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—   Grande Morsa? A sério?

—   Eles têm uns nomes esquisitos ao longo da Costa Gelada.

Três reféns eram filhos de Alfyn Mata-Corvos, um infame assaltante morto por Qhorin Meia-Mão. Pelo menos era o que Tormund afirmava.

—   Não parecem irmãos — observou Jon.

—   Meios irmãos, nascidos de mães diferentes. O membro do Alfyn era uma coisinha de nada, mais pequeno até do que o teu, mas nunca foi tímido com os sítios onde o enfiava. Esse tinha um filho em cada aldeia.

Sobre um certo rapaz atrofiado e com cara de ratazana, Tormund dis­se:

—   Aquele é cria do Varamyr Seis-Peles. Lembras-te do Varamyr, Lor­de Corvo?

Lembrava-se.

—   O troca-peles.

—   Pois, ele era isso. E um sacaninha maldoso também. Agora, o mais certo é que 'teja morto. Ninguém o viu desde a batalha.

Dois dos rapazes eram raparigas disfarçadas. Quando Jon as viu, mandou Rory e o Liddle Grande trazer-lhas. Uma veio com razoável doci­lidade, a outra a espernear e a morder. Isto pode acabar mal.

—   Estas duas têm pais famosos?

—   Ha! Essas coisinhas magricelas? Pouco provável. Escolhidas por sorteio.

—   São raparigas.

—  Ah são? — Tormund semicerrou os olhos para as duas de cima da sela. — Eu e o Lorde Corvo fizemos uma aposta sobre qual de vós tem o membro maior. Puxai essas bragas para baixo, deixai-nos ver.

Uma das raparigas enrubesceu. A outra olhou-o, desafiadora.

—   Tu deixa-nos em paz, Tormund Fedor dos Gigantes. Deixa-nos em paz.

—   Ha! Ganhaste, corvo. Não há uma pica entre as duas. Mas a pe­quena tem um par de tomates. Uma esposa de lanças em formação, essa. — Chamou os seus homens. — Ide buscar uma coisa feminina para elas vestirem antes que o Lorde Snow molhe a roupa de baixo.

—   Vou precisar de dois rapazes para o lugar delas.

—   Como é que é? — Tormund coçou a barba. — Um refém é um refém, cá para mim. Essa grande espada afiada que tens aí consegue cortar a cabeça de uma rapariga tão facilmente como a de um rapaz. Um pai tam­bém ama as filhas. Bom, a maior parte dos pais.

Não são os pais delas que me preocupam.

—   O Mance alguma vez cantou sobre o Bravo Danny Flint?

—   Que me lembre, não. Quem era esse?

—   Uma rapariga que se vestiu de rapaz para vestir o negro. A canção dela é triste e bonita. O que lhe aconteceu não foi. — Em algumas versões da canção, o seu fantasma ainda percorria Fortenoite. — Eu mando as rapa­rigas para Monte Longo. — Os únicos homens que lá havia eram o Emmett de Ferro e o F.dd Doloroso, ambos homens em que confiava. Isso não era algo que pudesse dizer de todos os irmãos.

O selvagem compreendeu.

—   Uns pássaros desagradáveis, vós, os corvos. — Cuspiu. — Então mais dois rapazes. Vais tê-los.

Depois de noventa e nove reféns terem passado por eles para atra­vessar por baixo da muralha, Tormund Terror dos Gigantes apresentou o último.

—   O meu filho Dryn. Vais assegurar-te de que ele é bem tratado, cor­vo, senão cozinho esse teu fígado preto e como-o.

Jon inspecionou o rapaz de perto. Da idade de Bran, ou da idade que ele teria se Theon não o tivesse matado. Mas Dryn não possuía nenhuma da doçura de Bran. Era um rapaz atarracado, com pernas curtas, braços grossos e uma cara larga e vermelha; uma versão em miniatura do pai, com um matagal de cabelo castanho escuro.

—  Ele vai servir como meu pajem — prometeu Jon a Tormund.

—  'Tás a ouvir, Dryn? Vê se não te armas em mais do que és. — A Jon disse: — Ele vai precisar de uma boa surra de vez em quando. Mas cuidado com os dentes. Morde. — Voltou a apanhar o corno, levantou-o e fez soar mais um sopro.

Daquela vez foram guerreiros que avançaram. E não foi só uma cen­tena. Quinhentos, avaliou Jon Snow enquanto os guerreiros iam saindo de debaixo das árvores, talvez cheguem mesmo a mil. Um em cada dez vinha montado, mas todos vinham armados. A tiracolo traziam escudos redon­dos de vime cobertos de peles e couro fervido, exibindo imagens pintadas de serpentes e aranhas, cabeças cortadas, martelos ensanguentados, crânios partidos e demónios. Alguns vinham vestidos com aço roubado, bocados amolgados e desemparelhados de armaduras saqueadas dos cadáveres de patrulheiros caídos. Outros tinham-se couraçado com ossos, como o Lorigão de Chocalho. Todos usavam peles e couro.

Havia esposas de lanças com eles, com cabelos longos. Jon não con­seguia olhá-las sem se lembrar de Ygritte; a cintilação de fogo no seu ca­belo, a expressão no seu rosto quando se despira para si na gruta, o som da sua voz.

—  Não sabes nada, Jon Snow — dissera-lhe, uma centena de vezes.

E isso é tão verdadeiro agora como era nessa altura.

—   Podias ter mandado as mulheres primeiro — disse a Tormund. — As mães e as donzelas.

O selvagem deitou-lhe um olhar astuto.

—   Sim, podia. E vós, os corvos, podíeis decidir fechar aquele portão. Com alguns combatentes do outro lado, bom, assim o portão fica aberto, não fica? — Sorriu. — Eu comprei a merda do teu cavalo, Jon Snow. Isso não quer dizer que não possa contar-lhe os dentes. Mas agora não te po­nhas a pensar que eu e os meus não confiamos em ti. Confiamos tanto em ti como tu confias em nós. — Soltou uma fungadela. — Querias guerreiros, não querias? Bom, aí 'tão eles. Cada um vale seis dos vossos corvos pretos.

Jon teve de sorrir.

—   Desde que guardem aquelas armas para o nosso inimigo comum, estou satisfeito.

—   Dei-te a minha palavra quanto a isso, não dei? A palavra de Tor­mund Terror dos Gigantes. Forte como ferro. — Virou-se e cuspiu.

No interior do fluxo de guerreiros encontravam-se os pais de muitos dos reféns de Jon. Alguns fitavam-no com frios olhos mortos ao passar, afagando os cabos das suas espadas. Outros sorriam-lhe como familiares há muito perdidos, embora alguns desses sorrisos desconcertassem mais Jon Snow do que qualquer olhar furioso. Nenhum se ajoelhou, mas muitos prestaram-lhe juramentos.

—   O que Tormund jurou, eu juro — declarou o Brogg dos cabelos negros, um homem de poucas palavras. Soren Quebrascudos baixou a ca­beça um par de centímetros e rosnou:

—    O machado de Soren é teu, Jon Snow, se alguma vez precisares dele. — O Gerrick Sangue-de-rei, da barba ruiva, trouxe três filhas.

—   Elas darão boas esposas, e darão aos seus maridos filhos fortes de sangue real — vangloriou-se. — Tal como o pai, descendem de Raymun Barbavermelha, que foi Rei-para-lá-da-Muralha.

Jon sabia que o sangue queria dizer menos que pouco entre o povo livre. Ygritte ensinara-lho. As filhas de Gerrick partilhavam o mesmo ca­belo vermelho de fogo que ela tivera, embora o de Ygritte tivesse sido uma confusão de caracóis e os delas fossem longos e lisos. Beijadas pelo fogo.

—   Três princesas, cada uma mais adorável do que a anterior — disse ao pai. — Assegurar-me-ei de que sejam apresentadas à rainha. — Suspei­tava de que Selyse Baratheon gostaria mais daquelas três do que gostara de Val; eram mais novas, e estavam consideravelmente mais intimidadas. Têm um ar bastante doce, embora o pai pareça um idiota.

O Howd Vadio prestou o seu juramento sobre a espada, o bocado de ferro mais amolgado e entalhado que Jon alguma vez vira. Devyn Esfolafocas presenteou-o com um chapéu de pele de foca, Harle, o Caçador, com um colar de garras de urso. A bruxa guerreira, Morna, tirou a máscara de represeiro durante o tempo suficiente para lhe beijar a mão enluvada e jurar ser seu homem ou sua mulher, consoante o que preferisse. E etc., e etc., e etc.

Ao passar, cada guerreiro despia-se dos seus tesouros e atirava-os para uma das carroças que os intendentes tinham colocado em frente do portão. Pendentes de âmbar, torques de ouro, punhais cravejados de jóias, broches de prata incrustados de pedras preciosas, pulseiras, anéis, taças de nigelo e cálices de ouro, cornos de guerra e cornos de beber, um pente de jade verde, um colar de pérolas de água doce... tudo entregue e registado por Bowen Marsh. Um homem entregou um camisão de escamas de prata que tinha certamente sido feito para algum grande senhor. Outro apresen­tou uma espada quebrada com três safiras no cabo.