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Freqüentavam um dos inúmeros ginásios de luxo que existiam em Los Angeles, um ginásio cheio de máquinas computadorizadas e grandes visores de TV nas paredes para que os praticantes pudessem observar-se enquanto faziam os seus exercícios. Tinha um court de basquete, piscina e inclusivamente um ringue de boxe. Os monitores eram todos eles rapazes e raparigas com corpos perfeitos e belos como semi-deuses. Os dois irmãos usavam o ginásio para fazer exercício e também para travar conhecimento com as mulheres que lá iam treinar. Era um excelente terreno de caça para homens como eles, constantemente rodeados de aspirantes a atrizes cuja principal preocupação era manter o corpo em forma e de esposas ociosas e negligenciadas de tipos da alta roda do cinema.

Acima de tudo, porém, Franky e Stace gostavam de jogar basquete. Costumavam aparecer por ali bons jogadores ― por vezes até um dos reservas dos L. A. Lakers. Franky e Stace tinham jogado contra ele e sentido que não se tinham portado mal de todo. O que lhes trouxera doces recordações dos tempos em que eram as estrelas da equipe do liceu. Mas não alimentavam ilusões e sabiam que num jogo a sério as coisas não teriam sido tão fáceis. Enquanto eles davam o máximo, o tipo dos Lakers estivera apenas a divertir-se.

No restaurante do ginásio, confraternizavam com as jovens monitoras e outros associados, e até, ocasionalmente, com uma ou outra celebridade. Era sempre muito agradável, mas era apenas uma pequena parte das suas vidas. Franky treinava a equipe de basquete da escola primária local, um trabalho que levava muito a sério. Estava sempre na esperança de descobrir uma super-estrela em potência e irradiava uma autoridade risonha mas firme que fazia que os miúdos o adorassem. Tinha uma tática de treino favorita: “Muito bem”, costumava dizer, “estão a perder por vinte pontos, e essa é a última parte. Vão para a frente e marcam os primeiros dez pontos. Agora, têm os tipos onde os querem... podem ganhar. É só uma questão de coragem e de confiança. É sempre possível ganhar. Estão a perder por dez, depois por cinco, depois empatam. E têm-nos na mão!”

Claro que nunca resultava. Os miúdos não eram suficientemente desenvolvidos fisicamente nem suficientemente duros psiquicamente. Eram apenas miúdos. Mas Franky sabia que os que tinham verdadeiro talento nunca esqueceriam a lição e que isso havia de ajudá-los mais tarde.

Stace concentrava-se na gestão da loja e era ele quem decidia que serviços aceitavam. O critério era sempre o mesmo: risco mínimo e preço máximo. Stace acreditava piamente nas estatísticas e tinha, além disso, uma certa tendência para ser agourento. A grande vantagem dos dois irmãos era que raramente discordavam fosse no que fosse. Tinham os mesmos gostos e praticamente as mesmas capacidades físicas. De vez em quando trocavam uns golpes no ringue de boxe ou jogavam um-para-um no campo de basquete.

Com quarenta e três anos, gostavam da vida que faziam, mas falavam com freqüência de voltar a casar e criar família. Franky tinha uma amante em São Francisco e Stace uma namorada em Vegas, uma corista. Nenhuma delas revelava a mínima inclinação para o casamento e os irmãos sentiam que aquilo era apenas uma maneira de entreter o tempo, enquanto esperavam que aparecesse alguém.

Simpáticos como eram, faziam amigos com grande facilidade e tinham uma vida social intensa. No entanto, passaram o ano que se seguiu ao assassínio do Don com alguma apreensão. Não era possível matar sem algum perigo um homem como Don Raymonde Aprile.

Em Novembro, Stace telefonou a Heskow para falar dos segundos quinhentos mil dólares do preço combinado. O telefonema foi curto e aparentemente ambíguo.

― Viva ― disse Stace. ― Passamos por ai mais ou menos dentro de um mês. Tudo OK?

Heskow pareceu satisfeito por ouvi-lo.

― Tudo perfeito ― respondeu. ― Tudo pronto. Podes ser mais específico quanto à data? ão quero que apareçam quando eu estiver fora por qualquer motivo.

Stace riu-se e disse, despreocupadamente:

― Nós encontramos-te. OK? Mais ou menos um mês. ― E desligou

A recolha do dinheiro num negócio daquele tipo envolvia sempre um elemento de risco. Por ezes, as pessoas detestavam ter de pagar por um trabalho que já fora feito. Acontecia em todos os ramos de atividade. E depois havia os que tinham a mania das grandezas e pensavam que eram tão bons como os profissionais. No caso de Heskow, o risco era mínimo ― sempre fora um intermediário de absoluta confiança. Mas aquela história do Don era especial, e o valor em causa também. Por isso não queriam que conhecesse adiantadamente os seus planos.

No último ano, os dois irmãos tinham começado a praticar tênis, mas era o único desporto que os derrotava. Atleticamente dotados como eram, recusavam-se a aceitar esta derrota, apesar de lhes ter sido explicado que o tênis era um desporto em que se tinha de começar muito cedo, que na realidade dependia de certas mecânicas, como aprender uma linguagem. Por isso decidiram passar três semanas num rancho-clube de ténis em Scottsdale, no Arizona, para um curso de iniciação. Seguiriam de lá para Nova Iorque, para o encontro com Heskow. Claro que enquanto estivessem em Scottsdale iriam passar algumas noites a Las Vegas, que ficava a menos de uma hora de avião.

O clube era superluxuoso. Franky e Stace ficaram instalados num bangalô com dois quartos, ar-condicionado, uma sala de jantar decorada com motivos índios, uma sala de estar com alpendre e uma pequena cozinha. Tinham uma vista soberba para as montanhas. Havia um bar, um grande frigorífico e um televisor gigantesco.

As três semanas começaram, porém, da pior maneira. Um dos instrutores embirrou com Franky. Franky era de longe o melhor do grupo de principiantes, e orgulhava-se em especial do seu serviço, completamente inortodoxo e selvagem, mas que, fosse pelo que fosse, parecia irritar particularmente o tal instrutor, um homem chamado Leslie.

Certa manhã, Franky disparou a bola para o campo do adversário, que não conseguiu chegar sequer perto dela, e voltou-se muito orgulhoso para Leslie.

― Foi um ás, não foi?

― Não ― respondeu Leslie, friamente. ― Foi falta. O seu pé pisou a linha de serviço. Tente outra vez, com um serviço correto. Aquele que arrisca vai bater mais vezes fora do que dentro.

Franky fez novo serviço, rápido e certeiro.

― Ás, certo?

― Falta ― respondeu Leslie, lentamente. ― E esse seu serviço não presta. Limite-se a colocar a bola do outro lado. É um jogador bastante bom, para principiante. Jogue para o ponto.

Franky ficou irritado, mas controlou-se.

― Ponha-me a jogar contra alguém que não seja um principiante disse. ― A ver como me safo. Que tal você? ― acrescentou.

Leslie lançou-lhe um olhar de desdém.

― Não jogo com principiantes ― declarou. Fez sinal a uma jovem com cerca de trinta anos que ia a passar. ― Rosie, faz uma partida de um set aqui com o Sr. Sturzo ― pediu.

A jovem acabava de entrar no court. Vestia calções brancos que lhe realçavam as pernas elegantes e bronzeadas e uma blusa cor-de-rosa com o logotipo do clube no peito. Tinha um rosto bonito e malicioso e usava os cabelos presos num rabo-de-cavalo.

― Tem de dar-me alguma vantagem ― disse Franky, desarmantemente. ― Parece demasiado boa. É instrutora?

― Não ― respondeu Rosie. ― Estou cá para ter umas lições de serviço. O Leslie é o campeão dos treinadores nessa área.