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O Verme Cinzento deixou-se ficar para trás depois de os outros saírem.

—  Estes estarão prontos quando o fogo no farol for acendido. Mas a Mão terá certamente de saber que, quando atacarmos, os yunkaitas mata­rão os reféns.

—  Farei tudo o que puder para evitar isso, meu amigo. Tenho uma... ideia. Mas peço que me desculpeis. Já está mais que na altura dos dorneses saberem que o seu príncipe está morto.

O Verme Cinzento inclinou a cabeça.

—   Este obedece.

Sor Barristan levou consigo dois dos seus recém-armados cavaleiros até às masmorras. Sabia-se de casos em que a dor e os sentimentos de culpa tinham levado bons homens à loucura, e tanto Archibald Yronwood como Gerris Drinkwater tinham desempenhado papéis no falecimento do ami­go. Mas quando chegaram à cela disse a Tum e ao Ovelha Vermelha para esperarem no exterior, enquanto ele entrava para dizer aos dorneses que a agonia do príncipe terminara.

Sor Archibald, o grande e careca, não teve nada para dizer. Mante­ve-se sentado na borda da cama, fitando as mãos cobertas de ligaduras de linho. Sor Gerris esmurrou uma parede.

—   Eu disse-lhe que era uma loucura. Supliquei-lhe para irmos para casa. A cadela da vossa rainha não queria nada com ele, qualquer homem o via. Atravessou o mundo para lhe oferecer o seu amor e lealdade, e ela riu-se-lhe na cara.

—   Ela nunca riu — disse Selmy. — Se a conhecêsseis, saberíeis disso.

—   Desprezou-o. Ele ofereceu-lhe o coração, e ela atirou-lho de volta e afastou-se para ir foder o seu mercenário.

—   É melhor terdes tento nessa língua, sor. — Sor Barristan não gos­tava daquele Gerris Drinkwater e não permitiria que ele aviltasse Daenerys. — A morte do Príncipe Quentyn foi obra dele próprio, e vossa.

—   Nossa? De que temos nós culpa, sor? Quentyn era nosso amigo, sim. Podeis chamar-lhe um pouco tolo, mas todos os sonhadores são tolos. Mas antes de tudo o mais era nosso príncipe. Devíamos-lhe obediência.

Barristan Selmy não podia contestar a verdade que naquilo havia. Passara a maior parte da vida a obedecer às ordens de bêbados e de loucos.

—   Ele chegou tarde demais.

—   Ele ofereceu-lhe o coração — voltou a dizer Sor Gerris.

—   Ela precisava de espadas, não de corações.

—   Ter-lhe-ia dado também as lanças de Dorne.

—    Oxalá tivesse dado. — Ninguém desejara mais que Daenerys olhasse favoravelmente o príncipe dornês do que Barristan Selmy. — Mas chegou tarde demais, e esta loucura... contratar mercenários, libertar dois dragões na cidade... isto foi loucura, e pior que loucura. Foi traição.

—   O que ele fez foi feito por amor pela Rainha Daenerys — insistiu Gerris Drinkwater. — Para se mostrar merecedor da sua mão.

O velho cavaleiro ouvira o suficiente.

—   O que o Príncipe Quentyn fez foi feito por Dorne. Tomais-me por algum avô senil? Passei a vida cm volta de reis, rainhas e príncipes. Lançassolar pretende pegar em armas contra o Trono de Ferro. Não, não vos incomodeis a negá-lo. Doran Martell não é homem para chamar os lanceiros sem ter esperança de vitória. O dever trouxe cá o Príncipe Quentyn. O dever, a honra, a sede de glória... o amor nunca. Quentyn estava cá pelos dragões, não por Daenerys.

—   Não o conhecíeis, sor. Ele...

—   Ele está morto, Drinque. — Yronwood pôs-se em pé. — Palavras não o chamarão de volta. Cletus e Will também estão mortos. Portanto cala a merda dessa boca antes que eu enfie nela o meu punho. — O grande ca­valeiro virou-se para Selmy. — Que tencionais fazer conosco?

—   Skahaz Tolarrapada quer ver-vos enforcados. Matastes quatro dos seus homens. Quatro dos homens da rainha. Dois eram libertos que se­guiam Sua Graça desde Astapor.

Yronwood não pareceu surpreendido.

—   Os homens-animais, pois. Só matei um, o da cabeça de basilisco. Os mercenários acabaram com os outros. Mas não interessa, eu sei.

—   Estávamos a proteger Quentyn — disse Drinkwater. — Nós...

—                       Está calado, Drinque. Ele sabe. — A Sor Barristan, o grande cavaleiro disse: — Não havia necessidade de vir conversar se tencionásseis enforcar-nos. Portanto não é isso, pois não?

—    Não. — Este pode não ser tão lento de raciocínio como parece. Vós podeis ser-me mais úteis vivos do que mortos. Se me servirdes, arranjar-vos-ei depois um navio que vos leve de volta para Dorne, e dar-vos-ei os ossos do Príncipe Quentyn para os devolverdes ao senhor seu pai.

Sor Archibald fez uma careta.

—  Porque é que são sempre navios? Mas alguém tem de levar o Quent para casa. O que nos pedis, sor?

—  As vossas espadas.

—  Tendes milhares de espadas.

—    Os libertos da rainha ainda não tiveram o batismo de sangue. Nos mercenários não confio. Imaculados são soldados valentes... mas não são guerreiros. Não são cavaleiros. — Fez uma pausa. — O que aconteceu quando tentastes capturar os dragões? Contai-me.

Os dorneses trocaram um olhar. Depois, Drinkwater disse:

—    Quentyn disse ao Príncipe Esfarrapado que podia controlá-los. Disse que lhe estava no sangue. Ele tinha sangue Targaryen.

—  Sangue do Dragão.

—   Sim. Os mercenários deviam ajudar-nos a acorrentar os dragões, para podermos levá-los até às docas.

—   O Farrapos arranjou um navio — disse Yronwood. — Um gran­de, para o caso de conseguirmos os dois dragões. E Quent ia montar um. — Olhou para as mãos cobertas de ligaduras. — Mas no momento em que entrámos, viu-se logo que nada daquilo ia resultar. Os dragões eram demasiado selvagens. As correntes... havia bocados de corrente partida por todo o lado, correntes grandes, elos do tamanho de uma cabeça mis­turados com todos aqueles ossos rachados e estilhaçados. E Quent, que os Sete o salvem, ele parecia a ponto de cagar a roupa de baixo. Caggo e Meris não eram cegos, também viram isso. Depois, um dos besteiros disparou. Talvez tivessem querido matar os dragões desde o início, e só estivessem a usar-nos para chegar a eles. Com o Farrapos nunca se sabe. Seja como for, não foi inteligente. O dardo limitou-se a irritar os dragões, e eles já não estavam lá muito bem dispostos para começar. Depois... depois as coisas ficaram más.

—   E os Aventados desapareceram num sopro — disse Sor Gerris. — O Quent estava a gritar, coberto de chamas, e eles tinham desaparecido. Caggo, a Linda Meris, todos menos o morto.

—   Ah, que esperavas tu, Drinque? Um gato mata um rato, um porco chafurda em merda, e um mercenário foge quando é mais necessário. Não se pode culpá-los. É só a natureza do animal.

—   Ele não se engana — disse Sor Barristan. — Que prometeu o Prín­cipe Quentyn ao Príncipe Esfarrapado em troca de toda esta ajuda?

Não obteve resposta. Sor Gerris olhou para Sor Archibald. Sor Archibald olhou para as mãos, para o chão, para a porta.

—    Pentos — disse Sor Barristan. — Prometeu-lhe Pentos. Dizei-o. Agora nenhuma palavra vossa pode ajudar ou prejudicar o Príncipe Quen­tyn.

—   Sim — disse Sor Archibald, com ar infeliz. — Foi Pentos. Fizeram sinais num papel, os dois.

Há aqui uma oportunidade.

—  Ainda temos Aventados nas masmorras. Aqueles falsos desertores.

—  Eu lembro-me — disse Yronwood. — Hungerford, Straw, esse gru­po. Alguns não eram maus de todo, para mercenários. Outros, bem, talvez aguentassem morrer um pouco. Que há com eles?

—     Pretendo mandá-los de volta ao Príncipe Esfarrapado. E vós com eles. Sereis dois entre milhares. A vossa presença nos acampamentos yunkaitas deve passar despercebida. Quero que entregueis uma mensagem ao Príncipe Esfarrapado. Dizei-lhe que vos enviei, que falo com a voz da rainha. Dizei-lhe que pagaremos o preço dele, se nos entregar os reféns, incólumes e inteiros.