De erika.berger@millennium.se
A mikael.blomkvist@ millennium.se:
[Sandhamn? Vou aí te ver assim que eu puder.]
De mikael.blomkvist@millennium.se
A erika.berger@ millennium.se:
[Não venha já. Espere algumas semanas, pelo menos até eu ter um texto consistente. Além disso, estou esperando uma visita.]
De erika.berger@millennium.se
A mikael.blomkvist@millennium.se:
[Certo, não vou impor a minha presença, claro. Mas tenho o direito de saber o que está acontecendo. Henrik Vanger tornou-se membro do conselho, mas ele não responde quando chamo. Se o acordo com Vanger deu em nada, você precisa me dizer. Não sei o que fazer. Preciso saber se a revista vai continuar ou não. Ricky.
P. S. Como ela se chama?]
De mikael.blomkvist@millennium.se
A erika.berger@millennium.se:
[Primeiro: fique tranquila, Henrik não vai sair. Mas ele teve um infarto sério e só tem trabalhado poucas horas por dia, e suponho que o impacto causado pela morte de Martin e a ressurreição de Harriet absorveu todas as suas forças.
Segundo: a Millennium vai continuar. Estou trabalhando na reportagem mais importante da nossa vida e, quando a publicarmos, liquidaremos Wennerström de uma vez por todas.
Terceiro: minha vida está de pernas para o ar neste momento, mas entre mim, você e a Millennium nada mudou. Confie em mim. Bjs. Mikael.
P. S. Te apresentarei a ela assim que der. Você vai se surpreender.]
Quando Lisbeth Salander chegou a Sandhamn, foi recebida por um Mikael de olheiras e com uma barba de alguns dias. Ele a abraçou rapidamente e pediu que preparasse um café enquanto terminava uma passagem do texto.
Lisbeth deu uma olhada na cabana e percebeu quase imediatamente que se sentia bem ali. O chalezinho ficava junto a um pontão, com o mar a dois metros da porta. Media apenas seis metros por cinco, mas a construção tinha altura suficiente para um mezanino, ao qual se chegava por uma escada em caracol. Lisbeth podia ficar de pé ali, porém Mikael era obrigado a baixar um pouco a cabeça. Ela inspecionou a cama e constatou que era suficientemente larga para os dois.
A cabana tinha uma janela ampla que dava para o mar, bem ao lado da porta de entrada. A mesa da cozinha também servia como mesa de trabalho para Mikael. Na parede ao lado dela, havia uma pequena prateleira com um aparelho de CD e alguns discos de Elvis Presley e de hard rock, dois gêneros que ela não teria posto no topo da sua lista.
Num canto havia um aquecedor a lenha. O resto da mobília resumia-se a um grande armário embutido, para guardar roupas, lençóis e toalhas, e uma bancada de cozinha que prosseguia, separada por uma cortina, até uma pia e um chuveiro. Acima da bancada abria-se uma pequena janela. Sob a escada em caracol, Mikael montara um banheiro com vaso sanitário. Toda a cabana lembrava a cabine de um barco, com arranjos e compartimentos engenhosos.
Na sua investigação particular sobre Mikael Blomkvist, ela dissera que ele mesmo havia reformado a cabana e cuidado da decoração — dedução baseada no e-mail que um amigo de Mikael, impressionado com sua habilidade, lhe enviara após uma visita a Sandhamn. Tudo era limpo, modesto e simples, quase espartano. Ela entendeu por que gostava tanto daquela cabana.
Depois de duas horas, ela conseguiu distrair a atenção de Mikael do trabalho. Ele deixou o computador com ar frustrado, barbeou-se c levou-a para conhecer Sandhamn. O tempo estava chuvoso e ventava, e eles logo foram para o albergue. Mikael contou o que havia escrito, e Lisbeth lhe entregou um CD com informações atualizadas do PC de Wennerström.
Depois voltaram para a cabana, e no mezanino ela conseguiu despi-lo e distraí-lo ainda mais. Lisbeth despertou tarde da noite sozinha na cama e, ao dar uma espiada para baixo, o viu debruçado sobre o teclado. Ficou um bom tempo com a cabeça apoiada na mão, olhando-o. Ele parecia feliz e ela, por sua vez, sentiu-se estranhamente satisfeita com a vida.
Lisbeth só ficou cinco dias. Depois voltou a Estocolmo, atendendo a um chamado de Dragan Armanskij ao telefone, que, desesperado, a convocava para um novo trabalho. Dedicou a esse trabalho onze dias, fez seu relatório e regressou a Sandhamn. A pilha de folhas impressas ao lado do notebook de Mikael crescera.
Desta vez ficou quatro semanas. Eles acabaram criando uma espécie de rotina. Levantavam-se às oito e tomavam o café-da-manhã juntos por uma hora. A seguir, Mikael trabalhava intensamente até depois do meio-dia quando, então, saíam para passear e conversar. Lisbeth passava a maior parte do dia na cama lendo livros ou navegando na internet pelo modem ADSL de Mikael. Evitava perturbá-lo durante o dia. Jantavam bem tarde e somente então Lisbeth tomava a iniciativa e o forçava a subir até o mezanino, onde queria todo tipo de atenção dele.
Lisbeth tinha a impressão de viver as primeiras férias de sua vida.
Mensagem eletrônica encriptada de erika.berger@millennium.se a mikael.blomkvist@millennium.se:
[Oi, Mikael. E oficial agora, Janne Dahlinan pediu demissão e começa a trabalhar no Finansmagasinet Monopol dentro de três semanas. Segui suas instruções, não disse nada e todos estão representando a farsa. E.
P. S. De qualquer maneira, todos estão se divertindo um bocado. Outro dia, Henry e Lotta trocaram injúrias a ponto de quase se agredir. Levaram a brincadeira tão longe com Dahlman que me espanta ele não ter sacado que era um blefe.]
De mikael.blomkvist@millennium.se
A erika.berger@millennium.se:
[Deseje-lhe boa sorte e deixe-o ir embora. Mas guarde a prataria num armário fechado a chave. Bjs. M.]
De erika.berger@millennium.se
A mikael.blomkvist@millennium.se:
[Estou sem secretário de redação a duas semanas de sair o próximo número e meu repórter investigativo está recolhido em Sandhamn e se recusa a falar comigo. Micke, ponho-me de joelhos. Será que pode nos ajudar? Erika.]
De mikael.blomkvist@millennium.se
A erika.berger@millennium.se:
[Aguente mais algumas semanas, e aí chegaremos a um porto tranquilo. E comece a preparar o número de dezembro, que será diferente de tudo o que já publicamos. Meu texto ocupará cerca de quarenta páginas da revista. M.]
De erika.berger@millennium.se
A mikael.blomkvist@millennium.se:
[Quarenta páginas!!! Você ficou louco?]
De mikael.blomkvist@millennium.se
A erika.berger@millennium.se:
[Será uma edição temática. Preciso de mais três semanas. Será que você pode: (1) criar uma estrutura editorial em nome da Millennium, (2) conseguir um número ISBN, (3) pedir a Clirister a criação de um belo logotipo para nossa nova editora e (4) encontrar uma boa gráfica que possa lançar um livro de bolso rápido e barato? Aliás, precisaremos de dinheiro para os custos de impressão do nosso primeiro livro. Bjs. Mikael.]
De erika.berger@millennium.se
A mikael.blomkvist@ millennium.se:
[Edição temática. Editora. Custos de impressão. As suas ordens, meu comandante. Que mais quer que eu taça? Dançar nua na Slussplan? E.
P. S. Suponho que saiba o que está fazendo. Mas o que eu faço com Dahl-man?]
De mikael.blomkvist@millennium.se
A erika.berger@millennium.se:
[Não faça nada com Dahlman. Deixe-o ir embora. O Monopol não sobreviverá por muito tempo. Arranje substitutos para esse número. E contrate uni novo secretário de redação, pelo amor de Deus! M.