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—   Quero que saibais que isto me fere profundamente — disse-lhes, entre assinaturas. — Em Westeros, considera-se que a palavra de um Lan­nister vale ouro.

O Tinteiros encolheu os ombros.

—    Isto não é Westeros. Deste lado do mar estreito, assentamos as nossas promessas em papel. — Quando cada folha lhe era passada, espa­lhava areia fina sobre a assinatura para absorver a tinta em excesso, após o que a sacudia e punha a nota de parte. — Dívidas escritas no vento tendem a ser... esquecidas, digamos.

—   Por nós, não. — Tyrion assinou outra folha. E outra. Já encontrara um ritmo. — Um Lannister paga sempre as suas dívidas.

Plumm soltou um risinho.

—   Pois, mas a palavra de um mercenário não vale nada.

Bem, a tua não vale nada, pensou Tyrion, e graças aos deuses por isso.

—   É verdade, mas eu não serei mercenário até ter assinado o vosso livro.

—   Daqui a pouco — disse o Ben Castanho. — Depois das notas.

—   Estou a dançar o mais depressa possível. — Apeteceu-lhe rir, mas isso teria arruinado o jogo. O Plumm estava a gostar daquilo, e Tyrion não fazia a mínima intenção de lhe estragar o divertimento. Ele que continue a pensar que me dobrou e me enrabou bem enrabadinlio, que eu continuarei a pagar espadas de aço com dragões de pergaminho. Se alguma vez conse­guisse regressar a Westeros para reclamar os seus direitos de nascença, teria todo o ouro de Rochedo Casterly para cumprir as promessas. Se não, bem, estaria morto e os seus novos irmãos podiam limpar os cus àqueles pergaminhos. Alguns talvez aparecessem em Porto Real com os seus papelinhos nas mãos, esperando convencer a sua querida irmã a pagá-los. E bem gosta­va eu de ser uma barata entre as esteiras para ver isso.

O que estava escrito nos pergaminhos mudou depois de estar assina­da cerca de meia pilha. As notas de cem dragões eram todas para sargentos. Por baixo, o número tornou-se subitamente maior. Agora, Tyrion estava a prometer pagar ao portador mil dragões de ouro. Abanou a cabeça, riu-se, assinou. E outra vez. E outra.

—   Então — disse enquanto escrevinhava — quais serão os meus de­veres na companhia?

—  És feio demais para seres o cuzinho do Bokkoko — disse Kasperio — mas podes servir de carne para setas.

—   Melhor do que tu julgas — disse Tyrion, recusando-se a morder a isca. — Um homem pequeno com um escudo grande dá os arqueiros em doidos. Um homem mais sábio do que tu disse-me isso uma vez.

—   Vais trabalhar com o Tinteiros — disse o Ben Castanho Plumm.

—  Vais trabalhar para o Tinteiros — disse o Tinteiros. — A manter os livros em dia, a contar dinheiro, a escrever contratos e cartas.

—   De bom grado — disse Tyrion. — Adoro livros.

—   Que outra coisa farias? — troçou Kasporio. — Olha para ti. Não és capaz de combater.

—   Em tempos estive encarregado de todos os esgotos de Rochedo Casterly — disse Tyrion com brandura. — Alguns deles estavam entupidos há anos, mas depressa os pus a funcionar alegremente. — Voltou a mergu­lhar a pena no tinteiro. Mais uma dúzia de notas, e terminaria. — Talvez pudesse supervisionar as vossas seguidoras de acampamentos. Não pode­mos ter os homens entupidos, pois não?

Aquele gracejo não agradou ao Ben Castanho.

—   Mantém-te longe das rameiras — avisou. — A maior parte tem doenças, e falam. Não és o primeiro escravo fugido a juntar-se à compa­nhia, mas isso não quer dizer que tenhamos de apregoar a tua presença. Não te quero a desfilar por onde possas ser visto. Fica dentro das tendas o mais que puderes e caga no teu balde. Há demasiados olhos nas latrinas. E nunca saias do acampamento sem a minha licença. Podemos vestir-te com aço de escudeiro, fingir que és o cuzinho de Jorah, mas há quem consiga ver para lá dessa máscara. Depois de Meereen ter sido tomada, quando estiver­mos a caminho de Westeros, podes pavonear-te por onde quiseres vestido de ouro e carmim. Mas até lá...

—   ... viverei debaixo de uma pedra e não farei um som. Tens a minha palavra a esse respeito. — Tyrion da Casa Lannister, assinou mais uma vez, com um floreado. Aquele era o último pergaminho. Restavam três notas, diferentes das outras. Duas estavam escritas em bom velo e identificadas com nomes. Para Kasporio, o Astucioso, dez mil dragões. O mesmo para o Tinteiros, cujo verdadeiro nome parecia ser Tybero Istarion. — Tybero? — disse Tyrion. — Isso soa quase a Lannister. Es algum primo há muito perdido?

—    Talvez. Eu também pago sempre as minhas dívidas. É o que se espera de um tesoureiro. Assina.

Assinou.

A nota do Ben Castanho era a última. Essa fora inscrita num rolo de pele de ovelha. Cem mil dragões de ouro, cinquenta jeiras de terra fértil, um castelo e uma senhoria. Muito bem. Este Plumm não sai barato. Tyrion co­çou a cicatriz e perguntou a si próprio se deveria fazer uma exibição de in­dignação. Quando se enraba um homem, espera-se um ou dois guinchos. Podia praguejar, amaldiçoar, arengar sobre ladroagem, recusar-se a assinar durante algum tempo, depois ceder com relutância, sempre a protestar. Mas estava farto de farsas, portanto limitou-se a fazer uma careta, assinou e entregou o rolo ao Ben Castanho.

—   O teu caralho é tão grande como nas histórias — disse. — Considerai-me bem e realmente fodido, Lorde Plumm.

O Ben Castanho soprou a assinatura.

—   O prazer foi meu, Duende. E agora tornamos-te um de nós. Tin­teiros, vai buscar o livro.

O livro era encadernado a couro com dobradiças de ferro e era su­ficientemente grande para servir de bandeja para o jantar. No interior da pesada capa de madeira estavam nomes e datas que recuavam mais de um século.

—    Os Segundos Filhos estão entre as companhias livres mais anti­gas — disse o Tinteiros, enquanto virava páginas. — Este é o quarto livro. Estão aqui escritos os nomes de todos os homens que serviram conosco. Quando se alistaram, onde combateram, durante quanto tempo serviram, o modo como morreram... tudo no livro. Vais encontrar aqui nomes fa­mosos, alguns dos teus Sete Reinos. Aegor Rivers serviu conosco um ano, antes de sair para fundar a Companhia Dourada. Chamais-lhe Açamargo. O Príncipe Brilhante, Aerion Targaryen, também foi um Segundo Filho. E Rodrik Stark, o Lobo Errante, também. Não, essa tinta não. Toma, usa esta.

         — Destapou um novo tinteiro e pousou-o.

Tyrion inclinou a cabeça.

—   Tinta vermelha?

—    Uma tradição da companhia — explicou o Tinteiros. — Houve uma época em que cada novo recruta escrevia o nome com o seu próprio sangue, mas acontece que o sangue não vale nada como tinta.

—   Os Lannister adoram a tradição. Empresta-me a tua faca.

O Tinteiros ergueu uma sobrancelha, encolheu os ombros, desem­bainhou a adaga e entregou-lha com o cabo para a frente. Ainda dói, Semi-meistre, muito obrigado, pensou Tyrion enquanto picava a ponta do pole­gar. Espremeu uma gorda gota de sangue para dentro do tinteiro, trocou o punhal por uma pena nova e escrevinhou Tyrion da Casa Lannister, Senhor de Rochedo Casterly numa grande letra vigorosa, logo por baixo da assina­tura muito mais modesta de Jorah Mormont.