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O mapa era belo, pintado por mão de meistre numa folha do mais fino velo, tão grande que cobria a mesa.

—   Aqui. — Pycelle apontou com uma mão manchada. Onde a man­ga da sua veste subiu, viu-se uma aba de pele pálida a pender sob o antebra­ço. — Aqui e aqui. Ao longo de toda a costa, e nas ilhas. Tarth, os Degraus, até Estermonte. E agora temos relatos sobre Connington estar a avançar contra Ponta Tempestade.

—   Se for mesmo Jon Connington — disse Randyll Tarly.

—   Ponta Tempestade. — O Lorde Mace Tyrell grunhiu as palavras. — Ele não conseguirá tomar Ponta Tempestade. Nem que fosse Aegon, o Conquistador. E se tomar, qual o problema? Quem controla o castelo agora é Stannis. Ele que passe de um pretendente para outro, porque haveria isso de nos incomodar? Recapturá-lo-ei depois de ser provada a inocência da minha filha.

Como podes tu recapturá-lo, se nunca o capturaste, para começar?

—  Compreendo, senhor, mas...

Tyrell não o deixou terminar.

—   Estas acusações contra a minha filha são mentiras nojentas. Vol­to a perguntar, porque temos nós de representar esta farsa? Mandai o Rei Tommen declarar a minha filha inocente, sor, e ponde fim aqui e agora a toda esta tolice.

Se fizeres isso, os murmúrios seguirão Margaery durante o resto da vida.

—  Não há homem que duvide da inocência da vossa filha, senhor — mentiu Sor Kevan — mas Sua Alta Santidade insiste num julgamento.

O Lorde Randyll soltou uma fungadela.

—   Em que nos transformámos nós, quando cavaleiros e grandes se­nhores têm de dançar ao som de pios de pardais?

—  Temos inimigos por todos os lados, Lorde Tarly — fez-lhe lembrar Sor Kevan. — Stannis a norte, homens de ferro a oeste, mercenários no sul. Se desafiardes o Alto Septão, teremos também sangue a correr pelas sarjetas de Porto Real. Se formos vistos como gente que se opõe aos deuses, isso só empurrará os pios para os braços de um ou outro desses candidatos a usurpadores.

Mace Tyrell não se deixou convencer.

—   Depois de Paxter Redwyne varrer os homens de ferro dos mares, os meus filhos retomarão os Escudos. Se as neves não tratarem de Stannis, Bolton fá-lo-á. E quanto a Connington...

—   Se é que é ele — disse o Lorde Randyll.

—  ... e quanto a Connington — repetiu Tyrell — que vitórias alcan­çou para o devermos temer? Podia ter posto fim à Rebelião de Robert no Septo de Pedra. Falhou. Tal como a Companhia Dourada sempre falhou. Alguns podem correr para se lhe juntar, sim. O reino fica bem livre de tais idiotas.

Sor Kevan desejou poder partilhar das certezas do outro. Conhecera Jon Connington, um pouco; um jovem orgulhoso, o mais obstinado do bando que se reunira em volta do Príncipe Rhaegar Targaryen, competindo pelo seu favor régio. Arrogante, mas capaz e enérgico. Isso, e a perícia nas armas, tinham sido os motivos por que o Rei Louco Aerys o nomeara Mão. A inação do velho Lorde Merryweather permitira que a rebelião ganhasse raízes e se espalhasse, e Aerys desejava alguém jovem e vigoroso para con­trapor à juventude e vigor de Robert.

—  Cedo demais — declarara o Lorde Tywin Lannister quando a no­tícia sobre a escolha do rei chegara a Rochedo Casterly. — Connington é demasiado novo, demasiado ousado, demasiado ansioso por glória.

A Batalha dos Sinos demonstrara a verdade que havia nessa ideia. Sor Kevan esperara que, depois, Aerys não tivesse alternativa a chamar Tywin uma vez mais... mas em vez disso o Rei Louco virara-se para os Lordes Chelsted e Rossart, e pagara por tal erro com a vida e a coroa. Mas isso tudo foi há tanto tempo! Se este for realmente Jon Connington, deverá ser um homem diferente. Mais velho, mais duro, mais experiente... mais perigoso.

—  Connington pode ter mais do que a Companhia Dourada. Diz-se que tem um pretendente Targaryen.

—   Um rapaz fingido é o que ele tem — disse Randyll Tarly.

—  Pode ser que sim. Ou que não. — Kevan Lannister estivera ali, na­quele mesmo salão, quando Tywin depusera os corpos dos filhos do Prín­cipe Rhaegar aos pés do Trono de Ferro, envoltos em mantos carmesins. A rapariga estivera reconhecível como a Princesa Rhaenys, mas o rapaz... um horror sem cara, de osso, cérebro e sangue, algumas madeixas de cabelo claro. Nenhum de nós olhou por muito tempo. Tywin disse que era o Príncipe Aegon, e aceitámos a sua palavra. — Também temos as histórias que vêm de leste. Um segundo Targaryen, e alguém cujo sangue ninguém pode ques­tionar. Daenerys Nascida na Tormenta.

—  Tão louca como o pai — declarou o Lorde Mace Tyrell.

Esse há de ser o mesmo pai que Jardim de Cima e a Casa Tyrell apoia­ram até ao amargo fim e bem para lá dele.

—  Até pode ser louca — disse Sor Kevan — mas com tanto fumo a vir para oeste, certamente haverá algum incêndio a arder a leste.

O Grande Meistre Pycelle fez bandear a cabeça.

— Dragões. Essas mesmas histórias chegaram a Vilavelha. Demasia­das para serem ignoradas. Uma rainha de cabelo prateado com três dragões.

—   No outro lado do mundo — disse Mace Tyrell. — Rainha da Baía dos Escravos, sim. Que fique com ela.

—   Quanto a isso podemos concordar — disse Sor Kevan — mas a rapariga é do sangue de Aegon, o Conquistador, e não me parece que se contente com permanecer em Meereen para sempre. Se chegasse a estas costas e juntasse as suas forças ao Lorde Connington e àquele seu príncipe, fingido ou não... temos de destruir Connington e este pretendente agora, antes que Daenerys Nascida-na-Tormenta possa vir para oeste.

Mace Tyrell cruzou os braços.

—   Pretendo fazer isso mesmo, sor. Depois dos julgamentos.

—    Mercenários lutam por dinheiro — declarou o Grande Meistre Pycelle. — Com ouro suficiente, talvez persuadíssemos a Companhia Dou­rada a entregar-nos o Lorde Connington e o seu pretendente.

—   Sim, se tivéssemos ouro — disse Sor Harys Swyft. — Infelizmen­te, senhores, os nossos cofres contém apenas ratazanas e baratas. Voltei a escrever aos banqueiros de Myr. Se concordarem pagar a dívida da coroa aos bravosianos e fazer-nos um novo empréstimo, talvez não tenhamos de subir impostos. Se não...

—   Também há notícias sobre os magísteres de Pentos emprestarem dinheiro — disse Sor Kevan. — Experimentai contactá-los. — Era ainda menos provável que os pentoshi fossem úteis do que os cambistas de Myr, mas a tentativa tinha de ser feita. A menos que se pudesse encontrar uma nova fonte de dinheiro, ou o Banco de Ferro fosse persuadido a ceder, não teria alternativa a pagar as dívidas da coroa com ouro Lannister. Não se atrevia a recorrer a novos impostos enquanto os Sete Reinos estivessem corroídos por rebeliões. Metade dos senhores do reino não era capaz de distinguir impostos de tirania, e saltariam para as mãos do usurpador mais próximo num segundo se isso lhes poupasse um cobre furado. — Se isso falhar, podeis ter de ir a Bravos, para negociar pessoalmente com o Banco de Ferro.

Sor Harys vacilou.

—  Terei?

—   Vós sois o mestre da moeda — disse o Lorde Randyll num tom penetrante.

—   Pois sou. — O tufo de pelos brancos na ponta do queixo de Swyft tremeu de ultraje. — Terei de vos fazer lembrar, senhor, que este problema não foi obra minha? E nem todos tivemos oportunidade de voltar a encher os cofres com o saque de Lagoa da Donzela e Pedra do Dragão.

— O que insinuais ofende-me, Swyft — disse Mace Tyrell, irritan­do-se. — Não foi encontrada qualquer riqueza em Pedra do Dragão, ga­ranto-vos. Os homens do meu filho passaram busca a todos os centímetros daquela ilha húmida e desolada, e não encontraram uma única pedra pre­ciosa ou grão de ouro. Nem nenhum sinal do tal lendário esconderijo de ovos de dragão.