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—   Parecem adoráveis. — Afastou-o do fosso. O lugar dele não é aqui. Nunca devia ter vindo. — Devíeis regressar para lá. Temo que a minha corte não seja sítio seguro para vós. Tendes mais inimigos do que julgais. Fizestes com que Daario parecesse um tolo, e ele não é homem para esquecer tal desfeita.

—   Eu tenho os meus cavaleiros. Os meus protetores ajuramentados.

—   Dois cavaleiros. Daario tem quinhentos Corvos Tormentosos. E também faríeis bem cm terdes cuidado com o senhor meu esposo. Parece um homem brando e agradável, bem sei, mas não vos deixeis enganar. A coroa de Hizdahr deriva da minha, e ele detém a lealdade de alguns dos mais temíveis combatentes do mundo. Se algum deles pensar em conquis­tar a sua benevolência livrando-o de um rival...

—   Eu sou um príncipe de Dorne, Vossa Graça. Não fujo de escravos e de mercenários.

Então és realmente um idiota, Príncipe Sapo. Dany deitou aos seus filhos selvagens um último olhar demorado. Enquanto levava o rapaz para a porta foi ouvindo os gritos dos dragões e vendo o jogo de luz nos tijolos, reflexos dos seus fogos. Se olhar para trás estou perdida.

—   Sor Barristan terá chamado um par de liteiras para nos levar para o banquete, mas mesmo assim a ascensão pode ser cansativa. — Atrás de si as grandes portas de ferro fecharam-se com um estrondo ressonante. — Falai-me dessa outra Daenerys. Sei menos do que devia sobre a história do reino do meu pai. Nunca tive um meistre enquanto crescia. — Só um irmão.

— O prazer será meu, Vossa Graça — disse Quentyn.

Já passava muito da meia-noite quando os últimos convidados se retiraram, e Dany recolheu-se aos aposentos para se ir juntar ao seu rei e senhor. Hizdahr, pelo menos, estava feliz, embora algo ébrio.

—  Cumpri as minhas promessas — disse-lhe, enquanto Irri e Qhiqui os vestiam para a cama. — Desejastes a paz, e ela é vossa.

E tu desejaste sangue, e bem depressa terei de to dar, pensou Dany, mas o que disse foi:

—   Estou grata.

A excitação do dia inflamara as paixões do marido. Assim que as aias se retiraram para a noite, arrancou-lhe o roupão e atirou-a de costas para a cama. Dany envolveu-o nos braços e deixou-o levar a sua avante. Sabia que, bêbado como estava, não estaria muito tempo dentro dela.

E não esteve. Depois, enfiou-lhe o nariz na orelha e sussurrou:

—   Os deuses permitam que tenhamos feito um filho esta noite.

As palavras de Mirri Mas Duur ressoaram-lhe na cabeça. Quando o Sol nascer a ocidente e se puser a oriente. Quando os mares secarem e as mon­tanhas/orem sopradas pelo vento como folhas. Quando o vosso ventre voltar a ganhar vida e derdes à luz um filho vivo. Então, e não antes, ele regressará. O significado fora bastante claro; era tão provável que Khal Drogo regres­sasse dos mortos como que ela desse à luz um filho vivo. Mas havia alguns segredos que não se conseguia levar a partilhar, mesmo com um marido, pelo que deixou Hizdahr zo Loraq manter as esperanças.

O seu nobre esposo depressa adormeceu profundamente. Daenerys só conseguiu virar-se e mudar de posição ao lado dele. Apeteceu-lhe aba- ná-lo, acordá-lo, obrigá-lo a abraçá-la, a beijá-la, a fodê-la de novo, mas mesmo se o fizesse voltaria a adormecer depois, deixando-a sozinha na es­curidão. Perguntou a si própria o que estaria Daario a fazer. Também esta­ria desassossegado? Estaria a pensar nela. Amá-la-ia, realmente? Odiá-la-ia por se ter casado com Hizdahr? Nunca o devia ter levado para a minha cama. Ele era apenas um mercenário, não era consorte adequado para uma rainha, e no entanto...

Eu sempre o soube, mas fi-lo na mesma.

—   Minha rainha? — disse uma voz suave na escuridão.

Dany estremeceu.

—   Quem está aí?

—   Só Missandei. — A escriba naatina aproximou-se da cama. — Esta ouviu-vos chorar.

—   Chorar? Eu não estava a chorar. Porque haveria de chorar? Tenho a minha paz, tenho o meu rei, tenho tudo o que uma rainha podia desejar. Tiveste um pesadelo, nada mais.

—    É como dizeis, Vossa Graça. — A rapariga tez uma vénia e fez tenção de se ir embora.

—   Fica — disse Dany. — Não quero ficar sozinha.

—   Sua Graça está convosco — fez notar Missandei.

—   Sua Graça está a sonhar, mas eu não consigo dormir. Amanhã te­nho de tomar banho em sangue. O preço da paz. — Fez um sorriso abatido e deu palmadinhas na cama. — Anda. Senta-te. Conversa comigo.

—   Se vos aprouver. — Missandei sentou-se a seu lado. — Conversa­mos sobre o quê?

—   Casa — disse Dany. — Naath. Borboletas e irmãos. Fala-me das coisas que te tornam feliz, das coisas que te fazem rir, de todas as tuas memórias mais queridas. Faz-me lembrar que ainda há coisas boas no mundo.

Missandei fez o seu melhor. Ainda estava a falar quando Dany fi­nalmente caiu no sono, para ter sonhos estranhos e meio formados sobre fumo e fogo.

A manhã chegou cedo demais.

THEON

O dia aproximou-se deles como Stannis se aproximara: sem ser visto.

Winterfell estava acordado há horas, com as ameias e as torres reple­tas de homens vestidos de lã, cota de malha e couro, à espera de um ataque que não chegou. Quando o céu começou a clarear, o som dos tambores tinha emudecido, embora cornos de guerra fossem ouvidos mais três vezes, de cada uma um pouco mais próximos. E a neve continuava a cair.

—    A tempestade vai acabar hoje — insistia ruidosamente um dos moços de estrebaria sobreviventes. — Ora, nem sequer é inverno. — Theon ter-se-ia rido se se tivesse atrevido. Lembrou-se de histórias que a Velha Nan lhes contara sobre tempestades que se tinham prolongado durante quarenta dias e quarenta noites, durante um ano, durante dez anos... tem­pestades que tinham enterrado castelos e cidades e reinos inteiros sob trinta metros de neve.

Estava sentado ao fundo do Grande Salão, não muito longe dos ca­valos, a ver Abel, Rowan e uma lavadeira com um cabelo de um castanho de rato, chamada Esquila, atacar fatias de pão duro e castanho assado em gordura de bacon. Theon quebrava o jejum com uma caneca de cerveja es­cura, enevoada de levedura e suficientemente densa para se mastigar. Com mais algumas canecas talvez o plano de Abel deixasse de parecer tão louco.

Roose Bolton entrou, de olhos claros e a bocejar, acompanhado pela sua rechonchuda c grávida esposa Walda Gorda. Vários senhores e capitães tinham-no precedido, entre os quais o Terror-das-Rameiras Umber, Aenys Frey e Roger Ryswell. Mais ao fundo da mesa, Wyman Manderly devorava salsichas e ovos cozidos, enquanto o velho Lorde Locke, a seu lado, enfiava papas de aveia na boca sem dentes.

O Lorde Ramsay depressa surgiu também, afivelando o cinturão da espada enquanto se dirigia à parte dianteira do salão. Hoje está de mau hu­mor. Theon conseguia vê-lo. Os tambores mantiveram-no acordado a noite toda, supôs, ou alguém lhe desagradou. Uma palavra errada, um olhar im­pensado, uma gargalhada a destempo, qualquer coisa poderia provocar a fúria de sua senhoria, e custar a um homem uma fita de pele. Por favor, senhor, não olheis para este lado. Um relance seria o suficiente para Ramsay compreender tudo. Vê-lo-á escrito na minha cara. Saberá. Sabe sempre.

Theon virou-se para Abel.

Isto não vai resultar. — Fez soar a voz tão baixo que nem os cavalos poderiam ter ouvido. — Seremos apanhados antes de sairmos do castelo. Mesmo se escaparmos, o Lorde Ramsay dar-nos-á caça, ele, o Ben Ossos e as raparigas.