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―Trago-te mais tarde, e o Marc também. Não te preocupes, não vai acontecer nada. E se acontecer, será pior para eles do que para nós.

Um pouco depois do meio-dia, Astorre, Aldo Monza e Bruno Portella estavam sentados na sala privada do restaurante Paladin, na East Sixties.

Bruno não parecia minimamente preocupado com o fato de ser refém. Conversava animadamente com Astorre.

― Sabe uma coisa, vivi toda a minha vida em Nova Iorque e nem sequer sabia que o Central Park tinha um zoo. Acho que mais pessoas deviam saber e ir vê-lo.

― Portanto, divertiste-te ― respondeu Astorre num tom bem-humorado, pensando que, se as coisas corressem mal, Bruno teria pelo menos uma recordação agradável antes de morrer. A porta da sala abriu-se e o dono do restaurante apareceu, seguido por Timmona Portella e Marcantonio. O enorme vulto de Portella, com a sua roupa elegante, feito por medida, quase escondia completamente Marcantonio, um pouco atrás dele. Bruno correu para os braços de Timmona e beijou-o nas duas faces, e Astorre ficou espantado ao ver a expressão de amor e satisfação no rosto de Timmona.

― Que irmão! ― exclamou Bruno, entusiasmado. ― Que irmão!

Astorre e Marcantonio, pelo contrário, limitaram-se a trocar um aperto de mão, e depois Astorre deu-lhe um meio abraço e disse.

― Está tudo bem, Marc.

Marcantonio voltou-lhe as costas e sentou-se. Sentia as pernas fracas, em parte de alívio, em parte devido ao ar de Astorre. O rapazinho que gostava de cantar, o jovem voluntarioso mas alegre, tão descuidado e encantador, surgia agora sob a sua verdadeira forma, como o Anjo-da-Morte. O poder da sua presença dominava Portella no seu medo e fanfarronice. Astorre sentou-se ao lado do primo e deu-lhe uma palmadinha no joelho. Estava a sorrir afavelmente, como se aquilo fosse apenas um almoço de amigos.

― Estás bem? ― perguntou.

Marcantonio olhou-o diretamente nos olhos. Nunca antes reparara em como eram claros e implacáveis. Olhou para Bruno, o homem que teria pago pela sua vida. Estava a tagarelar com o irmão, qualquer coisa a respeito do zoo de Central Park.

― Temos coisas a discutir ― disse Astorre a Portella.

― OK. ― respondeu Portella. ― Bruno, desaparece-me daqui. Está um carro à espera lá fora. Falo contigo quando chegar a casa.

Mona entrou na sala.

― Leva o Marcantonio a casa ― disse-lhe Astorre. ― Marc, espera lá por mim.

Portella e Astorre estavam agora sozinhos, sentados frente-a-frente, um de cada lado da mesa. Portella abriu a garrafa de vinho e encheu o seu próprio copo. Não se ofereceu para servir Astorre.

Astorre meteu a mão no bolso do casaco e tirou dele um sobrescrito castanho, cujo conteúdo espalhou em cima da mesa. Estava ali o documento confidencial que assinara para Cilke, aquele em que lhe era pedido que traísse Portella. E estava também o pequeno gravador de cassetes, com a fita lá dentro. Portella olhou para o documento com o logotipo do FBi e leu-o. Atirou-o para o lado.

― Pode ser uma falsificação ― disse. ― E por que havias tu de ser suficientemente estúpido para assinar uma coisa destas?

Em vez de responder, Astorre premiu o botão do gravador, e ouviu-se a voz de Cilke a pedir-lhe que colaborasse com ele para apanhar Portella. Portella escutou e tentou controlar a surpresa e a raiva que sentia, mas a cara pusera-se-lhe intensamente vermelha e movia os lábios em pragas mudas. Astorre parou a fita.

― Sei que tens trabalhado para o Cilke durante os últimos seis anos ― disse. ― Ajudaste-o a acabar com as Famílias de Nova Iorque. E também sei que foi por isso que ele te prometeu imunidade. Mas agora anda atrás de ti. Esses tipos que usam distintivos nunca estão satisfeitos. Querem tudo. Pensavas que ele era teu amigo. Quebraste a omertà por ele. Tornaste-o famoso, e agora ele quer mandar-te para a prisão. Já não precisa de ti. Vai caçar-te assim que comprares os bancos. Era por isso que eu não podia fazer o negócio. Nunca quebraria a omertà.

Portella ficou muito calado, e então pareceu tomar uma decisão.

― Se eu resolver o assunto do Cilke, que negócio propões para os bancos?

Astorre voltou a guardar tudo no bolso.

― Venda total. Exceto no meu caso. Fico com uma fatia de cinco por cento.

Portella parecia ter recuperado do choque.

― OK ― disse. ― Podemos tratar dos pormenores depois de o problema estar resolvido.

Apertaram as mãos para selar o negócio e Portella foi o primeiro a sair. Astorre apercebeu-se de que estava cheio de fome e encomendou um grande bife mal passado. Um problema resolvido, pensou.

À meia-noite, Portella encontrou-se com Marriano Rubio, Inzio Tulippa e Michael Graziella, no consulado do Peru.

Rubio foôa um anfitrião excepcional para Tulippa e Grazziella. Acompanhara-os ao teatro, à ópera e ao balle e providenciara a companhia de jovens belas e discretas que tinham alcançado alguma fama nas artes e na música. Estavam os dois a ter uma estada maravilhosa e pareciam relutantes em regressar aos respectivos ambientes naturais, muito menos estimulantes. Eram como pequenos reis paparicados por um imperador todo-poderoso que não se poupava a esforços para lhes agradar.

Nessa noite, o cônsul-geral excedeu-se em hospitalidade. A mesa de reuniões vergava sob o peso dos pratos exóticos, frutas, queijos e grandes bombons de chocolate; ao lado de cada cadeira havia uma garrafa de champanhe num balde de gelo. Pequenos bolos coloridos enfeitavam os degraus de delicadas estruturas de açúcar caramelizado. Espalhadas pela mesa viam-se caixas de charutos cubanos, maduros, castanhos-claros e verdes.

Rubio iniciou a sessão dirigindo-se a Portella:

― Ora bem, o que foi que aconteceu de tão importante ao ponto de nos obrigar a cancelar os nossos compromissos por causa deste encontro?

Malgrado a sua requintada delicadeza, havia na voz do cônsul-geral uma nota de condescendência que enfureceu Portella. E sabia que ficaria diminuído aos olhos dos sócios quando soubessem da duplicidade de Cilke. Contou-lhes a história toda.

Tulippa estava a comer um bombom quando perguntou, com uma voz carregada de desprezo: ― Queres dizer que tiveste o Marcantonio Aprile em teu poder e fizeste um acordo para libertar o teu irmão sem nos consultares?

― Não podia deixar o meu irmão morrer ― replicou Portella. ― E além disso, se não tivesse feito o acordo, teríamos caído na armadilha do Cilke.

― Verdade ― admitiu Tulippa. ― Mas cabia-nos a nós tomar a decisão.

― Pois sim ― disse Portella ― E quem...

― Todos nós! ― gritou Tulippa. ― Somos teus sócios.

Portella olhou para ele e perguntou a si mesmo o que o impediria de matar aquele untuoso filho-da-puta. Mas então lembrou-se dos cinqüenta panamás amarelos atirados ao ar.

O cônsul-geral pareceu ter-lhe lido a mente. Disse, apaziguadoramente:

― Todos nós vimos de culturas diferentes e temos diferentes valores. Precisamos de adaptar-nos uns aos outros, Timmona é um americano, um sentimentalista.

― O irmão dele é um merda de um atrasado mental ― declarou Tulippa, calmamente.

Rubio abanou um dedo na sua direção.

― Inzio, fazes o favor de deixar de arranjar problemas só para te divertires? Todos nós temos o direito de decidir os nossos assuntos pessoais.