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― Foi porque gostou verdadeiramente de vocês ― afirmou Astorre. ― Era louca especialmente por ti, Franky. Foi duro para ela. Muito duro.

― Então por que o fez? ― cuspiu desdenhosamente Franky.

― Porque eu lhe dei muito dinheiro. Mesmo muito dinheiro. ― Tu sabes como é, Franky.

― Não, não sei.

― Calculo que há de ter custado uma grande porção de massa convencer um par de tipos como vocês a aceitarem um contrato sobre Don Aprile ― disse Astorre, coloquialmente. ― Um milhão? Dois milhões?

― Está enganado ― afirmou Stace. ― Não tivemos nada a ver com isso. Não somos assim tão estúpidos.

― Sei que foram vocês os atiradores ― retorquiu Astorre. ― Têm reputação de ser homens de tomates. Fiz uma investigaçãozinha a vosso respeito. Ora bem, o que quero de vocês é o nome do intermediário.

― Está enganado ― repetiu Stace. ― Não pode atirar-nos com isso para cima. E, ao fim e ao cabo, quem raio e você?

― Sou o sobrinho do Don. O super-varredor dele. Passei quase seis meses a investigá-los aos dois. No dia do assassínio, não estavam em L. A. Estiveram ausentes mais de uma semana. Tu, Franky, faltaste a dois treinos dos miúdos. E tu, Stace, não apareceste na loja uma única vez. Nem sequer telefonaram. Digam-me então onde estiveram.

― Eu estive em Vegas, a jogar ― respondeu Franky. ― E podíamos conversar melhor se mandasse tirar algumas destas merdas. Não somos a porra do Houdini.

Astorre dirigiu-lhe um sorriso de compreensão.

― Daqui a pouco - disse. ― E tu, Stace?

― Estive com a minha namorada em Tahoe. Como diabo quer que me lembre?

― Talvez tenha mais sorte falando separadamente com cada um de vocês ― disse Astorre.

Deixou-os e desceu à cozinha, onde Monza fizera café. Disse-lhe que pusesse os dois irmãos em quartos separados e mantivesse constantemente dois guardas com cada um deles. Monza dispunha de uma equipe de seis homens.

― Tem a certeza de ter apanhado os tipos certos? ― perguntou Monza.

― Penso que sim. Senão, pouca sorte a deles. Detesto pedir-te isto, Aldo, mas talvez tenhas de ajudá-los a falar.

― Bem, nem todos falam ― disse Monza. ― Custa a crer, mas há pessoas muito teimosas. E esses dois parecem-me bastante duros.

― Odeio ter de descer tão baixo ― murmurou Astorre.

Esperou uma hora antes de subir até ao quarto para onde Franky fora levado. Apesar da escuridão lá fora viu, à luz refletida do candeeiro, os flocos de neve a caírem num lento rodopio. Franky estava no chão, tão manietado como antes.

― É tão simples como isso ― disse-lhe Astorre. ― Dá-me o nome do intermediário, e talvez saias daqui com vida.

Franky olhou para ele com ódio.

― Nunca te direi porra de coisa nenhuma, seu pedaço de merda. Apanhaste os tipos errados. E eu hei de lembrar-me da tua cara, e hei de lembrar-me da Rosie.

― Essa foi a pior resposta que podias dar ― observou Astorre, calmamente.

― Também andavas a comê-la? ― perguntou Franky. ― És o chulo dela?

Astorre compreendeu. Franky nunca perdoaria a traição de Rosie. Que frívola resposta a uma situação tão séria.

― Acho que estás a ser estúpido ― disse. ― E vocês os dois têm fama de ser espertos.

― Estou cagando para o que tu achas. Não podes fazer nada se não tiveres provas!

― Palavra? Nesse caso estou a perder tempo contigo ― respondeu Astorre. ― Vou falar com o Stace.

Voltou à cozinha para beber mais café antes de interrogar Stace. Ponderou o fato de Franky ser capaz de mostrar-se tão confiante e falar tão audaciosamente na situação em que estava. Bom, teria de sair-se melhor com Stace. Encontrou-o desconfortavelmente atirado para cima da cama.

― Tirem-lhe o colete ― ordenou aos guardas. ― Mas verifiquem as algemas e as grilhetas.

― Já percebi ― disse-lhe Stace, calmamente. ― Sabes que temos dinheiro. Posso arranjar as coisas de maneira que fiques com ele e pôr fim a este disparate.

― Acabo de ter uma conversa com o Franky ― respondeu Astorre. ― Estou muito desapontado com ele. Tu e o teu irmão são supostos ser dois tipos muito espertos. Agora vens falar-me de dinheiro, quando sabes perfeitamente que isto tem a ver com o assassínio do Don.

― Não fomos nós ― afirmou Stace.

― Sei que não estavas em São Francisco ― disse Astorre, calmamente ―, e sei que o Franky não estava em Vegas. Vocês são os dois únicos free-lancers com tomates suficientes para aceitar aquele serviço. E os atiradores eram canhotos, como tu e o Franky. Portanto, tudo o que agora quero saber é quem foi o vosso intermediário.

― Por que é que havia de dizer-te? ― atirou-lhe Stace. ― Vocês não usam máscaras, expuseram a Rosie, o que quer dizer que não vão deixar-nos sair daqui com vida. Prometas tu o que prometeres.

Astorre suspirou.

― Não vou enganar-te. É mais ou menos isso. Mas há uma coisa que podem negociar. Sem dor ou à bruta. Tenho comigo um Homem Qualificado. Vou pô-lo a trabalhar no Franky.

Ao dizer isto, Astorre sentiu um mal-estar no estômago. Lembrou-se de como Aldo Monza trabalhara Fissolini.

― Perdes o teu tempo ― afirmou Stace. ― O Franky não fala.

― Talvez não ― admitiu Astorre. ― Mas vão cortá-lo pedacinho a pedacinho, e cada pedacinho vai ser-te trazido para que o vejas. Imagino que nessa altura falas tu. Mas por que é que havemos de ir por esse caminho? E, Stace, por que é que queres proteger esse teu intermediário? Ele tinha a obrigação de cobrir-te, e não te cobriu.

Stace não respondeu. Então perguntou: ― Poupas o Franky?

― Sabes bem que não posso.

― Como é que podes ter a certeza de que não te minto?

― Por que diabo havias de mentir? O que é que ganhavas com isso? Stace, podes evitar que o Franky passe por uma coisa verdadeiramente horrível. Tenta ver as coisas claramente.

― Nós fomos apenas os atiradores, a fazer um serviço ― disse Stace. É o tipo acima que tu queres. Por que é que não podes deixar-nos ir?

Astorre encheu-se de paciência.

― Stace, tu e o teu irmão aceitaram o trabalho de matar um grande homem. Muito dinheiro. Grande empurrão para o ego. Ora vamos, vocês gostaram. Fizeram a vossa jogada e perderam, e agora têm de pagar, ou o mundo inteiro deixa de fazer sentido. Tem de ser. A única coisa que lhes resta escolher é a maneira. Sem dor, ou à bruta. Dentro de uma hora podes estar a olhar para uma parte muito importante do Frankie em cima daquela mesa. Acredita que não quero fazê-lo, palavra que não.

― Como é que sei que isso não é só conversa?

― Pensa, Stace. Pensa como vos enganei com a Rosie. Muito tempo e muita paciência. Pensa. Trouxe-vos para esta casa e tenho oito homens armados. Muita despesa e muito trabalho. E ainda por cima na antevéspera de Natal. Sou um tipo muito sério, Stace, acho que consegues ver isso. Prometo-te que, se falares, o Franky nem dará por nada.

Astorre desceu uma vez mais à cozinha. Monza estava à espera. ― Então? ― perguntou.

― Não sei ― respondeu Astorre. ― Mas amanhã tenho de estar na festa de Natal da Nicole, portanto temos de resolver isto esta noite.

― Não demora mais de uma hora ― disse Monza. ― Nessa altura, ou falou ou está morto.