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—   Por que não deixá-la ver Porto Real? Sua Graça tem quase a sua idade. Ficaria contente por ter outra amiga.

—  Uma amiga que pode enforcar se o pai da amiga lhe desagradar? — perguntou o Lorde Tytos. — Tenho quatro filhos. Poderíeis aceitar um deles? Ben tem doze anos e está sedento de aventura. Podia servir-vos como escudeiro, se aprouver ao senhor.

—  Tenho tantos escudeiros que não sei o que faça com eles. De todas as vezes que mijo, lutam pelo direito de me segurar na picha. E vós tendes seis filhos, senhor, não quatro.

—   Tive. Robert era o meu mais novo, e nunca foi forte. Morreu há nove dias, de uma soltura nas tripas. Lucas foi assassinado no Casamento Vermelho. A quarta mulher de Walder Frey era uma Blackwood, mas nas Gémeas os laços de família não contam mais do que o direito de hóspede. Gostaria de enterrar Lucas debaixo da árvore, mas os Frey ainda não acha­ram por bem devolver-me os seus ossos.

—   Eu tratarei de que o façam. Lucas era o vosso filho mais velho?

—  O segundo. O mais velho e meu herdeiro é Brynden. A seguir é o Floster. Um rapaz dado aos livros, temo bem.

—   Também há livros em Porto Real. Lembro-me de o meu irmão mais novo os ler de vez em quando. O vosso filho talvez goste de lhes dar uma vista de olhos. Aceitarei Hoster como vosso refém.

O alívio de Blackwood foi palpável.

—   Obrigado, senhor. — Hesitou por um momento. — Se posso ter a ousadia de o dizer, faríeis bem em exigir também um refém ao Lorde Jonos. Uma das filhas. Apesar de passar a vida no cio, não mostrou ser homem suficiente para gerai- filhos.

—   Tinha um filho bastardo que foi morto na guerra.

—   Teria? Harry era um bastardo, isso é verdade, mas agora se foi Jo­nos a gerá-lo já é questão mais espinhosa. Era um rapaz de cabelo claro, e bem-parecido. Jonos não é nem uma coisa nem outra. — Lorde Tytos pôs-se em pé. — Dar-me-eis a honra de jantar comigo?

—   Noutra altura, senhor. — O castelo estava faminto; nenhum bem viria de Jaime roubar comida das suas bocas. — Não me posso demorar. Correrrio aguarda.

—   Correrrio? Ou Porto Real?

—   Ambos.

Lorde Tytos não tentou dissuadi-lo.

—   Hoster pode ficar pronto a partir dentro de uma hora.

E ficou. O rapaz foi ao encontro de Jaime junto dos estábulos, com um colchão de campanha enrolado ao ombro e um maço de pergaminhos debaixo do braço. Não podia ter mais de dezasseis anos, mas era ainda mais alto do que o pai, quase dois metros e dez de pernas, canelas e cotovelos, um rapaz desengonçado e desajeitado com cabelo espetado.

—    Senhor Comandante. Sou o vosso refém, Hoster. Chamam-me Hos. — Sorriu.

Pensará ele que isto é uma brincadeira?

—   Diz-me, quem é que te chama isso?

—   Os meus amigos. Os meus irmãos.

—   Eu não sou teu amigo e não sou teu irmão. — Aquilo varreu o sor­riso da cara do rapaz. Jaime virou-se para o Lorde Tytos. — Senhor, que não haja aqui nenhum mal-entendido. O Lorde Beric Dondarrion, Thoros de Myr, Sandor Clegane, Brynden Tully, aquela mulher Coração-de-Pedra... todos eles são fora-da-lei e rebeldes, inimigos do rei e de todos os seus súb­ditos leais. Se eu vier a saber que vós ou os vossos estão a escondê-los, a pro- tegê-los ou a auxiliá-los de qualquer maneira, não hesitarei em enviar-vos a cabeça do vosso filho. Espero que compreendais isso. E compreendei tam­bém o seguinte: eu não sou Ryman Frey.

—    Pois não. — Todos os vestígios de simpatia tinham desapare­cido da boca do Lorde Blackwood. — Eu sei com quem estou a lidar. Regicida.

—    Ótimo. — Jaime montou e virou Honra para o portão. — Dese­jo-vos uma boa colheita e a alegria da paz do rei.

Não cavalgou até longe. Lorde Jonos Bracken estava à espera dele à saída de Corvarbor, logo para lá do alcance de uma boa besta. Estava mon­tado num corcel de batalha couraçado e envergara a sua armadura e cota de malha e um grande elmo de aço cinzento com uma crista de crina de cavalo.

—   Vi-os arrear a bandeira do lobo gigante — disse, quando Jaime chegou junto dele. — Está feito?

—   Feito e acabado. Ide para casa e plantai os vossos campos.

O Lorde Bracken ergueu a viseira.

—   Confio ter mais campos para plantar do que quando entrastes na­quele castelo.

—   Fivela, Sebemadeira, Melarbor com todas as suas colmeias. — Es­tava a esquecer-se de um. — Ah, e a Serra da Besta.

—   Um moinho — disse Bracken. — Tenho de ficar com um moinho.

—   O Moinho do Senhor.

Lorde Jonos resfolegou.

—    Sim, isso serve. Por agora. — Apontou para Hoster Blackwood, em montaria dupla com Peck. — Foi isto que vos deu como refém? Fostes intrujado, sor. Este é um fracote. Tem água em lugar de sangue. Não im­porta o alto que é, qualquer uma das minhas moças era capaz de o quebrar como a um graveto podre.

—   Quantas filhas tendes, senhor? — perguntou-lhe Jaime.

—  Cinco. Duas da minha primeira mulher e três da terceira — Tarde demais, pareceu aperceber-se de que talvez tivesse dito demasiado.

—   Enviai uma para a corte. Terá o privilégio de servir a Rainha Re­gente.

A cara de Bracken escureceu quando se apercebeu da importância daquelas palavras.

—   É assim que pagais a amizade de Barreira de Pedra?

—    Servir a rainha é uma grande honra — fez Jaime lembrar a sua senhoria. — Talvez queirais convencê-la disso. Esperamos a rapariga antes de o ano terminar. — Em vez de esperar pela resposta do Lorde Bracken, esporeou levemente Honra com as suas esporas douradas e afastou-se a trote. Os seus homens formaram e seguiram-no, com os estandartes a ade­jar. Castelo e acampamento depressa se perderam atrás deles, escondidos pela poeira dos seus cascos.

Nem fora-da-lei nem lobos os tinham incomodado a caminho de Corvarbor, portanto Jaime decidiu regressar por outra via. Se os deuses fos­sem bons, talvez tropeçasse no Peixe Negro ou levasse Beric Dondarrion a desencadear um ataque insensato.

Estavam a seguir o Brejo da Viúva quando se lhes esgotou o dia. Jai­me chamou o refém, perguntou-lhe onde se encontrava o vau mais próxi­mo e o rapaz levou-os até lá. No momento em que a coluna chapinhava nas águas pouco profundas, o Sol punha-se atrás de um par de colinas relvadas.

—   As Tetas — disse Hoster Blackwood.

Jaime lembrou-se do mapa do Lorde Bracken.

—   Há uma aldeia entre aquelas colinas.

—   Pataqueira — confirmou o rapaz.

—   Acampamos lá esta noite. — Se houvesse aldeões por perto, po­diam saber alguma coisa sobre Sor Brynden ou os fora-da-lei. — Lorde Jonos fez um comentário qualquer sobre a dona das tetas — recordou, diri­gindo-se ao rapaz Blackwood enquanto cavalgavam na direção das colinas que iam escurecendo e da última luz do dia. — Os Bracken chamam-lhes uma coisa, e os Blackwood outra.

—   Sim, senhor. Há coisa de cem anos. Antes disso, eram as Tetas da Mãe, ou só as Tetas. São duas, e achava-se que se assemelhavam a...

—   Eu consigo ver aquilo a que se assemelham. — Jaime deu por si a lembrar-se da mulher na tenda, e no modo como ela tentara esconder os grandes mamilos escuros. — Que mudou há cem anos?

—   Aegon, o Indigno, tomou Barba Bracken como amante — respon­deu o estudioso rapaz. — Era uma rapariga muito roliça, segundo consta, e um dia, quando o rei estava de visita em Barreira de Pedra saiu para caçar, viu as Tetas e...

—    ... batizou-as em honra da amante. — Aegon IV morrera muito antes de Jaime nascer, mas lembrava-se de suficiente história do seu reinado para adivinhar o que devia ter acontecido em seguida. — Só que depois pôs a rapariga Bracken de parte e arranjou uma amante Blackwood, foi isso que aconteceu?

—     A Senhora Melissa — confirmou Hoster. — Chamavam-lhe Missy. Há uma estátua dela no nosso bosque sagrado. Era muito mais bela do que Barba Bracken, mas era esguia, e houve quem ouvisse Barba dizer que Missy era lisa como um rapaz. Quando o Rei Aegon ouviu aquilo...