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— Ficai quieta, senhora. — O vestido estava largo abaixo da cintura, portanto foi aí que enfiou a lâmina, cortando lentamente para cima a fim de não a golpear. Aço sussurrou através de lã e seda com um som ténue e suave. A rapariga tremia. Theon teve de a agarrar por um braço para a manter quieta. Jeyne, Jeyne, combina com dor. Agarrou com mais força, tanta quanta a sua mutilada mão esquerda permitia. — Ficai quieta.

Por fim, o vestido cedeu, um pálido emaranhado em volta dos pés dela.

— A roupa de baixo também — ordenou Ramsay. O Cheirete obedeceu.

Quando terminou, a noiva ficou nua, com os enfeites nupciais transformados numa pilha de trapos brancos e cinzentos em volta dos seus pés.

Tinha os seios pequenos e pontiagudos, as ancas estreitas como as de uma rapariguinha, as pernas tão magras como as de uma ave. Uma criança. Theon esquecera-se de como ela era nova. Da idade de Sansa. Arya seria ainda mais nova. Apesar do fogo na lareira, o quarto estava gelado. A pálida pele de Jeyne estava transformada em pele de galinha. Houve um momento em que as mãos dela se elevaram, como que para cobrir os seios, mas Theon fez com a boca um não silencioso e ela viu e parou de imediato.

— Que achas dela, Cheirete? — perguntou o Lorde Ramsay.

— Ela… — Que resposta quer ele? Que dissera a rapariga, antes do bosque sagrado? Todos diziam que eu era bonita. Agora não era bonita.

Theon via uma teia de aranha de ténues vincos estreitos nas suas costas, onde alguém a chicoteara. — … ela é bela, tão… tão bela.

Ramsay sorriu o seu sorriso húmido.

— Ela entesa-te a picha, Cheirete? Está a fazer força contra as ataduras? Gostavas de a foder primeiro? — Riu-se. — O Príncipe de Winterfell devia ter esse direito, como todos os senhores tinham nos dias de antanho.

A primeira noite. Mas tu não és senhor nenhum, pois não? Só o Cheirete.

Nem sequer és um homem, em boa verdade. — Bebeu outro gole de vinho, depois atirou a taça para o outro lado do quarto, fazendo-a estilhaçar-se numa parede. Rios vermelhos correram pela pedra. — Senhora Arya. Mete-te na cama. Sim, contra as almofadas, assim é que é uma boa esposa.

Agora abre as pernas. Deixa-nos ver-te a cona.

A rapariga obedeceu, sem palavras. Theon deu um passo para trás na direção da porta. O Lorde Ramsay sentou-se ao lado da sua noiva, fez-lhe deslizar a mão pela parte de dentro da coxa, depois enfiou dois dedos dentro dela. A rapariga soltou um arquejo de dor.

— Estás seca como osso velho. — Ramsay libertou a mão e esbofeteou-lhe a cara. — Disseram-me que sabias como agradar a um homem.

Foi mentira?

— N-não, senhor. Eu fui t-treinada.

Ramsay levantou-se, com a luz do fogo a brilhar-lhe na cara.

— Cheirete, anda cá. Põe-na pronta para mim.

Por um momento, não compreendeu.

— Eu… quereis dizer… senhor, eu não tenho… eu…

— Com a boca — disse o Lorde Ramsay. — E despacha-te. Se ela não estiver húmida quando eu acabar de me despir, corto-te essa tua língua e prego-a à parede.

Algures no bosque sagrado um corvo gritou. O punhal continuava na sua mão.

Embainhou-o.

Cheirete, o meu nome é Cheirete, rima com joguete.

O Cheirete dobrou-se para desempenhar a sua tarefa.

O  VIGIA

— Examinemos essa cabeça — ordenou o seu príncipe.

Areo Hotah fez correr a mão pelo cabo liso do machado, a sua esposa de freixo e ferro, não deixando nunca de observar. Observava o cavaleiro branco, Sor Balon Swann, e os outros que tinham vindo com ele. Observava as Serpentes de Areia, cada uma sentada na sua mesa. Observava os senhores e as senhoras, os criados, o velho senescal cego e o jovem meistre, Myles, com a barba sedosa e sorriso servil. Em pé, metade iluminado e metade nas sombras, via-os a todos. Serve. Protege. Obedece. Era essa a sua tarefa.

Todos os outros só tinham olhos para a arca. Fora esculpida em ébano, com fechadura e dobradiças de prata. Uma caixa com bom aspeto, sem dúvida, mas muitos dos que ali estavam reunidos no Velho Palácio de Lançassolar podiam estar mortos em breve, dependendo do que se encontrava naquela arca.

Fazendo murmurar os chinelos contra o chão, o Meistre Caleotte atravessou o salão até junto de Sor Balon Swann. O homenzinho redondo tinha um magnífico aspeto nas suas vestes novas, com as faixas largas de castanho claro e escuro e estreitas riscas vermelhas. Fazendo uma vénia, tirou a arca das mãos do cavaleiro branco e levou-a para o estrado, onde Doran Martell estava sentado na sua cadeira de rodas entre a filha Arianne e a querida amante do irmão morto, Ellaria. Uma centena de velas odoríferas perfumava o ar. Pedras preciosas cintilavam nos dedos dos senhores, e nos cintos e redes para o cabelo das senhoras. Areo Hotah polira o seu lorigão de escamas de cobre até as deixar cintilantes como espelhos, para também ele brilhar à luz das velas.

Um silêncio caíra no salão. Dorne sustém a respiração. O Meistre Caleotte pousou a caixa no chão junto à cadeira do Príncipe Doran. Os dedos do meistre, normalmente tão seguros e hábeis, tornaram-se desastrados ao manusear o trinco e abrir a tampa, para revelar o crânio que se encontrava no interior. Hotah ouviu alguém pigarrear. Um dos gémeos Fowler murmurou qualquer coisa ao outro. Ellaria Sand fechara os olhos e estava a murmurar uma prece.

O capitão dos guardas observou que Sor Balon Swann estava tenso como um arco retesado. Aquele novo cavaleiro branco não era tão alto ou bem-parecido como o antigo, mas tinha um peito mais largo, era mais corpulento, tinha os braços grossos de músculo. O manto de neve estava preso à garganta por dois cisnes num broche de prata. Um era de marfim, o outro de ónix, e a Areo Hotah parecia que os dois estavam a lutar. O homem que os usava também parecia um lutador. Este não morrerá tão facilmente como o outro. Não arremeterá contra o meu machado como Sor Arys fez. Ficará atrás do seu escudo e obrigar-me-á a avançar contra ele. Se se chegasse a tanto, Hotah estaria pronto. O seu machado estava sufi cientemente afiado para se fazer a barba com ele.

Permitiu-se uma breve olhadela à arca. O crânio repousava numa base de feltro negro, sorrindo. Todos os crânios sorriam, mas aquele parecia mais feliz do que a maioria. E é maior. O capitão dos guardas nunca vira um crânio maior do que aquele. As arcadas supraciliares eram grossas e pesadas, a maxila era enorme. O osso brilhava à luz das velas, branco como o manto de Sor Balon.

— Coloca-o no pedestal — ordenou o príncipe. Tinha lágrimas a brilhar nos olhos.

O pedestal era uma coluna de mármore negro um metro mais alta do que o Meistre Caleotte. O pequeno e gordo meistre pôs-se nos bicos dos pés, mas ainda continuou sem chegar lá. Areo Hotah preparava-se para ir ajudá-lo, mas Obara Sand reagiu primeiro. Mesmo sem o chicote e o escudo, possuía um ar zangado e masculino. Em lugar de vestido, usava bragas de homem e uma túnica de linho que lhe chegava à barriga das pernas, cingida à cintura com um cinto de sóis de cobre. O cabelo castanho estava preso atrás de cabeça com um nó. Arrancando o crânio das suaves mãos rosadas do meistre, colocou-o no topo da coluna de mármore.

— A Montanha já não cavalga — disse o príncipe com gravidade.

— A sua morte foi longa e dura, Sor Balon? — perguntou Tyene Sand, no tom de voz que uma donzela poderia usar para perguntar se o seu vestido era bonito.

— Levou dias aos gritos, senhora — respondeu o cavaleiro branco, embora fosse claro que pouco lhe agradava dizê-lo. — Conseguíamos ouvi-lo por toda a Fortaleza Vermelha.

— Isso perturba-vos, sor? — perguntou a Senhora Nym. Usava um vestido de seda amarela tão fina e bem feita que a luz das velas brilhava através dele, indo revelar o ouro tecido e as joias que trazia por baixo. Tão imodesto era o seu trajo que o cavaleiro branco pareceu desconfortável ao olhá-la, mas Hotah aprovou. Nymeria era menos perigosa quando estava quase nua. De outra forma, certamente teria uma dúzia de lâminas ocultas no corpo. — Sor Gregor era um bruto sangrento, todos concordam. Se algum homem mereceu sofrer, foi ele.