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—   O meu pai vai matar-te — decidiu que já as conhecia o suficiente, enviou-as de volta para as celas e retirou-se.

Haldon Semimeistre tinha estado ausente do banquete. O Lorde Jon foi encontrá-lo na torre do meistre, debruçado sobre uma pilha de perga­minhos, com mapas espalhados a toda a volta.

—  Com a esperança de determinar onde poderá estar o resto da com­panhia? — perguntou-lhe Connington.

—   Bem gostaria de poder, senhor.

Dez mil homens tinham zarpado de Volon Therys, com todas as suas armas, cavalos, elefantes. Não chegavam a metade os que tinham aparecido até então em Westeros, no local destinado ao desembarque ou perto dele, uma extensão deserta de costa no limite da mata de chuva... terras que Jon Connington conhecia bem, visto que tinham em tempos sido suas.

Apenas alguns anos antes nunca se teria atrevido a tentar um desem­barque no Cabo da Fúria; os senhores da tempestade nutriam uma lealdade demasiado feroz para com a Casa Baratheon e o Rei Robert. Mas com Ro­bert e o irmão Renly mortos, tudo mudara. Stannis era um homem dema­siado ríspido e frio para inspirar grande lealdade, mesmo se não estivesse a meio mundo de distância, e as terras da tempestade tinham poucos moti­vos para amar a Casa Lannister. E Jon Connington não estava desprovido de amigos naquela zona. Alguns dos senhores mais velhos ainda se lembrarão de mim, e os seus filhos terão ouvido as histórias. E todos eles saberão de Rha­egar, e do seu jovem filho cuja cabeça foi esmagada contra uma fria parede de pedra.

Felizmente, o seu navio fora dos primeiros a chegar ao destino. De­pois, fora só questão de estabelecer um acampamento, de ir reunindo os seus homens à medida que desembarcavam, e de avançar depressa, antes dos fidalgos locais terem algum indício do perigo em que se encontravam. E aí, a Companhia Dourada demonstrara o seu brio. O caos que teria ine­vitavelmente atrasado uma tal marcha com uma hoste reunida à pressa de cavaleiros domésticos e recrutas locais, não se vira em lado algum. Aqueles eram os herdeiros de Açamargo, e a disciplina era, para eles, leite materno.

—   Amanhã por esta hora devemos controlar três castelos — disse. A força que tomara o Poleiro do Grifo representava um quarto das forças que tinham à disposição; Sor Tristan Rivers avançara em simultâneo para a sede da Casa Morrigen, no Ninho de Corvo, e Laswell Peake dirigira-se para Casais de Chuva, o forte dos Wyle, ambos com forças de tamanho comparável. O resto dos seus homens permanecera no acampamento para defender o local de desembarque e o príncipe, sob o comando do tesourei­ro volanteno da companhia, Gorys Edoryen. Esperava-se que o número dos seus homens continuasse a aumentar; chegavam mais navios todos os dias. — Ainda não temos cavalos suficientes.

—   F. nenhum elefante — fez-lhe lembrar o Semimeistre. Nem uma das grandes cocas que transportavam os elefantes tinha aparecido por en­quanto. Tinham-nas visto pela última vez em Lys, antes da tempestade que dispersara metade da frota. — Cavalos arranjam-se em Westeros. Elefan­tes. ..

—   ... não importam. — Os grandes animais seriam úteis numa ba­talha campal, sem dúvida, mas demoraria algum tempo até terem força suficiente para enfrentar os inimigos no campo de batalha. — Esses perga­minhos disseram-te algo de útil?

—    Oh, mais que muito, senhor. — Haldon dirigiu-lhe um sorriso fino. — os Lannister fazem inimigos facilmente, mas parecem ter maior dificuldade em conservar os amigos. A sua aliança com os Tyrell está a desfazer-se, julgando pelo que li aqui. A Rainha Cersei e a Rainha Margaery estão a lutar pelo pequeno rei como duas cadelas por um osso de galinha, e ambas foram acusadas de traição e deboche. Mace Tyrell abandonou o cerco a Ponta Tempestade para marchar de regresso a Porto Real e salvar a filha, deixando para trás só uma força simbólica para manter os homens de Stannis encurralados dentro do castelo.

Connington sentou-se.

—   Diz-me mais.

—   A norte, os Lannister estão a contar com os Bolton e nas terras flu­viais com os Frey, ambas casas com antigo renome de traição e crueldade. O Lorde Stannis Baratheon continua em rebelião aberta e os homens de ferro das ilhas também coroaram um rei. Nunca ninguém parece mencionar o Vale, o que me sugere que os Arryn não participaram em nada disto.

—   E Dorne? — O Vale ficava longe; Dorne estava perto.

—   O filho mais novo do Príncipe Doran foi prometido a Myrcella Baratheon, o que sugeriria que os dorneses se aliaram à Casa Lannister, mas têm um exército no Caminho do Espinhaço e outro no Passo do Príncipe, só à espera...

—  À espera. — Franziu o sobrolho. — De quê? — Sem Daenerys e os seus dragões, Dorne ocupava uma posição central nas suas esperanças. — Escreve para Lançassolar. Doran Martell tem de saber que o filho da irmã ainda está vivo e voltou para casa a fim de reclamar o trono do pai.

—   Às vossas ordens, senhor. — O Semimeistre deitou uma olhadela a outro pergaminho. — Dificilmente poderíamos ter escolhido um mo­mento melhor para o desembarque. Temos amigos e aliados potenciais por todos os lados.

—   Mas não temos dragões — disse Jon Connington — o que quer dizer que para conquistarmos esses aliados para a nossa causa teremos de ter alguma coisa para lhes oferecer.

—  Ouro e terras são os incentivos tradicionais.

—  Seria bom que tivéssemos uma coisa e a outra. Promessas de terras e promessas de ouro podem ser suficientes para alguns, mas Strickland e os seus homens esperarão primazia na escolha dos melhores campos e caste­los, aqueles que foram tirados aos seus antepassados quando fugiram para o exílio. Não.

—   O senhor tem um prémio a oferecer — fez notar Haldon Semimeistre. — A mão do Príncipe Aegon. Uma aliança de casamento, para atrair alguma grande casa à nossa bandeira.

Uma noiva para o nosso prometedor príncipe. Jon Connington lem­brava-se bem demais do casamento de Rhaegar. Elia nunca o mereceu. Era débil e enfermiça desde o início, e os partos só a deixaram mais fraca. Depois do nascimento da Princesa Rhaenys, a mãe passara meio ano de cama, e o nascimento do Príncipe Aegon quase lhe causara a morte. Os meistres dis­seram depois ao Príncipe Rhaegar que não daria à luz mais filhos.

—   Daenerys Targaryen ainda pode vir um dia — disse Connington ao Semimeistre. — Aegon tem de estar livre para casar com ela.

—  O senhor sabe o que será melhor — disse Haldon. — Nesse caso, podíamos pensar em oferecer a potenciais amigos um prémio mais peque­no.

—  Que sugeririas?

—  Vós. Não sois casado. Um grande senhor, ainda viril, sem herdei­ros, exceto estes primos que acabámos de despojar, descendente de uma casa antiga com um belo e robusto castelo e vastas e ricas terras que lhe irão ser sem dúvida restituídas e talvez expandidas por um rei grato, depois de triunfarmos. Tendes renome como guerreiro, e na condição de Mão do Rei Aegon falareis com a sua voz e governareis o reino em tudo menos em nome. Parece-me que muitos senhores ambiciosos estariam ansiosos para casar uma filha com um homem assim. Até, talvez, o Príncipe de Dorne.

A resposta de Jon Connington foi um longo olhar frio. Havia alturas em que o Semimeistre o irritava quase tanto como aquele anão irritara.

—   Não me parece. — A morte vai-me subindo pelo braço. Nenhum homem pode saber, nem nenhuma esposa. Voltou a pôr-se em pé. — Prepara a carta para o Príncipe Doran.

—   Às vossas ordens, senhor.

Nessa noite Jon Connington dormiu nos aposentos do senhor, na cama que fora em tempos do pai, sob um empoeirado dossel de veludo vermelho e branco. Acordou de madrugada ao som da chuva que caía e da tímida batida de um criado, ansioso por saber como o seu novo senhor quebraria o jejum.