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—  Asas escuras, palavras escuras? — perguntou Alys Karstark.

—  Não, senhora. Estas notícias eram há muito aguardadas. — Embo­ra a última parte me perturbe. Glendon Hewett era um homem experiente e forte, uma escolha sensata para comandar na ausência de Cotter Pyke. Mas também era aquilo a que Alliser Thorne mais podia chamar amigo, e fora uma espécie de compincha de Janos Slynt, ainda que brevemente. Jon ainda se lembrava de como Hewett o arrastara da cama, e da sensação da sua bota a esmagar-se-lhe contra as costelas. Não é o homem que eu teria escolhido. Enrolou o pergaminho e enfiou-o no cinto.

O prato seguinte era de peixe, mas enquanto o lúcio estava a ser lim­po de espinhas, a Senhora Alys arrastou o Magnar para dançar. Pelo modo como se movia, era claro que Sigorn nunca antes dançara, mas bebera vi­nho suficiente para isso não parecer importar.

—  Uma donzela nortenha e um guerreiro selvagem, unidos pelo Se­nhor da Luz. — Sor Axell Florent enfiou-se no lugar deixado vago pela Se­nhora Alys. — Sua Graça aprova. Eu sou próximo dela, senhor, portanto sei o que pensa. O Rei Stannis também aprovaria.

A menos que Roose Bolton lhe tenha espetado a cabeça numa lança.

—  Nem todos concordam, infelizmente. — A barba de Sor Axell era um arbusto irregular sob o queixo descaído; pelos ásperos despontavam-lhe nas orelhas e narinas. — Sor Patrek sente que teria sido melhor par para a Senhora Alys. Perdeu as terras quando veio para norte.

—                      Há muitos neste salão que perderam muito mais do que isso — disse Jon — e mais que abriram mão das vidas para servirem o reino. Sor Patrek devia considerar-se afortunado.

Axell Florent sorriu.

—   O rei poderia dizer o mesmo se estivesse aqui. No entanto, decerto que algumas providências têm de ser tomadas em prol dos leais cavaleiros de Sua Graça. Seguiram-no até tão longe e a um custo tão grande. E pre­cisamos de vincular estes selvagens ao rei e ao reino. Este casamento é um bom primeiro passo, mas sei que agradaria à rainha ver também a princesa selvagem casada.

Jon suspirou. Estava farto de explicar que Val não era uma verdadeira princesa. Por mais que lhes dissesse, eles nunca pareciam escutar.

—   Sois persistente, Sor Axell, isso admito.

—   Censurais-me, senhor? Um prémio como aquele não se conquista facilmente. Uma rapariga núbil, segundo ouvi dizer, e que não faz mal à vista. Boas ancas, bons seios, bem feita para parir filhos.

—   E quem seria pai desses filhos? Sor Patrek? Vós?

—  Quem haveria melhor? Nós, os Florent, temos o sangue dos velhos reis Gardener nas veias. A Senhora Melisandre podia executar os ritos, tal como fez para a Senhora Alys e o Magnar.

—   Só o que vos falta é uma noiva.

—   Isso remedeia-se facilmente. — O sorriso do Florent era tão falso que parecia doloroso. — Onde está ela, Lorde Snow? Mudaste-la para um dos outros castelos? Para Guardagris ou para a Torre Sombria? Para o Bu­raco das Rameiras com as outras raparigas? — Aproximou-se mais. — Há quem diga que a tendes escondida para vosso próprio prazer. A mim não importa, desde que não esteja à espera de bebé. Eu faço nela os meus pró­prios filhos. Se a iniciastes à sela, bem... somos ambos homens do mundo, não somos?

Jon já ouvira o suficiente.

—    Sor Axell, se realmente sois Mão da Rainha, apiedo-me de Sua Graça.

A cara de Florent corou de raiva.

—   Então é verdade. Pretendeis guardá-la para vós, agora vejo. O bas­tardo quer os domínios do pai.

O bastardo recusou os domínios do pai. Se o bastardo tivesse querido Val, ter-lhe-ia bastado pedi-la.

—   Tereis de me dar licença, sor — disse. — Preciso de um pouco de ar fresco. — Isto aqui fede. A cabeça virou-se-lhe. — Aquilo foi um corno.

Outros também o tinham ouvido. A música e os risos morreram de imediato. Dançarinos imobilizaram-se onde estavam, à escuta. Até o Fan­tasma espetou as orelhas.

—  Ouvistes aquilo? — perguntou a Rainha Selyse aos seus cavaleiros.

—   Um corno de guerra, Vossa Graça — disse Sor Narbert.

A mão da rainha pairou até à sua garganta.

—   Estamos sob ataque?

—   Não, Vossa Graça — disse Ulmer da Mata de Rei. — São os vigi­lantes na Muralha, nada mais.

Um sopro, pensou Jon Snow. Patrulheiros de regresso.

Foi então que voltou a soar. O som pareceu encher a cave.

—   Dois sopros — disse Mully.

Irmão negros, nortenhos, povo livre, Thenns, homens da rainha, todos se calaram, à escuta. Passaram quatro segundos. Dez. Vinte. Então o Owen Idiota soltou um risinho abafado e Ion Snow conseguiu voltar a respirar.

—  Dois sopros. Selvagens. — Val.

Tormund Terror dos Gigantes chegara por fim.

DAENERYS 

O salão ressoava com gargalhadas yunkaitas, canções yunkaitas, preces yunkaitas. Dançarinos dançavam; músicos tocavam estranhas melodias com campainhas, chiadores e câmaras de ar; cantores cantavam antigas canções de amor na incompreensível língua da Velha Ghis. Fluía vinho; não o líquido fino e pálido da Baía dos Escravos, mas ricas colheitas saborosas da Árvore e vinho de sonhos de Qarth, temperado com estranhas especia­rias. Os yunkaitas tinham vindo a convite do Rei Hizdahr, a fim de assinar a paz e assistir ao renascimento das afamadas arenas de combate de Meereen. O seu nobre marido abrira a Grande Pirâmide para os banquetear.

Detesto isto, pensou Daenerys Targaryen. Como foi que isto aconteceu, como foi que acabei a beber e a sorrir com homens que preferiria esfolar?

Foi servida uma dúzia de diferentes tipos de carne e peixe: came­lo, crocodilo, lula cantante, pato lacado e lagartas espinhosas, com cabra, presunto e cavalo para aqueles cujos gostos eram menos exóticos. E cão. Nenhum banquete ghiscariota estava completo sem um prato de cão. Os cozinheiros de Hizdahr preparavam cão de quatro maneiras diferentes.

—   Os ghiscariotas comem qualquer coisa que nade, voe ou ande, à exceção de homem e dragão — avisara-a Daario — e aposto que também comeriam dragão se lhes fosse dada meia oportunidade. — Porém, a carne sozinha não dava uma refeição, portanto também havia frutas, cereais e legumes. O ar estava temperado com os odores a açafrão, canela, cravinho, pimenta e outras especiarias dispendiosas.

Dany quase nem tocou na comida. Isto é a paz, disse a si própria. Era isto que eu queria, aquilo para que trabalhei, foi para isto que casei com Hi­zdahr. Então porque sabe tanto a derrota?

—   É só durante mais algum tempo, meu amor — garantira-lhe Hi­zdahr. — Os yunkaitas depressa se irão embora, e os seus aliados e merce­nários irão com eles. Teremos tudo o que desejávamos. Paz, comida, co­mércio. O nosso porto está de novo aberto, e navios são autorizados a ir e vir.

—   Eles estão a autorizar isso, sim — respondera — mas os seus na­vios de guerra permanecem cá. Podem voltar a fechar os dedos em volta da nossa garganta quando quiserem. Abriram um mercado de escravos à vista das minhas muralhas!

—                       Fora das nossas muralhas, querida rainha. Essa foi uma condição para a paz, que Yunkai fosse livre de negociar em escravos como dantes, sem ser incomodada.

—    Na sua própria cidade. Não onde eu tenha de ver. — Os Sábios Mestres tinham instalado os seus cercados de escravos e estrado de leilões mesmo a sul do Skahazadhan, onde o largo rio castanho desaguava na Baía dos Escravos. — Estão a troçar da minha cara, a fazer espetáculo da minha impotência para lhes pôr travão.