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— Quem teria sido?

— Dei alguns telefonemas agora há pouco. Conny Torsson está cobrindo férias de verão. Mas ele fez esse trabalho a pedido de Birger.

— Não sabia que Birger tinha influência na redação. Pensei que fosse apenas conselheiro municipal e político.

— Formalmente não tem influência alguma. Mas o redator-chefe do Kuriren é Gunnar Karlman, filho de Ingrid Vanger, do ramo Johan Vanger. Birger e Gunnar são amigos íntimos há muitos anos.

— Entendo.

— Torsson será despedido imediatamente.

— Que idade ele tem?

— Não sei. Para dizer a verdade, nunca o vi.

— Não o demita. Quando ele me telefonou, parecia bastante jovem e um repórter pouco experiente.

— Mas isso não pode ficar assim.

— Se quer saber minha opinião, acho um pouco absurdo o redator-chefe de um jornal que pertence à família Vanger atacar outro periódico que tem Henrik Vanger como sócio e de cujo conselho administrativo você participa. O redator-chefe Karlman está atacando Henrik e você.

Martin Vanger pesou as palavras de Mikael e assentiu lentamente com a cabeça.

— Entendo o que quer dizer. Eu deveria apurar melhor as responsabilidades. Karlman tem participações no grupo e sempre tentou me atacar pelas costas, mas isso está me parecendo mais uma vingança do Birger por você ter batido boca com ele no corredor do hospital. Para ele, você é uma pedra no sapato.

— Sim, e é por isso que acho Torsson o mais inocente de todos. É muito raro um jovem jornalista substituto dizer não quando o redator-chefe lhe ordena que escreva desse ou daquele modo.

— Posso exigir que lhe apresentem desculpas públicas nas páginas de amanhã.

— Não faça isso. O único resultado seria uma luta interminável, o que só pioraria a situação.

— Está querendo me dizer que não devo fazer nada?

— Sim, será melhor. Karlman inventará histórias, e você corre o risco de ser classificado como um proprietário com vontade de influenciar de maneira ilícita a opinião do público.

— Desculpe, Mikael, mas não concordo com você. Também tenho o direito de emitir minha opinião. Acho esse artigo imundo e tenho a intenção de deixar bem claro o que penso. Afinal, sou o suplente de Henrik na direção da Millennium e não posso me calar diante dessas insinuações.

— Tudo bem.

— Vou exigir direito de resposta. E, se eu fizer Karlman parecer um idiota, a culpa é dele.

— Certo, aja de acordo com as suas convicções.

— Para mim também é importante que você saiba que eu nada tive a ver com esse ataque infame.

— Acredito em você — disse Mikael.

— Além do mais, não vou discutir o assunto agora, mas isso remete à nossa conversa de antes. E importante que você volte à redação da Millennium para que possamos montar uma frente unida. Enquanto estiver ausente, os boatos vão continuar. Acredito na Millennium e estou convencido de que podemos vencer essa batalha juntos.

— Entendo seu ponto de vista, mas agora é a minha vez de discordar. Não posso romper meu contrato com Henrik e na verdade também não desejo rompê-lo. Gosto dele, você sabe. E essa história da Harriet...

— Sim?

—— Sei que é uma história penosa para você e sei que Henrik está obcecado há anos por ela.

— Cá entre nós, gosto de Henrik e ele é o meu mentor, mas, no que diz respeito a Harriet, essa obsessão virou uma ocupação de aposentado.

— Quando comecei esse trabalho, achei que seria uma perda de tempo. Mas o fato é que, contra todas as expectativas, encontramos novidades. Acho que estamos perto de uma descoberta e que talvez seja possível explicar o que aconteceu.

— Não quer me dizer o que foi que descobriu?

— De acordo com o contrato, não posso falar disso com ninguém sem o consentimento de Henrik.

Martin Vanger pôs a mão no queixo. Mikael viu dúvida nos olhos dele, mas por fim Martin se decidiu.

— Certo, nesse caso o melhor a fazer é resolver primeiro o mistério de Harriet. Darei todo o apoio que puder para que você termine o trabalho de forma satisfatória, o mais rápido possível, e em seguida retorne à Millennium.

— Que bom. Não tenho vontade de ser obrigado a lutar contra você também.

— Não será necessário. Tem meu inteiro apoio. Pode me procurar quando quiser, se tiver problemas. Pressionarei Birger para que não crie mais obstáculos. E tentarei acalmar Cecilia.

— Obrigado. Preciso fazer umas perguntas a ela, mas há um mês vem evitando minhas tentativas de conversa.

Martin Vanger sorriu.

— Talvez tenha outras coisas a acertar com ela. Mas não é da minha conta.

Despediram-se com um aperto de mão.

Lisbeth Salander havia escutado em silêncio a conversa entre Mikael e Martin Vanger. Assim que o industrial foi embora, ela pegou o Hedestads-Kuriren e leu o artigo. A seguir, largou o jornal sem fazer nenhum comentário.

Mikael não disse nada. Ele refletia. Gunnar Karlman nascera em 1942, portanto tinha vinte e quatro anos em 1966. Também era uma das pessoas presentes na ilha quando Harriet desapareceu.

Depois do café-da-manhã, Mikael incumbiu sua colaboradora de ler o inquérito policial. Fez uma triagem do material e lhe passou os arquivos que enfocavam o desaparecimento de Harriet. Passou-lhe também todas as fotos do acidente na ponte, bem como a longa síntese que escreveu com base nas investigações particulares de Henrik.

Depois Mikael foi à casa de Dirch Frode e o convenceu a redigir um contrato determinando a contratação de Lisbeth como colaboradora por um mês.

Ao voltar à casa dos convidados, encontrou Lisbeth no jardim, mergulhada no inquérito policial. Mikael entrou para esquentar o café e a espiou pela janela da cozinha. Ela parecia percorrer o inquérito superficialmente, não dedicando mais que dez ou quinze segundos a cada página. Folheava o documento de maneira automática. Mikael achou estranha essa negligência, ainda mais considerando a aplicação com que realizara sua própria investigação. Levou duas xícaras de café ao jardim e juntou-se a ela.

— O que você escreveu sobre o desaparecimento de Harriet foi escrito antes de perceber que estamos atrás de um assassino serial.

— Exato. Anotei o que me pareceu importante, perguntas que gostaria de fazer a Henrik Vanger et cetera. Como você deve ter percebido, está bem mal estruturado. Na verdade, até agora andei tateando no escuro, e ao mesmo tempo tentando escrever uma história, um capítulo da biografia de Henrik Vanger.

— E agora?

— No começo, todas as investigações estavam centradas em Hedebyön. Agora estou convencido de que a história começou mais cedo no mesmo dia, não na ilha, mas em Hedestad. Isso muda a perspectiva.

Lisbeth assentiu com a cabeça e refletiu por um momento.

— É fantástico o que descobriu com as fotos — ela disse.

Mikael levantou as sobrancelhas. Lisbeth Salander não parecia ser do tipo pródigo em elogios e Mikael sentiu-se estranhamente lisonjeado. Mas, do ponto de vista jornalístico, tratava-se mesmo de uma proeza bastante in-comum.

— Preciso de mais alguns detalhes. Conte o que descobriu sobre a fotografia que foi buscar em Norsjö.

— Está me dizendo que não viu essa foto no meu computador?

— Não tive tempo. Preferi me concentrar nos resumos, nas conclusões que tirou.

Mikael suspirou, abriu seu notebook e depois a pasta de fotos.

— A viagem a Norsjö foi ao mesmo tempo um avanço e uma decepção total. Encontrei a foto, mas ela não revela grande coisa. A tal Mildred Berggren conservou todas as suas fotos de viagem num álbum, e ali colou com cuidado toda a coleção. A foto que eu procurava estava lá, tirada com um filme colorido barato. Depois de trinta e sete anos, a cópia está bastante apagada e amarelada, mas Mildred também conservou os negativos numa caixa de sapatos. Ela me emprestou os de Hedestad e eu os escaneei. Aqui está o que Harriet viu.