segundo o qual se devia usar toda a força disponível para manter um homem blindado —, mas várias eram capazes de dividir suas tessituras e, caso elas achassem que Logain fosse machucá-la, uma delas poderia ter desviado uma parte para ele. Mas Egwene não queria correr o risco de que o ferissem.

Os fluxos o mantiveram ali de joelhos, mas ele parecia ignorá-los.

— Vocês querem saber o que eu penso sobre a anistia de al’Thor? Eu queria estar com ele agora! Que queimem todas vocês! Eu fiz tudo o que vocês pediram! Que a Luz queime todas vocês!

— Fique calmo, Mestre Logain. — Egwene se surpreendeu por sua voz ter saído com tanta sobriedade. O coração estava acelerado, embora não por medo dele, claro. — Uma coisa eu juro: nunca vou machucá-lo e, caso esteja ao meu alcance, não vou permitir que qualquer pessoa que me siga lhe faça mal, a não ser que você se volte contra nós. — A fúria desaparecera do seu rosto, substituída por firmeza. Será que ele estava ouvindo? — Mas o Salão vai fazer o que decidir. Está calmo agora? — Logain assentiu de modo cansado, e Egwene soltou os fluxos. Ele tornou a afundar no chão, sem olhar para ela. — Vou conversar com você sobre a anistia quando você estiver mais calmo. Talvez amanhã ou depois. — Logain voltou a fazer que sim com a cabeça, seco e ainda sem encará-la.

Quando ela se abaixou e saiu da tenda, os dois Guardiões que montavam guarda do lado de fora fizeram uma reverência. Ao menos os Gaidin não se importavam por ela ter dezoito anos, uma Aceita elevada a Aes Sedai só por ter sido elevada a Amyrlin. Para os Guardiões, uma Aes Sedai era uma Aes Sedai, e a Amyrlin era a Amyrlin. Ainda assim, ela só se permitiu soltar a respiração quando já estava longe o bastante para que os dois não escutassem.

O acampamento era bem grande, tendas para centenas de Aes Sedai espalhadas pela floresta, para Aceitas, noviças e serviçais, carroças, carroções e cavalos por toda parte. O cheiro de comida da refeição noturna estava forte no ar. Ao redor, estendiam-se as fogueiras do exército de Gareth Bryne, e a maior parte dos homens estava dormindo no chão, não em tendas. O Bando da Mão Vermelha encontrava-se acampado a não mais que dez milhas ao sul. Por mais de duzentas milhas, Talmanes não havia permitido que essa distância variasse mais que cerca de uma milha para qualquer direção, de dia ou de noite. Eles continuavam a desempenhar seu papel no plano de Egwene, conforme sugerido por Siuan e Leane.

As forças de Gareth Bryne haviam crescido nos dezesseis dias desde a partida de Salidar. Dois exércitos marchando devagar rumo ao norte pelo meio de Altara, claramente hostis um ao outro, chamavam atenção. Nobres e suas tropas se adiantavam para se aliarem ao mais forte entre os dois. É verdade que nenhum daqueles lordes e ladies teria feito os juramentos que fez se soubesse que não haveria nenhuma grande batalha em suas terras. É verdade que, se pudessem escolher, todos teriam dado no pé assim que perceberam que o alvo de Egwene era Tar Valon, não um exército de Devotos do Dragão. Mas eles haviam feito os juramentos, ao menos para uma Amyrlin, perante Aes Sedai que se intitulavam o Salão da Torre, com centenas de outras pessoas assistindo. Quebrar esse tipo de voto acabaria trazendo sérias consequências. Além disso, mesmo que a cabeça de Egwene terminasse enfiada numa estaca na Torre Branca, nenhum deles acreditava que Elaida esqueceria o pacto que eles tinham feito. Apesar de se verem presos a uma aliança e a uma fidelidade que não tinham pretendido jurar, estariam entre os seus partidários mais fervorosos. A única saída que tinham dessa situação difícil era ver Egwene usando a estola em Tar Valon.

Siuan e Leane estavam bastante decididas quanto àquilo. Egwene não tinha certeza de como se sentia. Se tivesse havido algum jeito de remover Elaida sem derramar uma única gota de sangue, ela teria aceitado na hora. No entanto, achava que não havia.

Após um pequeno jantar com carne de cabra, nabo e algo que ela não investigou muito de perto para ver o que era, Egwene se retirou para a sua tenda. Não era a maior do acampamento, mas com certeza a maior ocupada por uma única pessoa. Chesa estava lá esperando para ajudá-la a se despir, radiante por ter adquirido da criada de uma lady altarana um pedaço do melhor linho que se poderia imaginar, um material translúcido que renderia camisolas frescas. Egwene costumava deixar Chesa dormir na tenda com ela para lhe fazer companhia, ainda que uma pilha de lençóis não chegasse aos pés da cama dobrável da criada. Naquela noite, Egwene mandou a mulher sair assim que ficou pronta para ir para a cama. Ser a Amyrlin implicava em ter alguns privilégios. Tais como uma tenda exclusiva para a sua criada ou poder dormir sozinha em noites em que isso era necessário.