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Quando a Esquila regressou, as outras quatro vinham com ela: a des­carnada e grisalha Myrtle, Willow Olho-de-Bruxa com a sua longa trança negra, a Frenya da cintura larga e enormes seios, Holly com a sua faca. Ves­tidas como criadas, com camadas de tecido grosseiro de um cinzento sem graça, usavam mantos de lã castanha forrada com pelo branco de coelho. Nada de espadas, viu Theon. Nada de machados, nada de martelos, nenhu­ma arma além de facas. O manto de Holly estava preso com um pregador de prata, e Frenya tinha uma cinta de corda de cânhamo enrolada em volta do corpo, da cintura aos seios. Fazia com que parecesse ainda mais pesada do que era.

Myrtle trazia vestuário de criada para Rowan.

—   Os pátios estão cheios de idiotas — avisou-os. — Querem sair a cavalo.

—  Ajoelhadores — disse Willow, com uma fungadela de desprezo. — O seu senhorial senhor falou, têm de obedecer.

—   Vão morrer — chilreou Holly, em tom de felicidade.

—   Eles e nós — disse Theon. — Mesmo que consigamos passar pelos guardas, como tencionais fazer sair a Senhora Arya?

Holly sorriu.

—   Seis mulheres entram, seis saem. Quem olha para criadas? Vesti­mos a rapariga Stark com a roupa da Esquila.

Theon deitou um olhar à Esquila. São quase do mesmo tamanho. Tal­vez resulte.

—   E como é que a Esquila sai?

Esta respondeu por si própria.

—  Por uma janela, direitinha para o bosque sagrado. Tinha doze anos da primeira vez que o meu irmão me levou num ataque a sul da vossa Mu­ralha. Foi aí que arranjei o nome. O meu irmão disse que eu parecia um esquilo a correr por uma árvore acima. Desde essa altura, subi a Muralha seis vezes, para um lado e para o outro. Acho que consigo descer de uma torre de pedra.

—   Satisfeito, vira-mantos? — perguntou Rowan. — Vamos lá a isso.

A cavernosa cozinha de Winterfell ocupava um edifício próprio, se­parado dos edifícios e torres principais para o caso de se incendiar. Lá den­tro, os cheiros mudavam de hora a hora; um perfume sempre mutável de carnes a assar, alho-porro e cebola, pão acabado de fazer. Roose Bolton co­locara guardas à porta da cozinha. Com tantas bocas para alimentar, cada bocado de comida era precioso. Até os cozinheiros e os ajudantes de cozi­nha eram constantemente vigiados. Mas os guardas conheciam o Cheirete.

Gostavam de provocá-lo quando vinha buscar água quente para o banho da Senhora Arya. Nenhum se atrevia a fazer mais do que isso, contudo. Sabia-se que o Cheirete era o animal de estimação do Lorde Ramsay.

—   O Príncipe do Fedor veio buscar água quente — anunciou um guarda quando Theon e as criadas apareceram na sua frente. Abriu-lhes a porta. — Agora despacha-te, antes que todo esse delicioso ar quente fuja.

Lá dentro, Theon agarrou num ajudante de cozinha pelo braço.

—   Água quente para senhora, rapaz — ordenou. — Seis baldes cheios, e trata de que esteja boa e quente. O Lorde Ramsay deseja-a rosada e limpa.

—   Sim, senhor — disse o rapaz. — Imediatamente, senhor.

O "imediatamente" demorou mais tempo do que Theon teria gosta­do. Nenhum dos grandes panelões estava limpo, portanto o ajudante de co­zinha teve de lavar um antes de o encher de água. Depois pareceu levar um tempo infinito a romper fervura, e o dobro do tempo a encher seis baldes de madeira. Durante todo esse tempo, as mulheres de Abel esperaram, com as caras ocultas pelos capuzes. Estão afazer tudo errado. As criadas verda­deiras andavam sempre a arreliar os ajudantes de cozinha, a namoriscar com os cozinheiros, a ganhar através da sedução um bocadinho disto, uma dentada daquilo. Rowan e as irmãs conspiradoras não queriam atrair aten­ções, mas o seu silêncio carrancudo depressa pôs os guardas a deitar-lhes olhares estranhos.

—   Onde está a Maisie, a Jez e as outras moças? — perguntou um deles a Theon. — As do costume.

—    A Senhora Arya estava descontente com elas — mentiu. — Da última vez a água arrefeceu antes de chegar à banheira.

A água quente enchia o ar de nuvens de vapor, derretendo os flo­cos de neve ainda no ar. O cortejo regressou pelo labirinto de trincheiras muradas de gelo. A cada passo sacolejado, a água arrefecia. As passagens estavam coaguladas de soldados; cavaleiros de armadura com sobretudos de lã e mantos de peles, homens-de-armas com lanças a tiracolo, arqueiros que transportavam arcos sem cordas e molhos de setas, cavaleiros livres, palafreneiros com cavalos de guerra pelas arreatas. Os homens dos Frey usavam o símbolo das duas torres, os de Porto Branco exibiam o tritão e o tridente. Atravessavam a tempestade aos encontrões, em direções opostas, e olhavam-se uns aos outros com cautela, mas não havia espadas desembai­nhadas. Ali não. Pode ser diferente lá fora na floresta.

Meia dúzia de homens experientes do Forte do Pavor guardavam as portas da Grande Torre.

—   Outro maldito banho? — disse o seu sargento quando viu os bal­des de água fumegante. Tinha as mãos enfiadas nos sovacos para as pro­teger do frio. — Tomou banho ontem à noite. Quão suja consegue uma mulher ficar na sua cama?

Mais suja do que tu julgas, quando se partilha essa cama com Ramsay, pensou Theon, lembrando-se da noite do casamento e das coisas que ele e Jeyne tinham sido obrigados a fazer.

—   Ordens do Lorde Ramsay.

—  Então eníiai-vos lá dentro, antes que a água gele — disse o sargen­to. Dois dos guardas abriram as portas duplas.

A entrada estava quase tão fria como o ar da rua. Holly bateu os pés para fazer saltar a neve das botas e baixou o capuz do manto.

—   Julguei que fosse mais difícil. — O seu hálito congelou no ar.

—   Há mais guardas lá em cima junto do quarto do senhor — avisou Theon. — Homens de Ramsay. — Não se atrevia a chamar-lhes Rapazes do Bastardo, ali não. Nunca se sabia quem poderia estar à escuta. — Mantende as cabeças baixas e os capuzes erguidos.

—  Faz o que ele diz, Holly — disse Rowan. — Há alguns capazes de te reconhecer a cara. Não precisamos desse problema.

Theon levou-as pela escada acima. Já subi estes degraus mil vezes. Em rapaz, subia-os a correr; ao descer saltava os degraus três a três. Uma vez saltara para cima da Velha Nan e atirara-a ao chão. Isso levara à maior tareia que apanhara em Winterfell, embora tivesse sido suave comparada com os espancamentos que os irmãos costumavam dar-lhe em Pyke. Ele e Robb tinham travado muitas heróicas batalhas naqueles degraus, golpeando-se um ao outro com espadas de madeira. Esse fora um bom treino; deixara bem claro como era difícil avançar em combate por uma escada em espiral contra uma oposição determinada. Sor Rodrik gostava de dizer que um bom homem era capaz de conter uma centena, combatendo de cima para baixo.

Mas isso fora há muito tempo. Agora estavam todos mortos. Jory, o velho Sor Rodrik, o Lorde Eddard, Harwin e Hullen, Cayn e Desmond e o Tom Gordo, Alyn com os seus sonhos de cavalaria, Mikken que lhe dera a sua primeira espada verdadeira. Até a Velha Nan, provavelmente.

E Robb. Robb, que fora para Theon mais um irmão do que qualquer filho nascido das virilhas de Balon Greyjoy. Assassinado no Casamento Ver­melho, massacrado pelos Frey. Eu devia ter estado com ele. Onde estava? De­via ter morrido com ele.

Theon parou tão de súbito que Willow quase mergulhou nas suas costas. Tinha a porta do quarto de Ramsay na sua frente. E a guardá-la esta­vam dois dos Rapazes do Bastardo, o Alyn Azedo e o Grunhido.

os deuses antigos devem querer o nosso sucesso. O Lorde Ramsay gos­tava de dizer que o Grunhido não tinha língua e o Alyn Azedo não tinha miolos. Um era brutal, o outro mau, mas ambos tinham passado a maior parte das suas vidas ao serviço do Forte do Pavor. Faziam o que lhes diziam.