— Sua Graça regressará quando regressar — disse Sor Barristan. — Levámos mil ovelhas para a Arena de Daznak, enchemos a Arena de Ghrazz com vitelos, e a Arena Dourada com os animais que Hizdahr zo Loraq tinha reunido para os seus jogos. — Até àquele momento ambos os dragões pareciam ter gosto por carneiro, regressando à Arena de Daznak sempre que tinham fome. Se algum andava a caçar homens, dentro ou fora da cidade, a notícia ainda não chegara aos ouvidos de Sor Barristan. Os únicos meereeneses que os dragões tinham matado depois de Harghaz, o Flerói, tinham sido os esclavagistas suficientemente insensatos para levantar objeções quando Rhaegal tentara fazer o seu covil no topo da Pirâmide de Hazkar. — Temos assuntos mais urgentes a discutir. Enviei a Graça Verde aos yunkaitas para fazer preparativos para a libertação dos nossos reféns. Espero-a de volta até ao meio-dia com a resposta.
— Com palavras — disse o Enviuvador. — Os Corvos Tormentosos conhecem os yunkaitas. As línguas deles são vermes que contorcem de um lado para o outro. A Graça Verde vai voltar com palavras de vermes, não com o capitão.
— Se aprouver à Mão da Rainha recordar, os Sábios Mestres também têm o nosso Herói em seu poder — disse o Verme Cinzento. — E também o senhor dos cavalos Jhogo, companheiro de sangue da própria rainha.
— Sangue do seu sangue — concordou o dothraki, Rommo. — Ele teni de ser libertado. A honra do khalasar exige-o.
— Ele será libertado — disse Sor Barristan — mas primeiro temos de esperar para ver se a Graça Verde consegue...
Skahaz Tolarrapada deu um murro na mesa.
— A Graça Verde não vai conseguir nada. Ela pode estar a conspirar com os yunkaitas neste mesmo momento. Preparativos, dissestes vós? Fazer preparativos? Que tipo de preparativos?
— Resgate — disse Sor Barristan. — O peso de cada homem em ouro.
— Os Sábios Mestres não precisam do nosso ouro, sor — disse Marselen. — São mais ricos do que os vossos senhores de Westeros, todos eles.
— Mas os seus mercenários quererão o ouro na mesma. Que são os reféns para eles? Se os yunkaitas recusarem, isso interporá uma lâmina entre eles e os que contrataram. — Pelo menos espero que sim. Fora Missandei que lhe sugerira o estratagema. Ele próprio nunca teria pensado em tal coisa. Em Porto Real, os subornos tinham sido o domínio do Mindinho, enquanto o Lorde Varys tinha a tarefa de fomentar a divisão entre os inimigos da coroa. Os deveres de Selmy tinham sido mais diretos. Onze anos de idade, e no entanto Missandei é tão esperta como metade dos homens nesta mesa e mais sensata do que todos eles. — Dei instruções à Graça Verde para só apresentar a oferta quando todos os comandantes yunkaitas se tivessem reunido para a ouvir.
— Mesmo assim recusarão — insistiu Symon Dorsolistado. — Dirão que querem os dragões mortos e o rei restaurado.
— Rezo para que vos enganeis. — E temo que tenhas razão.
— Os vossos deuses estão longe, Sor Avô — disse o Enviuvador. — Não me parece que escutem as vossas preces. E quando os yunkaitas mandarem a velha de volta para vos cuspir no olho, fareis o quê?
— Fogo e sangue — disse Barristan Selmy, suavemente, tão suavemente.
Durante um longo momento ninguém falou. Depois Belwas, o Forte, deu uma palmada na barriga e disse:
— É melhor que fígado e cebolas — e Skahaz Tolarrapada fitou-o através dos olhos da sua máscara em forma de lobo e disse:
— Quebraríeis a paz do Rei Hizdahr, velho?
— Estilhaçá-la-ia. — Um dia, há muito tempo, um príncipe chamara-lhe Barristan, o Ousado. Uma parte desse rapaz ainda existia dentro dele. — Fizemos um farol no topo da pirâmide, onde a harpia estava dantes. Lenha seca, ensopada em óleo, tapada para manter a chuva afastada. Se a hora chegar, e eu rezo para que não chegue, acenderemos esse farol. As chamas serão o sinal para jorrar portas fora e atacar. Cada um de vós terá um pa_ pel a desempenhar, portanto cada um de vós deverá estar de prontidão, de dia e de noite. Destruiremos os nossos inimigos ou seremos nós próprios destruídos. — Ergueu uma mão para fazer um sinal aos escudeiros, que aguardavam. — Mandei preparar alguns mapas para mostrar a disposição dos nossos inimigos, os seus acampamentos, linhas de cerco e trabucos. Se conseguirmos quebrar os esclavagistas, os mercenários abandoná-los-ão. Sei que tendes preocupações e perguntas a fazer. Dai-lhes voz aqui. Quando abandonarmos esta mesa, todos nós devemos ter uma única opinião, um único propósito.
— Então é melhor mandardes buscar comida e bebida — sugeriu Symon Dorsolistado. — Isto vai demorar algum tempo.
Demorou o resto da manhã e a maior parte da tarde. Os capitães e comandantes discutiram sobre os mapas como peixeiras sobre um balde de caranguejos. Pontos fracos e pontos fortes, como melhor empregar a pequena companhia de arqueiros de que dispunham, se os elefantes deviam ser usados para quebrar as linhas yunkaitas ou mantidos de reserva, quem devia ter a honra de liderar o primeiro ataque, se era melhor colocar a cavalaria nos flancos ou na vanguarda.
Sor Barristan deixou cada homem dar a sua opinião. Tal Toraq achava que deviam marchar sobre Yunkai, depois de terem quebrado as suas linhas; a Cidade Amarela estaria quase sem defesas, e os yunkaitas não teriam alternativa a levantar o cerco e a segui-los. O Gato Malhado propôs desafiar o inimigo a enviar um campeão para o enfrentar em combate singular. Belwas, o Forte, gostou dessa ideia, mas insistiu que devia ser ele a lutar, não o Gato. Camarron da Contagem avançou com um plano para capturar os navios amarrados ao longo da margem do rio, e usar o Skahazadhan para levar trezentos lutadores de arena até à retaguarda dos yunkaitas. Todos os presentes concordavam que os Imaculados eram os melhores soldados de que dispunham, mas ninguém concordava sobre como seria melhor pô-los em campo. O Enviuvador queria usar os eunucos como um punho de ferro para trespassar o coração das defesas yunkaitas. Marselen achava que seriam melhor colocados numa das pontas da linha de batalha principal, onde podiam repelir qualquer tentativa do inimigo de os flanquear. Symon Dorsolistado queria-os separados em três e divididos pelas três companhias de libertos. Os seus Irmãos Livres eram valentes e estavam ansiosos pelo combate, segundo afirmava, mas sem os Imaculados para os enrijecer temia que os soldados inexperientes talvez não tivessem a disciplina necessária para enfrentarem sozinhos mercenários experientes em batalha.
Verme Cinzento limitou-se a dizer que os Imaculados obedeceriam, fosse o que fosse que lhes pedissem.
E depois de tudo aquilo ter sido discutido, debatido e decidido, Symon Dorsolistado levantou uma última questão.
Enquanto escravo em Yunkai, ajudei o meu amo a negociar com as companhias livres e tratei do pagamento dos seus salários. Conheço os mercenários e sei que os yunkaitas não lhes podem pagar nem por sombras o suficiente para enfrentarem fogo de dragão. Portanto pergunto-vos... se a paz falhar e esta batalha tiver início, os dragões virão? Juntar-se-ão à luta?
Virão, podia Sor Barristan ter dito. O barulho atrai-los-á, os gritos e guinchos, o cheiro do sangue. Isso irá atrai-los ao campo de batalha, como o rugido da Arena de Daznak atraiu Drogon às areias escarlates. Mas quando vierem, distinguirão um lado do outro? Por algum motivo, não lhe parecia. Portanto disse apenas:
— Os dragões farão o que os dragões fizerem. Se vierem, pode ser que baste a sombra das suas asas para desencorajar os esclavagistas e os pôr em debandada. — Depois agradeceu-lhes e mandou-os todos embora.