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— Santo Deus — disse Mildred Berggren. — Faz uma eternidade. O segundo marido e o filho olharam a foto por cima de seu ombro.

— Era uma viagem de núpcias. Fomos a Estocolmo e a Sigtuna de carro, estávamos voltando e simplesmente paramos em qualquer lugar. O senhor disse Hedestad?

— Sim, Hedestad. Essa foto foi tirada por volta da uma da tarde. Já há algum tempo venho tentando identificar a senhora. Não foi nada fácil.

— Descobriu uma velha foto minha e me encontrou. Nem consigo imaginar como fez isso.

Mikael mostrou-lhe a foto do estacionamento.

— Foi graças a esta outra foto, tirada um pouco mais tarde no mesmo dia, que pude seguir sua pista. — Mikael explicou como, através da Marcenaria de Norsjö, encontrara Hartman, que, por sua vez, o levou a Henning Forsman em Norjösvallen.

— Suponho que tenha uma boa razão para estar fazendo essa estranha pesquisa.

— De fato. A jovem na foto diante da senhora chamava-se Harriet. Ela desapareceu nesse dia e muitos acham que foi morta. Por favor, deixe que eu lhe mostre.

Mikael pegou seu notebook e, enquanto o computador iniciava, foi explicando todo o contexto da história. Depois passou a sequência que mostrava a mudança de expressão do rosto de Harriet.

— Foi ao examinar essas fotos antigas que eu a vi. A senhora está bem atrás de Harriet, tem na mão uma máquina fotográfica e parece estar fotografando justamente o que ela está vendo e que provocou essa reação nela. Sei que é uma aposta insensata. Mas a razão que me levou a procurá-la é que talvez a senhora ainda conserve as fotos desse dia.

Mikael esperava que Mildred Berggren abanasse as mãos dizendo que não sabia o que fora feito das fotos, que as jogara fora ou que o filme nunca fora revelado. Em vez disso, ela fitou Mikael com seus olhos azul-claros e anunciou, como se fosse a coisa mais natural do mundo, que ainda guardava todas as fotos de suas viagens.

Foi até outro cômodo e voltou depois de um minuto ou dois com uma caixa contendo álbuns onde havia um grande número de fotos. Não demorou muito para encontrar as da viagem a Hedestad. Ela tirara três fotos na cidade. Uma estava desfocada e mostrava a rua principal. Na outra estava seu ex-marido. Na terceira, viam-se os palhaços no desfile.

Mikael se aproximou, muito excitado. Viu uma pessoa do outro lado da rua. A foto não lhe dizia absolutamente nada.

20. TERÇA-FEIRA 1º DE JULHO — QUARTA-FEIRA 2 DE JULHO

A primeira coisa que Mikael fez de manhã assim que chegou a Hedestad foi procurar Dirch Frode para ter notícias de Henrik Vanger. O estado de saúde do velho havia melhorado consideravelmente durante a semana. Ainda estava fraco e frágil, mas já podia se sentar na cama. Seu estado não era mais considerado crítico.

— Graças a Deus! — disse Mikael. — Descobri que gosto muito dele.

— Eu sei. Henrik também gosta de você — respondeu Frode balançando a cabeça. — E a viagem ao Grande Norte, como foi?

— Bem-sucedida e insatisfatória. Mais tarde eu conto. Agora tenho uma pergunta a lhe fazer.

— Diga.

— O que acontecerá à Millennium se Henrik falecer?

— Nada de especial. Martin assumirá o lugar dele no conselho administrativo.

— Há um risco, mesmo hipotético, de que Martin crie problemas para a Millennium se eu não parar de investigar o desaparecimento de Harriet Vanger?

Dirch Frode lançou um olhar inquiridor a Mikael.

— O que aconteceu?

— Para dizer a verdade, nada. — Mikael relatou a conversa que teve com Martin na noite de São João. — Quando voltei de Norsjö, Erika me telefonou para dizer que Martin entrou em contato com ela e lhe pediu que insistisse comigo que eles estão precisando de mim na redação.

— Entendo. Suponho que Cecilia foi importuná-lo. Mas não acredito que Martin faria barganhas. Ele é muito honesto para isso. E lembre-se que eu também participo do conselho administrativo da pequena sociedade paralela que criamos no momento que entramos na Millennium.

— Mas, caso a situação se complique, qual seria a posição dele?

— Contratos são feitos para ser respeitados. Trabalho para Henrik. Ele e eu somos amigos há quarenta e cinco anos e atuamos mais ou menos da mesma forma nesse tipo de contexto. Se Henrik morrer, serei eu, e não Martin, o sucessor dele na sociedade paralela. O contrato estipula claramente que nos comprometemos a gerar recursos para a Millennium durante quatro anos. Se Martin quiser criar obstáculos — o que não acredito —, poderá, teoricamente, barrar a entrada de alguns novos anunciantes.

— O que é a base da existência da Millennium.

— Sim, mas considere as coisas deste modo: entregar-se a tais baixezas toma tempo. Martin está lutando por sua própria sobrevivência industrial e trabalha catorze horas por dia. Não tem tempo de se dedicar a outras coisas.

Mikael ficou em silêncio, pensativo.

— Se me permite uma pergunta: sei que isto não me diz respeito, mas qual é a situação geral do grupo?

Dirch Frode assumiu um ar mais grave.

— Estamos com problemas.

— Certo, mesmo um simples jornalista econômico como eu percebeu isso. Mas até que ponto são problemas sérios?

— Promete que fica entre nós?

— Com certeza.

— Nas últimas semanas perdemos dois grandes pedidos na indústria eletrônica e estamos sendo ejetados do mercado russo. Em setembro, seremos obrigados a demitir mil e seiscentos funcionários em Örebro e em Trollhättan. Uma triste recompensa para pessoas que trabalham há tantos anos no grupo. Sempre que fechamos uma fábrica, a confiança no grupo fica abalada.

— Martin está sob pressão?

— É um boi de carga pisando em ovos.

Mikael voltou para casa e ligou para Erika. Ela não estava na redação e ele discutiu o assunto com Christer Malm.

— E o seguinte: Erika me telefonou ontem quando voltei de Norsjö. Martin Vanger conversou com ela e a estimulou, por assim dizer, a propor que eu voltasse a trabalhar na redação.

— É o que eu também acho — disse Christer.

— Entendo. Mas o fato é que tenho um contrato com Henrik Vanger que não posso romper e Martin age a pedido de uma pessoa que deseja que eu pare de investigar e desapareça da aldeia. A proposta dele, portanto, não passa de uma tentativa de me afastar daqui.

— Entendo.

— Diga a Erika que só voltarei para Estocolmo quando eu tiver terminado tudo, não antes.

— Está bem, transmitirei seu recado. Mas você é completamente louco.

— Christer, está acontecendo algo aqui, e eu não tenho a menor intenção de recuar.

Christer deu um forte suspiro.

Mikael foi procurar Martin Vanger. Eva Hassel abriu a porta e o saudou amigavelmente.

— Bom dia. Martin está?

Em resposta à pergunta, Martin apareceu com sua pasta de executivo na mão. Beijou o rosto de Eva e cumprimentou Mikael.

— Estou indo para o escritório. Quer falar comigo?

— Posso esperar, se está com pressa.

— Vamos, fale.

— Não tenho a intenção de voltar para a redação da Millennium antes de terminar o trabalho que Henrik me confiou. Aviso desde já, para que não conte comigo no conselho administrativo antes do fim do ano.

Martin Vanger balançou-se nos calcanhares para a frente e para trás.

— Entendo. Acha que estou querendo me livrar de você. — Fez uma pausa. — Mikael, falaremos disso mais tarde. Não tenho realmente tempo para me dedicar a uma atividade no conselho administrativo da revista e preferia não ter aceitado a proposta de Henrik. Mas, acredite, farei o melhor que puder para que a Millennium sobreviva.

— Nunca duvidei disso — respondeu Mikael polidamente.

— Faremos uma reunião na semana que vem para avaliar toda a situação financeira e depois eu lhe darei uma opinião a esse respeito. Mas acredito sinceramente que a Millennium não pode se dar ao luxo de ter um de seus principais representantes ocioso aqui em Hedebyön. Gosto da revista e estou certo de que poderemos recuperá-la, mas você é indispensável para esse trabalho. Quanto a mim, vejo-me pressionado por um conflito de interesses: seguir a vontade de Henrik ou cumprir meu trabalho no conselho administrativo da Millennium.