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A noiva tinha o lugar mais honroso, entre Ramsay e o pai. Estava sentada com os olhos baixos enquanto Roose Bolton lhes pedia para beber à Senhora Arya.

— Nos seus filhos, as nossas duas casas antigas tornar-se-ão uma só

— disse — e a longa inimizade entre Stark e Bolton chegará ao fim. — A voz dele era tão baixa que o salão se silenciou quando os homens se esforçaram para ouvir. — Lamento que o nosso bom amigo Stannis ainda não tenha achado por bem vir juntar-se-nos — prosseguiu, perante uma ondulação de risos — porque sei que Ramsay tinha a esperança de oferecer a cabeça dele à Senhora Arya como presente de casamento. — As gargalhadas tornaram-se mais ruidosas. — Dar-lhe-emos umas magníficas boas-vindas quando chegar, umas boas-vindas dignas de verdadeiros nortenhos. Até esse dia, comamos e bebamos e festejemos… pois o inverno está quase em cima de nós, meus amigos, e muitos dos que estão aqui presentes não sobreviverão para ver a primavera.

O Senhor de Porto Branco fornecera a comida e a bebida, forte cerveja preta, cerveja loura e vinhos tinto, dourado e purpúreo, trazidos do morno sul em navios de casco largo e envelhecido nas suas profundas caves.

Os convidados do casamento empanturraram-se com pastéis de bacalhau e abóbora, montanhas de nabos e grandes rodelas redondas de queijo, com fumegantes peças de carneiro e costelas de vaca assadas quase até ficarem pretas e, por fim, com três grandes empadões nupciais, grandes como rodas de carroça, cujas crostas folhadas estavam recheadas até rebentar com cenouras, cebolas, nabos, cherovias, cogumelos e bocados de porco condimentado a nadar num saboroso molho castanho. Ramsay cortou fatias com a cimitarra, enquanto o próprio Wyman Manderly servia, apresentando as primeiras doses fumegantes a Roose Bolton e à sua gorda esposa Frey, e as seguintes a Sor Hosteen e a Sor Aenys, os filhos de Walder Frey.

— O melhor empadão que alguma vez provastes, senhores — declarou o gordo lorde. — Empurrai-o para baixo com dourado da Árvore e saboreai cada dentada. Eu sei que será o que farei.

Fiel à palavra dada, Manderly devorou seis doses, duas de cada um dos três empadões, fazendo estalar os lábios, dando palmadas na barriga e empanturrando-se até deixar a parte da frente da túnica meio castanha com nódoas de molho e a barba salpicada de migalhas de crosta. Nem mesmo a Walda Gorda Frey conseguiu igualar a sua glutonaria, embora lograsse dar conta de três fatias. Ramsay também comeu com gosto, embora a sua pálida noiva não fizesse nada além de fitar a dose posta na sua frente. Quando levantou a cabeça e olhou para Theon, este viu o medo por trás dos grandes olhos castanhos.

Nenhuma espada fora autorizada no salão, mas todos os homens tinham um punhal, mesmo Theon Greyjoy. De que outra forma cortaria a carne? De todas as vezes que olhava para a rapariga que fora Jeyne Poole, sentia a presença desse aço no flanco. Não tenho maneira de a salvar, pensou, mas conseguiria matá-la com bastante facilidade. Ninguém o esperaria.

Podia suplicar-lhe a honra de uma dança, e cortar-lhe a garganta. Isso seria uma bondade, não seria? E se os deuses antigos ouvirem a minha prece, Ramsay na sua fúria pode matar-me também. Theon não tinha medo de morrer.

Por baixo do Forte do Pavor, aprendera que havia coisas muito piores do que a morte. Ramsay ensinara-lhe essa lição, dedo a dedo, das mãos e dos pés, e não era lição que alguma vez esqueceria.

— Não estais a comer — observou a Senhora Dustin.

— Pois não. — Comer era-lhe difícil. Ramsay deixara-lhe tantos dentes quebrados que mastigar era uma agonia. Beber era mais fácil, embora tivesse de agarrar na taça de vinho com ambas as mãos para não a deixar cair.

— Não gostais de empadão de porco, senhor? O melhor empadão de porco que alguma vez provámos, segundo o que o nosso gordo amigo nos quer levar a crer. — Fez um gesto na direção do Lorde Manderly com a taça de vinho. — Alguma vez vistes um gordo tão feliz? Está quase a dançar. A servir com as próprias mãos.

Era verdade. O Senhor de Porto Branco era a imagem perfeita do gordo alegre, a rir e a sorrir, a gracejar com os outros senhores e a dar-lhes palmadas nas costas, gritando aos músicos para pedir esta ou aquela melodia.

— Oferece-nos “A Noite Que Terminou,” cantor — berrou. — Eu sei que a noiva vai gostar dessa. Ou então canta sobre o bravo e jovem Danny Flint e faz-nos chorar. — Olhando-o, poderia julgar-se que era ele o recém-casado.

— Está bêbado — disse Theon.

— Está a afogar os medos. Aquele é cobarde até ao osso.

Seria? Theon não tinha certeza. Os filhos também tinham sido gordos, mas não se haviam envergonhado em batalha.

— Os nascidos no ferro também festejam antes de uma batalha. Um último sabor de vida, para o caso de a morte estar à espreita. Se Stannis vier…

— Virá. Tem de vir. — A Senhora Dustin soltou um risinho. — E quando vier, o gordo vai mijar-se. O filho morreu no Casamento Vermelho, e no entanto ele partilhou o pão e o sal com Freys, deu-lhes as boas-vindas sob o seu teto, prometeu a neta a um. Até lhes serve empadão. Os Manderly fugiram em tempos do sul, corridos das suas terras e fortalezas por inimigos. O sangue não mente. O gordo gostaria de nos matar a todos, não duvido, mas não tem estômago para isso, apesar de toda a sua largura. Debaixo daquela pele suada bate um coração tão cobarde e acanhado como…

bem… o vosso.

A última palavra fora uma chicotada, mas Theon não se atreveu a dar-lhe uma resposta torta. Qualquer insolência custar-lhe-ia pele.

— Se a senhora crê que o Lorde Manderly quer trair-nos, é ao Lorde Bolton que deveis dizê-lo.

— Achais que Roose não sabe? Rapazinho pateta. Observai-o. Observai como ele fita Manderly. Nenhum prato toca os lábios de Roose até que ele veja o Lorde Wyman comer dele primeiro. Nenhuma taça de vinho é bebida até que veja Manderly beber da mesma pipa. Acho que lhe agradaria que o gordo tentasse alguma traição. Diverti-lo-ia. Roose não tem sentimentos, entendeis? Aquelas sanguessugas de que tanto gosta sugaram dele todas as paixões há anos. Não ama, não odeia, não chora. Isto para ele é um jogo, levemente divertido. Alguns homens caçam, outros fazem falcoaria, outros atiram dados. Roose joga com homens. Vós e eu, aqueles Frey, o Lorde Manderly, a rechonchuda esposa nova que tem, até o bastardo, não passamos das suas peças. — Um criado estava a passar. A Senhora Dustin estendeu a taça de vinho e deixou que o homem a enchesse, após o que ordenou com um gesto que fizesse o mesmo a Theon. — Em boa verdade — disse — o Lorde Bolton aspira a mais do que uma mera senhoria. Porque não Rei do Norte? Tywin Lannister está morto, o Regicida está mutilado, o Duende fugiu. Os Lannister são uma força gasta, e vós fizestes a bondade de o livrar dos Stark. O velho Walder Frey não levantará objeções a ter a sua gorda Waldinha transformada numa rainha. Porto Branco pode revelar-se problemático caso o Lorde Wyman sobreviva à batalha que se aproxima…

mas estou bastante certa de que não sobreviverá. Tal como Stannis. Roose tirá-los-á a ambos do caminho, tal como tirou o Jovem Lobo. Quem resta?

— Vós — disse Theon. — Restais vós. A Senhora de Vila Acidentada, uma Dustin pelo casamento, uma Ryswell pelo nascimento.

Aquilo agradou-lhe. Bebeu um gole de vinho, com os olhos escuros a cintilar, e disse:

— A viúva de Vila Acidentada… e sim, se me decidisse a isso podia ser uma inconveniência. Claro, Roose também o vê, portanto trata de me conservar dócil.

Podia ter dito mais, mas nesse momento viu os meistres. Tinham entrado três pela porta do senhor atrás do estrado; um alto, um rechonchudo, um muito jovem mas, pelas vestes e correntes, eram três ervilhas cinzentas saídas de uma vagem negra. Antes da guerra, Medrick servira o Lorde Hornwood, Rhodry o Lorde Cerwyn, e o jovem Henly o Lorde Slate. Roose Bolton trouxera-os a todos para Winterfell a fim de se encarregarem dos corvos de Luwin, para que mensagens pudessem voltar a ser enviadas e recebidas ali.