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Timmona Portella, o único dos quatro cuja língua materna era o inglês, falava aos berros, como se todos os outros fossem surdos. Até a sua indumentária era gritante: um terno cinzento com uma camisa amarela e uma extravagante gravata de seda azul. O casaco, perfeitamente cortado, ter-lhe-ia disfarçado a barriga enorme se não estivesse desabotoado, deixando ver uns suspensórios azuis.

Inzio Tulippa era o sul-americano típico, com uma ampla camisa de seda branca, que usava por fora das calças, e um lenço vermelho ao pescoço. Segurava respeitosamente o panamá amarelo com uma mão. Falava O “s” com ligeiro sotaque e a sua voz parecia o gorjeio de um rouxinol. Mas naquele dia tinha uma expressão carregada na dura face de índio; era um homem desagradado com o mundo.

Marriano Rubio era, dos presentes, o único que parecia satisfeito consigo mesmo. A sua afabilidade encantou-os a todos. Tinha uma voz educada, muito british, e vestia ao estilo chamado “en pantoufle”: pijama de seda verde e um roupão da mesma cor, mas num tom mais escuro. Calçava chinelos de quarto castanhos debruados a pele branca. Ao fim e ao cabo, estava em casa e podia dar-se ao luxo de aparecer à-vontade.

Tulippa abriu a discussão, dirigindo-se diretamente a Portella com gélida delicadeza: ― Timmona, meu amigo. Paguei muitíssimo dinheiro para afastar o Don do nosso caminho, e continuamos a não ter os bancos. Isto depois de esperarmos quase um ano.

― Meu caro Inzio ― interveio o cônsul-geral, no seu tom calmante e apaziguador. ― Tentei comprar os bancos. O nosso amigo Portella tentou comprar os bancos. Mas deparou-se-nos um obstáculo que não tínhamos previsto. O tal Astorre Viola, o sobrinho do Don. É ele que detém o controle, e recusa-se a vender.

― E então? ― perguntou Inzio. ― Por que é que ainda está vivo?

Portella lançou uma retumbante gargalhada.

― Porque não é assim tão fácil matá-lo. Pus quatro homens a vigiar-lhe a casa, e desapareceram todos. Agora não sei onde diabo se meteu, e tem um enxame de guarda-costas a rodeá-lo sempre que se desloca.

― Ninguém é assim tão difícil de matar ― replicou Tulippa, e a sua voz melodiosa pronunciou as palavras como se fossem os versos de uma canção popular.

Grazziella falou pela primeira vez.

― Conhecemos esse Astorre na Sicília, há uns anos. É um homem com muita sorte, mas também altamente qualificado. Tentamos matá-lo, e pensávamos ter sido bem sucedidos. Se tentarmos outra vez, temos de ter a certeza de não falhar. É um indivíduo extremamente perigoso.

― Estás sempre a dizer que tens um homem do FBI a teu soldo ― disse Tulippa, dirigindo-se a Portella. ― Serve-te dele, pelo amor de Deus.

― Não é assim tão fácil ― retorquiu Portella. ― O FBI não é como o Departamento de Polícia de Nova Iorque. Nunca aceitariam encarregar-se de uma eliminação pura e simples.

― OK. ― disse Tulippa. ― Nesse caso apanhamos um dos filhos do Don e usamo-lo para negociar com o tal Astorre. Marriano, conheces a filha. ― Piscou um olho. ― Podes tratar tu disso.

Rubio não pareceu apreciar a proposta. Inalou com força o fumo da cigarrilha que acendera depois do café e respondeu secamente, sem sombra de delicadeza:

― Não. ― Fez uma pausa. ― Gosto da pequena. Recuso-me a fazê-la passar por uma situação dessas. E oponho-me a que qualquer de vocês o tente.

Ao ouvirem isto, os outros arquearam as sobrancelhas. O cônsul-geral era inferior a qualquer deles em poder real. Rubio notou-lhes a reação e sorriu, voltando à sua afabilidade habitual.

― Sei que tenho esta fraqueza. Apaixono-me. Mas ouçam o que vos digo. Conheço bem o terreno que piso. Sei que o rapto é a tua especialidade, Inzio, mas na América não resulta. Especialmente tratando-se de uma mulher. Agora, se deitares a mão a um dos irmãos e chegares a um acordo rápido com o Astorre, talvez tenhas uma possibilidade.

― O Valerius não ― interveio Portella. ― Pertence aos Serviços Secretos do Exército e tem amigos na CIA. Não queremos meter-nos nesse gênero de trapalhada.

― Nesse caso, vai ter de ser o Marcantonio ― declarou Rubio. Posso encarregar-me da negociação com o Astorre.

― Ofereçam mais dinheiro pelos bancos ― propôs Grazziella, num tom suave. ― Evitem a violência. Acreditem em mim, já passei por tudo isso. Usei armas em vez de dinheiro, e custou-me sempre mais caro.

Ficaram todos a olhar para ele, espantados. Grazziella gozava de uma temível reputação de violência.

― Michael ― disse Rubio ―, estás a falar de bilhões de dólares. E mesmo assim o Astorre não venderá.

Grazziella encolheu os ombros.

― Se temos de agir, seja. Mas tenham cuidado. Se conseguirem trazê-lo para terreno descoberto durante as negociações, poderemos livrar-nos dele.

Tulippa dirigiu a todos um grande sorriso.

― Era o que queria ouvir. E tu, Marriano ― acrescentou ―, vê se deixas de te apaixonar. É um vício muito perigoso.

Marriano Rubio conseguiu finalmente convencer Nicole e os irmãos a sentarem-se com o seu grupo e discutir a venda dos bancos. Astorre Viola, evidentemente, teria também de estar presente, embora Nicole não pudesse garanti-lo.

Antes do encontro, Astorre explicou exatamente aos primos o que deviam dizer e fazer. Todos compreenderam a estratégia: o cartel tinha de ficar convencido de que ele, e só ele, se lhe opunha.

A reunião decorreu na sala de conferências do consulado. Não havia criados, mas fôra preparado um bufete e o próprio Rubio serviu-lhes vinho. Devido aos complicados horários de cada um, o encontro tinha sido marcado para as dez da noite.

Rubio fez as apresentações e conduziu a reunião. Entregou uma pasta a Nicole.

― Está aqui a proposta pormenorizada. Mas, para resumir, oferecemos cinqüenta por cento acima do preço de mercado. Apesar de ficarmos com o controle absoluto, a família Aprile receberá dez por cento dos nossos lucros durante os próximos vinte anos. Podem ficar todos ricos e gozar a vida sem as pressões terríveis que um negócio destes implica.

Esperaram enquanto Nicole passava rapidamente os olhos pelos papéis. Finalmente, ela ergueu os olhos e perguntou:

― Muito impressionante. Mas, digam-me, porquê uma oferta tão generosa?

Rubio sorriu-lhe calorosamente.

― Sinergia ― disse. ― Hoje em dia, todos os negócios têm a ver com sinergia; como os computadores e a aviação, os livros e a edição, a música e as drogas, o desporto e a TV. Tudo sinergias. Com os bancos Aprile, teremos uma sinergia na finança internacional, controlaremos a construção de cidades, a eleição de governos. Este grupo é global e precisamos dos vossos bancos. Por isso a nossa oferta é generosa.

― E os senhores, são sócios em partes iguais? ― inquiriu Nicole, dirigindo-se aos outros membros do grupo.

Tulippa estava muito impressionado pela beleza morena e pela energia daquela jovem. Por isso fez uso de todo o seu charme ao responder:

― Somos legalmente iguais nesta compra, mas deixe-me assegurar-lhe que eu, pessoalmente, considero uma honra estar associado ao nome Aprile. Ninguém admirava mais o seu pai.

Valerius, com uma expressão fechada, falou friamente, dirigindo-se a Tulippa:

― Não me interprete mal, quero vender. Mas prefiro uma venda definitiva, sem a percentagem. Em termos pessoais, quero ficar completamente fora deste assunto.