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Isso é que é elegância!

Sim, foi o seu primeiro dia de sorte. O primeiro de muitos. Amanhã, quando recuperar o seu telefone, irá fazer uma ligação a cobrar para uma cidade perto de Chicago contando as grandes novidades, pedindo que comprem as revistas, porque ela foi fotografada subindo os degraus com a Celebridade. Dirá também que foi obrigada a mudar de nome. Mas se perguntarem, excitados, o que vai acontecer, mudará de assunto: tem uma certa superstição em comentar projetos antes que eles se realizem. Irão saber das coisas, à medida que as notícias começarem a pipocar: atriz desconhecida eleita para papel principal. Lisa Winner foi a convidada principal de uma festa 3 8 8

em Nova York. Moça de Chicago, até então desconhecida, é a grande revelação do fi lme de Gibson. Agente negocia contrato milionário com uma das grandes produtoras de Hollywood.

O céu é o limite.

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11:11 PM

— Mas você já está de volta?

— E teria chegado muito antes, se não fosse o trânsito.

Jasmine atira os sapatos de um lado, a bolsa de outro, e joga-se na cama, exausta, sem tirar o vestido.

— As palavras mais importantes em todas as línguas são palavras pequenas. “Sim”, por exemplo. Ou “Amor”. Ou “Deus”. São palavras que saem com facilidade e preenchem espaços vazios em nosso mundo. Entretanto, existe uma palavra — também muito pequena — que eu tenho uma imensa difi culdade em dizer. Mas farei isso agora.

Olhou para a sua companheira:

— Não.

Bateu na cama, pedindo para que sentasse ao seu lado. Acariciou seus cabelos.

— O “não”’ tem fama de maldito, egoísta, pouco espiritual.

Quando dizemos um “sim”, nos achamos generosos, compreensi-vos, educados. Mas é isso que estou lhe dizendo agora: “não”. Não farei o que me pede, o que me obriga, achando que é o melhor para mim. Claro que você vai dizer que tenho apenas 19 anos e ainda não entendo direito o que é a vida. Mas basta uma festa como a de hoje para saber o que desejo e o que não quero de jeito nenhum.

“Nunca pensei em ser modelo. Mais que isso, nunca pensei que era capaz de me apaixonar. Sei que o amor só é capaz de viver em liberdade, mas quem lhe disse que sou escrava de alguém? Sou escrava apenas do meu coração, e neste caso o fardo é suave, e o peso é inexistente. Escolhi você antes mesmo que tivesse me escolhido. Me entreguei a uma aventura que parecia impossível, agüentando sem reclamar todas as conseqüências — desde os preconceitos da sociedade até os problemas com a minha família. Superei tudo para estar aqui com você esta noite, em Cannes, saboreando a vitória de um 3 9 1

excelente desfi le, sabendo que teria outras oportunidades na vida.

Sei que as tenho, junto de você.”

A companheira estendeu-se na cama ao lado dela, e colocou sua cabeça no colo.

— Quem me chamou a atenção para isso foi um estrangeiro que conheci esta noite, enquanto estava ali, perdida no meio da multidão, sem saber exatamente o que dizer. Perguntei o que fazia na festa: respondeu que perdera seu amor, viera até aqui para buscá-la, e agora já não tinha mais certeza de que desejava exatamente aquilo.

Pediu que olhasse ao redor: estávamos cercados de pessoas cheias de certezas, de glórias, de conquistas. Comentou: “Não estão se divertindo. Acham que chegaram ao topo de suas carreiras, e a inevitável descida os assusta. Esqueceram que ainda existe um mundo inteiro para conquistar, porque...”

— ...porque se acostumaram.

— Exatamente. Passaram a ter muitas coisas, e poucas aspirações.

Estão cheios de problemas resolvidos, projetos aprovados, empresas que prosperam sem que seja necessária qualquer interferência. Agora, só lhes resta ter medo da mudança, e por isso vão de festa em festa, de encontro em encontro — para não terem tempo de pensar.

Para encontrarem as mesmas pessoas, e acharem que tudo continua igual. As certezas substituíram as paixões.

— Tire a roupa — disse a companheira, tentando evitar qualquer comentário.

Jasmine levanta-se, tira a roupa, e entra debaixo das cobertas.

— Dispa-se você também. E me abrace. Preciso muito do seu abraço, porque hoje achei que ia me deixar ir embora.

A companheira também tira a roupa, apaga a luz. Jasmine dorme logo em seguida em seus braços. Fica acordada algum tempo, olhando o teto, pensando que, às vezes, uma menina de 19 anos, na sua inocência, consegue ser mais sábia que uma mulher de 38.

Sim, por mais que temesse, por mais insegura que se sentisse neste 3 9 2

momento, seria forçada a crescer. Terá um poderoso inimigo pela frente, HH com certeza vai criar todas as difi culdades possíveis para impedi-la de participar da Semana de Moda, em outubro. Primeiro, insistirá em comprar sua marca. Como isso será impossível, tentará desacreditá-la junto à Federação, dizendo que não cumpri-ra sua palavra.

Os próximos meses seriam muito difíceis.

Mas o que HH e ninguém mais sabe é que ela tem uma força absoluta, total, que a ajudará a superar todas as difi culdades: o amor da mulher que agora se aconchegava entre seus braços. Por ela, faria absolutamente tudo, exceto matar.

Com ela, seria capaz de tudo — inclusive vencer.

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1:55 AM

O jato de sua companhia já está com os motores ligados. Igor toma seu assento preferido — segunda fi leira, lado esquerdo — espera a decolagem. Quando os sinais de apertar o cinto se apagam, vai até o bar, serve uma generosa dose de vodka, e bebe de um gole só.

Por um instante, pensa se realmente tinha enviado direito os recados para Ewa, enquanto ia destruindo mundos à sua volta. Será que devia ter sido mais claro, colocando algo como um bilhete, um nome, coisas assim? Arriscadíssimo — podiam pensar que era um assassino em série.

Não era: tinha um objetivo que felizmente foi corrigido a tempo.

A lembrança de Ewa já não pesava tanto quanto antes. Não a ama como a amava, e não a odeia como passou a odiá-la. Com o passar do tempo, irá desaparecer por completo de sua vida. Que pena; apesar de todos os seus defeitos, difi cilmente tornaria a encontrar outra mulher como ela.

Vai até o bar de novo, abre outra garrafi nha de vodka, e torna a beber. Será que vão se dar conta de que a pessoa que apagava os mundos dos outros era sempre a mesma? Isso já não lhe diz respeito; se tem um único arrependimento, foi o momento em que desejou entregar-se à polícia, durante a tarde. Mas o destino estava do seu lado, e conseguiu terminar sua missão.

Sim, venceu. Mas o vencedor não está só. Seus pesadelos acabaram, um anjo de sobrancelhas grossas vela sobre ele, e irá lhe ensinar o caminho a ser percorrido a partir de agora.

Dia de São José, 19 de março de 2008

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Agradecimentos

Seria impossível escrever este livro sem a ajuda de muitas pessoas que, de maneira aberta ou confi dencial, me permitiram ter acesso às informações aqui contidas. Quando iniciei a pesquisa, não imaginava encontrar tanta coisa interessante por detrás do luxo e do glamour. Além dos amigos que pediram — e terão — seus nomes omitidos aqui, quero agradecer a Alexander Osterwald, Bernadette Imaculada Santos, Claudine e Elie Saab, David Rothkopf (criador do termo “Superclasse”), Deborah Williamson, Fátima Lopes, Fawaz Gruosi, Franco Cologni, Hildegard Follon, James W. Wright, Jennifer Bollinger, Johan Reckman, Jörn Pfotenhauer, Juliette Riga, Kevin Heienberg, Kevin Karroll, Luca Borei, Maria de Lourdes Débat, Mario Rosa, Monty Shadow, Steffi Czerny, Victoria Navaloska, Yasser Hamid, Zeina Raphael, que colaboraram direta ou indiretamente para este livro. Devo confessar que, em sua maior parte, colaboraram indiretamente — já que nunca costumo comentar sobre o tema que estou escrevendo.