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Dany observou-o a partir. Quando o som dos seus cascos se desva­neceu em silêncio, desatou a gritar. Chamou até ficar rouca... e Drogon veio, resfolegando nuvenzinhas de fumo. A erva vergou debaixo dele. Dany saltou-lhe para as costas. Fedia a sangue, a suor e a medo, mas nada disso importava.

— Para ir em frente tenho de voltar para trás — disse. As pernas nuas apertaram-se em volta do pescoço do dragão. Deu-lhe com os calcanhares, e Drogon atirou-se ao céu. Perdera o chicote, pelo que usou as mãos e os pés e virou-o para nordeste, na direção que o batedor seguira. Drogon foi de uma forma bastante pronta; talvez lhe cheirasse ao medo do cavaleiro.

Numa dúzia de segundos ultrapassaram o dothraki, enquanto ele ga­lopava muito abaixo. À esquerda e à direita, Dany vislumbrou lugares onde a erva estava queimada e feita em cinzas. Drogon já antes veio por aqui, compreendeu. Como uma cadeia de ilhas cinzentas, as marcas da sua caça salpicavam o verde mar de erva.

Uma vasta manada de cavalos surgiu debaixo deles. Também havia cavaleiros, uma vintena ou mais, mas viraram-se e fugiram assim que vi­ram o dragão. Os cavalos quebraram e fugiram quando a sombra caiu so­bre eles, correndo pela erva até ficarem com os flancos brancos de espuma, rasgando o terreno com os cascos... mas por mais rápidos que fossem, não conseguiam voar. Depressa, um cavalo começou a ficar para trás relativa­mente aos outros. O dragão desceu sobre ele a rugir, e de repente o pobre animal ficou em chamas, mas sem que Dany soubesse como continuou a correr, gritando a cada passo, até que Drogon aterrou em cima dele e lhe quebrou a coluna. Dany agarrou-se ao pescoço do dragão com todas as suas forças para evitar deslizar de cima dele.

A carcaça era pesada demais para o dragão a levar para o covil, por­tando Drogon consumiu ali a presa, abocanhando a carne esturricada en­quanto as ervas ardiam à volta deles, com o ar pesado com o fumo sopra­do pelo vento e o cheiro a pelagem queimada de cavalo. Dany, faminta, deixou-se cair de cima do dragão e comeu com ele, arrancando bocados de carne fumegante do cavalo morto com mãos nuas e queimadas. Em Meereen fui uma rainha vestida de seda, mordiscando tâmaras recheadas e car­neiro com mel, recordou. Que pensaria o meu nobre esposo se me pudesse ver agora? Hizdahr ficaria horrorizado, sem dúvida. Mas Daario...

Daario rir-se-ia, cortaria um bocado de carne de cavalo com o seu arakh e acocorar-se-ia para comer a seu lado.

Enquanto o céu ocidental ficava da cor de uma nódoa negra, ouviu o som de cavalos que se aproximavam. Dany levantou-se, limpou as mãos à túnica interior esfarrapada, e foi pôr-se ao lado do seu dragão.

Foi assim que Khal Jhaqo a encontrou, quando meia centena de guer­reiros a cavalo emergiram do fumo soprado pelo vento.

EPÍLOGO 

—   Eu não sou nenhum traidor — declarou o Cavaleiro do Poleiro do Grifo.

—   Sou um homem do Rei Tommen, e vosso.

Um ping-ping-ping constante pontuava as suas palavras, da neve der­retida que lhe escorria do manto e se acumulava no chão. Levara a nevar em Porto Real durante a maior parte da noite; lá fora, os montes de neve chegavam ao tornozelo. Sor Kevan Lannister aconchegou-se melhor ao manto.

—   Isso é o que vós dizeis, sor. As palavras são vento.

—  Então deixai-me provar a verdade delas com a minha espada. — A luz dos archotes transformava os longos cabelos ruivos e a barba de Ronnet Connington num incêndio de fogo. — Enviai-me contra o meu tio, que vos trarei a sua cabeça, e também a daquele falso dragão.

Lanceiros Lannister com mantos carmesim e meios elmos coroados por leões dispunham-se ao longo da parede ocidental da sala do trono. Guardas Tyrell com mantos verdes enfrentavam-nos da parede oposta. O frio na sala do trono era palpável. Embora nem a Rainha Cersei nem a Rai­nha Margaery estivessem entre eles, sentia-se a sua presença envenenando o ar, como fantasmas num banquete.

Por trás da mesa onde os cinco membros do pequeno conselho do rei se encontravam sentados, o Trono de Ferro agachava-se como uma gran­de fera negra, com as farpas, garras e lâminas meio envoltas em sombras. Kevan Lannister sentia-o nas suas costas, uma comichão entre as espáduas. Era fácil imaginar o velho Rei Aerys empoleirado lá em cima, sangrando de alguma nova ferida, olhando furioso para baixo. Mas naquele dia o trono estava vazio. Não vira motivo para que Tommen se lhes juntasse. Era mais gentil deixar o rapaz ficar com a mãe. Só os Sete sabiam quanto tempo mãe e filho podiam ter para passar juntos antes do julgamento de Cersei... e possivelmente da sua execução.

Mace Tyrell estava a falar.

—   Lidaremos com o vosso tio e com este rapaz falsificado no tempo próprio. — O novo Mão do Rei estava sentado num trono de carvalho es­culpido em forma de mão, uma vaidade absurda que sua senhoria apresen­tara no dia em que Sor Kevan concordara conceder-lhe o cargo que cobi­çava. — Esperareis aqui até estarmos prontos para nos pormos em marcha. Depois tereis a oportunidade de provar a vossa lealdade.

Sor Kevan não contestou a ideia.

—    Escoltai Sor Ronnet de volta aos seus aposentos — disse. E assegurai-vos de que ele fica lá ficou implícito. Por mais sonoros que fossem os seus protestos, o Cavaleiro de Poleiro do Grifo continuava a ser suspeito. Aparentemente, os mercenários que tinham desembarcado no sul estavam a ser liderados por alguém do seu sangue.

Quando os ecos dos passos de Connington se silenciaram, o Grande Meistre Pycelle abanou solenemente a cabeça.

—   O tio dele esteve um dia precisamente onde o rapaz estava ainda agora, e disse ao Rei Aerys como lhe entregaria a cabeça de Robert Baratheon.

É isto que acontece quando um homem envelhece tanto como Pycelle. Tudo o que vê ou ouve lhe faz lembrar algo que viu ou ouviu quando era novo.

—  Quantos homens de armas acompanharam Sor Ronnet para a ci­dade? — perguntou Sor Kevan.

—  Vinte — disse o Lorde Randyll Tarly — e a maior parte tinha per­tencido ao antigo grupo de Gregor Clegane. O vosso sobrinho Jaime deu-os a Connington. Para se livrar deles, aposto. Ainda não estavam em Lagoa da Donzela há um dia quando um matou um homem e outro foi acusado de violação. Tive de enforcar o primeiro e de castrar o segundo. Por mim, enviá-los-ia a todos para a Patrulha da Noite, e ao Connington com eles. O lugar dessa escumalha é a Muralha.

—   Um cão parece-se com o dono — declarou Mace Tyrell. — Man­tos negros ficar-lhes-iam bem, concordo. Não tolerarei tais homens na patrulha da cidade. — Uma centena dos seus homens de Jardim de Cima fora acrescentada aos mantos dourados, mas era claro que sua senhoria pretendia resistir a qualquer infusão de ocidentais que os contrabalan­çasse.

Quanto mais lhe dou, mais ele quer. Kevan Lannister começava a compreender por que motivo Cersei ganhara um ressentimento tão grande relativamente aos Tyrell. Mas aquele não era o momento de provocar uma desavença aberta. Tanto Randyll Tarly como Mace Tyrell tinham trazido exércitos para Porto Real, enquanto a maior parte das forças da Casa Lan­nister permanecia nas terras fluviais, derretendo-se rapidamente.

—   Os homens da Montanha sempre foram combatentes — disse em tom conciliatório — e podemos ter necessidade de todas as espadas contra aqueles mercenários. Se isto for realmente a Companhia Dourada, como os informadores de Qyburn insistem...

—   Chamei-lhes o que quiserdes — disse Randyll Tarly. — Continu­am a não passar de aventureiros.

—                      Talvez — disse Sor Kevan. — Mas quanto mais tempo ignorar­mos esses aventureiros, mais fortes eles se tornam. Mandámos preparar uni mapa, um mapa das incursões. Grande Meistre?