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Elayne mordiscou o lábio inferior.

— Egwene, você daria… um recado para Min pelas Sábias? Diga a ela… — Ela hesitou, mordiscando o lábio enquanto pensava. — Diga a Min que eu torço para que ela venha a gostar de Aviendha tanto quanto gosta de mim. Eu sei que parece estranho. — Ela riu. — É um assunto particular nosso. — Nynaeve olhou para Elayne de um jeito tão esquisito quanto a própria Egwene devia estar olhando.

— Dou, sim, claro. Mas não pretendo falar com elas de novo por um bom tempo. — Não havia muita razão para tal quando elas se mostravam tão relutantes em compartilhar informações sobre Rand. E tão hostis em relação às Aes Sedai.

— Ah, tudo bem — disse Elayne depressa. — Não é tão importante assim. Bem, se não podemos apelar para a necessidade, vamos ter que apelar para a mobilidade, e, em Ebou Dar, os meus pés estão doendo neste exato momento. Se vocês não se importam, vou voltar para o meu corpo e dormir de verdade um pouco.

— Pode ir — disse Nynaeve. — Vou ficar só mais um pouco. — Quando Elayne desapareceu, ela se virou para Egwene. Seu vestido também mudou, e Egwene achou que sabia muito bem por quê. Virou um azul delicado, decotado. Havia flores no cabelo, e fitas por toda a trança, como haveria caso ela se casasse em Dois Rios. O coração de Egwene ficou apertado por ela. — Você ouviu alguma coisa sobre Lan? — perguntou Nynaeve calmamente.

— Não, Nynaeve, não ouvi. Eu lamento muito. Gostaria de poder lhe dizer mais que isso. Sei que ele ainda está vivo, Nynaeve. E sei que ele ama você tanto quanto você o ama.

— Claro que ele está vivo — rebateu Nynaeve com firmeza. — Não vou permitir nada diferente disso. Quero que ele seja meu. Ele é meu, e eu não vou deixar que o matem.

Quando Egwene acordou, Siuan estava sentada ao lado da cama dobrável, pouco visível na escuridão.

— Já? — perguntou Egwene.

O brilho envolveu Siuan à medida que ela teceu um pequeno selo de proteção contra bisbilhotagem em torno das duas.

— Das seis irmãs em serviço a partir da meia-noite, só três têm Guardiões, e esses Gaidin vão montar guarda do lado de fora. Alguém vai trazer chá de menta para elas, com um pequeno ingrediente a mais cujo gosto elas não devem sentir.

Egwene fechou os olhos por um instante.

— Eu estou agindo certo?

— Você pergunta para mim? — Siuan se engasgou. — Eu fiz o que mandou, Mãe. No que dependesse de mim, eu preferiria pular no meio de um cardume de lúcios famintos do que ajudar aquele homem a escapar.

— Elas vão amansá-lo, Siuan. — Egwene debatera esse assunto com ela, mas precisava repassar tudo de novo sozinha para convencer a si mesma de que não estava cometendo um erro. — Nem mesmo Sheriam dá mais ouvidos a Carlinya, e Lelaine e Romanda estão pressionando. Ou é isso ou alguém vai realmente fazer o que Delana tem insinuado. Eu não vou permitir assassinatos! Se não pudermos julgar um homem e executá-lo, não temos o direito de dar um jeitinho de fazer com que ele morra “acidentalmente”. Eu não vou deixar que o assassinem, e não posso permitir que ele seja amansado. Se Merana realmente deixou Rand irritado por algum motivo, isso vai jogar ainda mais lenha na fogueira. Eu só gostaria de ter certeza de que ele vai atrás de Rand para se juntar a ele, em vez de fugir para sabe lá a Luz onde, para fazer sabe lá a Luz o quê. Assim, pelo menos, poderia haver algum jeito de controlar o que ele faz. — Ela escutou Siuan se mexendo na escuridão.

— Eu sempre pensei que a estola pesasse mais ou menos o mesmo que três homens de bom tamanho — ponderou Siuan, tranquila. — A Amyrlin tem poucas decisões fáceis para tomar, e mais raras ainda são as decisões das quais está completamente certa. Faça o que deve e, se errar, assuma as consequências. Às vezes, é preciso enfrentar consequências mesmo quando se acerta.

Egwene riu baixinho.

— Tenho a impressão de já ter ouvido isso antes. — Depois de um tempinho, sua alegria se dissipou. — Não deixe ele machucar ninguém durante a fuga, Siuan.

— Como ordenar, Mãe.

— Isso é terrível — resmungou Nisao. — Se ficarem sabendo, a condenação vai ser suficiente para mandá-la para o exílio, Myrelle. E eu vou junto. Quatrocentos anos atrás, poderia até ter sido corriqueiro, mas ninguém vai pensar isso nos dias de hoje. Alguns vão dizer que é um crime.

Myrelle ficou contente pela lua já estar baixa. Isso escondia sua careta. Ela era capaz de manejar a Cura sozinha, mas Nisao vinha estudando como tratar enfermidades da mente, algo que o Poder não podia tocar. Myrelle não estava muito convencida de que aquilo contava como uma enfermidade, mas tentaria qualquer ferramenta que pudesse dar certo. Nisao podia estar reclamando, mas Myrelle sabia que a outra preferiria cortar a própria mão a deixar passar aquela chance de aprofundar seus estudos.

Ela conseguia senti-lo lá fora na noite, aproximando-se. Estavam bem longe das tendas, bem além dos soldados, só com árvores esparsas rodeando-as. Sentira-o desde o momento em que seu elo passou para ela, o crime que tanto preocupava Nisao. Um elo com um Guardião passado de uma Aes Sedai para outra sem o consentimento dele. Nisao tinha razão em um ponto: teriam que guardar aquele segredo pelo máximo de tempo possível. Myrelle conseguia sentir os ferimentos dele, alguns quase curados, outros recentes. Alguns gravemente infectados. Ele não teria procurado brigas. Ele tinha que vir atrás dela, tão certo quanto um pedregulho empurrado do alto de uma montanha tinha que rolar até a base. Mas ele também não teria nem tentado fugir de uma batalha. Ela sentira a jornada dele à distância e no sangue. O sangue dele. Por toda Cairhien e Andor, Murandy e, àquela altura, Altara, por terras infestadas de rebeldes e canalhas, bandidos e Devotos do Dragão, concentrado nela feito uma flecha voando em direção ao alvo, abrindo caminho pelo meio de quaisquer homens armados que se interpusessem em seu trajeto. Nem ele conseguiria fazer aquilo sem se ferir. Em sua mente, ela foi somando todas as lesões dele e se admirou por ele ainda estar vivo.

Primeiro, ela ouviu o ruído das patas de um cavalo, uma cadência regular, e só então foi capaz de divisar na noite o imenso cavalo de guerra negro. O cavaleiro também parecia ser a própria noite. Só podia estar trajando seu manto. O cavalo parou a uma boa distância, a umas cinquenta passadas dela.

— Você não deveria ter mandado Nuhel e Croi irem me encontrar — afirmou o cavaleiro indistinto com uma voz ríspida. — Eu quase matei os dois antes de ver quem eram. Avar, já pode sair de trás da árvore. — Mais à direita, a noite pareceu se mover. Avar também usava seu manto e não esperaria ter sido visto.

— Isto é uma loucura — murmurou Nisao.

— Fique quieta — murmurou Myrelle. Falando mais alto, ela intimou: — Venha até mim. — O cavalo não se moveu. Um cão de caça de luto por sua senhora morta não iria até uma nova senhora com tanta boa vontade. Com delicadeza, ela teceu Espírito e tocou a parte dele que continha o elo com ela. Tinha de ser com delicadeza, ou ele ficaria sabendo, e só o Criador sabia que tipo de explosão poderia resultar daquilo. — Venha até mim.