Выбрать главу

Grazziella esboçou um pequeno sorriso divertido.

― Isso é verdade. Tu, Inzio, nunca confiaste em nós ao ponto de nos falares dos teus laboratórios secretos. E desse teu desejo de possuir armas pessoais. Uma idéia tão louca. Pensas que o governo tolerará semelhante ameaça? Modificarão todas as leis que hoje nos protegem e nos permitem prosperar.

Tulippa riu-se. Estava a gostar daquela reunião.

― Sou um patriota ― declarou. ― Quero que a América do Sul tenha condições para defender-se de países como Israel, a índia, e o Iraque. Rubio sorriu-lhe com uma expressão benigna.

― Não te sabia tão nacionalista.

Portella não achou graça.

― Tenho aqui um grave problema. Pensava que o Cilke era meu amigo. Investi nele uma grande porção de dinheiro. E agora prepara-se para vir atrás de mim, e atrás de vocês.

Grazziella falou sem rodeios, vigorosamente: ―Temos de abandonar todo o projeto. Temos de viver com menos. ― já não era o homenzinho agradável que todos conheciam. ― Temos de encontrar outra solução. Esqueçam o Kurt Cilke e o Astorre Viola. São inimigos demasiado perigosos. Não devemos enveredar por um caminho que pode destruir-nos a todos.

― Isso não resolve o meu problema ― redargüiu Portella. ― O Cilke não vai deixar-me em paz.

Também Tulippa deixou cair a sua máscara de afabilidade. Voltou-se para Grazziella.

― O fato de advogares uma solução tão pacífica vai contra tudo o que sabemos a teu respeito. Na Sicília, matas polícias e magistrados. Assassinaste o governador e a mulher. Tu e a tua cosca Corleonesi mataram o general que o governo enviou para destruir a tua organização. E agora dizes-nos para desistirmos de um projeto que vai render-nos bilhões de dólares? E para abandonarmos o nosso amigo Portella?

― Vou liquidar o Cilke ― declarou Portella. ― Digam vocês o que disserem.

― Uma linha de ação extremamente perigosa ― interveio Rubio. ― O FBI declarar-nos-á guerra. Utilizarão todos os seus recursos para encontrar o assassino.

― Concordo com o Timmona ― disse Tulippa. ― O FBI opera com limitações legais e pode ser controlado. Fornecerei uma equipe de assalto, e horas depois da operação estarão num avião a caminho da América do sul.

― Bem sei que é perigoso ― insistiu Portella ―, mas é a única solução.

― Concordo ― tornou Portella. ― Por uns quantos bilhões de dólares, há que correr alguns riscos. Ao fim e ao cabo, o que é que andamos aqui a fazer?

Rubio dirigiu-se a Inzio.

― Tu corres um risco mínimo, uma vez que tens imunidade diplomática. Tu, Michael, regressas à Sicília, pelo menos por agora. Serás tu, Timmona, a suportar o grosso das conseqüências.

― Se as coisas chegarem ao pior, posso esconder-te na América do Sul ― prometeu Inzio.

Portella abriu as mãos no ar, num gesto de impotência.

― Serei eu a escolher ― disse ―, mas quero o vosso apoio. Michael, estás de acordo?

. O rosto de Grazziella manteve-se impassível.

― Sim, estou de acordo. Mas no teu lugar preocupava-me mais com o Astorre Viola do que com o Kurt Cilke.

Capítulo 11

Quando recebeu a mensagem de Heskow, codificada e urgente, a pedir um encontro, Astorre tomou assuas precauções. Havia sempre a possibilidade de uma armadilha, de uma traição. Por isso, em vez de responder ao recado, apareceu inesperadamente em casa de Heskow, em Brightwaters, à meia-noite. Levou Aldo Monza consigo e um segundo carro com mais quatro homens. Além disso, usava um colete à prova de bala. Chamou-o cá de fora, para obrigá-lo a abrir a porta.

Heskow não pareceu surpreendido. Serviu café para os dois e então, sorrindo, disse: ― Tenho boas notícias e más notícias. Quais quer primeiro?

― Despeje ― disse Astorre.

― Primeiro as más, então. Tenho de abandonar definitivamente o país, e a causa são as boas notícias. Espero que cumpra a sua promessa. De que nada acontecerá ao meu filho, mesmo que eu deixe de trabalhar para si.

― Tem essa promessa ― aquiesceu Astorre. ― Agora diga-me, por que é que tem de abandonar o país?

Heskow abanou a cabeça, num cômico gesto de comiseração.

― Porque o cretino do Portella passou-se de todo. Vai liquidar o Cilke, o tipo do FBI. E quer que eu chefie a equipe operacional.

― Por que não recusa? ― perguntou Astorre.

― Porque não posso. A ordem partiu de todo o grupo que está com ele, e se eu recusar vou pelo cano, e provavelmente o meu filho também. Portanto, vou organizar o golpe, mas não acompanharei a equipe. Nessa altura já estarei bem longe. Quando despacharem o Cilke, o FBI manda uma centena de homens para aqui e não deixa uma pedra por virar até resolver o caso. Disse-lhes isto mesmo, mas eles estão-se cagando. O Cilke traiu-os, ou lá o que foi. Estão convencidos de que podem sujá-lo o suficiente para que a coisa não vá muito longe.

Astorre esforçou-se por não mostrar a sua satisfação. Tinha resultado. Cilke morreria sem qualquer perigo para ele. E com um pouco de sorte, o FBI desembaraçar-se-ia de Portella.

― Quer deixar-me um endereço? ― perguntou.

Heskow sorriu com uma desconfiança quase desdenhosa.

― Não me parece bom ― disse. ― Não que não confie em si; mas posso sempre entrar em contato consigo.

― Bom, obrigado por ter-me dito. Só mais uma coisa. Quem tomou verdadeiramente essa decisão?

― O Timmona Portella. Mas o Inzïo Tulippa e o cônsul assinaram por baixo. O Corleonesi, o tal Grazziella, lavou as mãos do assunto. Distanciou-se de toda a operação. Acho que se vai embora para a Sicília. O que é curioso, uma vez que, segundo parece, matou quase toda a gente que lá havia.

― A verdade é que não conseguem compreender como é que a América funciona, e o Portella é pura e simplesmente estúpido. Diz que pensava que ele e o Cilke eram amigos a sério.

― Vai então chefiar a equipe operacional ― comentou Astorre. ― Também não é lá muito inteligente.

― Não, já lhe disse que quando eles atacarem a casa já eu estarei muito longe.

― A casa? ― perguntou Astorre. E nesse instante teve medo daquilo que sabia que ia ouvir.

― Exato ― respondeu Heskow. ― Uma grande equipe de ataque, que depois do golpe se mete num avião para a América do Sul e desaparece.

― Muito profissional ― disse Astorre. ― E quando vai ser isso?

― Depois de amanhã à noite. ― Tudo o que tem de fazer é manter-se afastado e eles resolvem-lhe todos os problemas. São essas as boas notícias.

― Pois são. ― Astorre manteve uma expressão impassível, mas no seu espírito estava a imagem de Georgerte Cilke, da sua beleza e bondade.

― Achei que era boa idéia avisá-lo, de modo a poder preparar um bom álibi ― continuou Heskow. ― É uma que me fica a dever, portanto tome conta do meu filho.

― Pode apostar que sim ― respondeu Astorre. ― Não se preocupe com isso.

Apertou a mão a Heskow antes de sair.

― Penso que faz bem em sair do país ― disse. ― Vai ser o diabo à solta.

― Pois vai ― concordou Heskow.

Por um instante, Astorre perguntou a si mesmo o que fazer com ele. Ao fim e ao cabo, o homem conduzira o carro dos assassinos do Dom. Tinha de pagar por isso, por muito que o tivesse ajudado. Mas Astorre sofrera uma certa perda de energia ao saber que a mulher e a filha de Cilke seriam mortas juntamente com ele. Deixa-o ir, pensou. Ainda pode vir a ser-te útil mais tarde. Teria então muito tempo para matá-lo. Olhou para o rosto sorridente de Heskow, e devolveu-lhe o sorriso.