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Toranaga brincou com a idéia. Eu certamente tenho que manter Omi desnorteado, disse a si mesmo. O jovem Omi pode se tornar um estorvo ao meu lado com toda a facilidade. Bem, não terei que fazer nada para que Midori se divorcie. O pai de Omi certamente terá últimas vontades definidas antes de cometer seppuku, e a esposa insistirá, com certeza, em que a última coisa mais importante que ele faça neste mundo seja casar o filho corretamente. Então Midori estará divorciada dentro de poucos dias, de qualquer modo. Sim, ela seria uma ótima esposa.

— Além dela, Fujiko-san, que tal Kiku, Kiku-san?

Fujiko olhou-o fixamente. — Oh, sinto muito, senhor, vai abandoná-la?

— Talvez. Bem?

— Eu teria pensado que Kiku-san seria uma perfeita consorte não oficial, senhor. É brilhante e maravilhosa. Mas embora eu entenda que ela seria uma distração enorme para um homem comum, sinto muito, levaria anos até que o Anjin-san fosse capaz de apreciar a qualidade rara do seu canto, da sua dança ou do seu espírito. Como esposa? — perguntou ela, com a ênfase suficiente para indicar total desaprovação. — As damas do Mundo do Salgueiro geralmente não são educadas do mesmo modo que... que as outras, senhor. Seus talentos repousam em outra parte. Ser responsável pelas finanças e os negócios da casa de um samurai é diferente do Mundo do Salgueiro.

— Ela poderia aprender?

Fujiko hesitou um longo momento. — O ideal para o Anjin-san seria Midori-san como esposa, Kiku-san como consorte.

— Elas poderiam aprender a viver com as, há, atitudes diferentes dele?

— Midori-san é samurai, senhor. Seria dever dela. O senhor lhe ordenaria. Kiku-san também.

— Mas não o Anjin-san?

— O senhor o conhece melhor do que eu. Mas em coisas de "travesseiro", há... seria melhor que ele, bem, pensasse nisso sozinho.

— Toda Mariko-sama teria dado uma esposa perfeita para ele. Neh?

— Essa idéia é extraordinária, senhor — replicou Fujiko, sem piscar. — Certamente ambos tinham um enorme respeito mútuo.

— Sim — disse ele secamente. — Bem, obrigado, Fujikosan. Considerarei o que você disse. Ele estará em Anjiro dentro de uns dez dias.

— Obrigada, senhor. Se eu puder sugerir, o porto de Ito e a nascente de Yokosé deveriam ser incluídos no feudo do Anjin-san.

— Por quê?

— Ito só para o caso de Anjiro não ser grande o bastante. Talvez fossem necessárias carreiras maiores, para um navio tão grande. Talvez estivessem disponíveis lá. Yokosé porq ...

— Estão?

— Sim, senhor. E ... — Você esteve lá?

— Não, senhor. Mas o Anjin-san se interessa pelo mar. O senhor também. Era meu dever tentar aprender sobre navios e navegação, e, quando fomos informados de que o navio do Anjin san tinha pegado fogo, perguntei a mim mesma se seria possível construir outro, e se fosse, onde e como. lzu é a escolha perfeita, senhor. Será fácil manter os exércitos de Ishido a distância.

— E por que Yokosé?

— E Yokosé porque um hatamoto deve ter um lugar nas montanhas, onde o senhor pudesse ser recebido no estilo que tem o direito de esperar.

Toranaga observava-a atentamente. Fujiko parecia muito dócil e modesta, mas ele sabia que era tão inflexível quanto ele mesmo, e nem um pouco pronta a ceder em nenhum dos dois pontos, a menos que ele ordenasse. — Concordo. E considerarei o que você disse sobre Midori-san e Kiku-san.

— Obrigada, senhor — disse ela com humildade, contente por haver cumprido o dever para com o amo e saldado seu débito com Mariko. Ito pelas carreiras, e Yokosé porque Mariko dissera que fora lá que o "amor" deles realmente começara.

— Tenho tanta sorte, Fujiko-chan — dissera-lhe Mariko em Yedo. — Nossa viagem para cá trouxe-me mais alegria do que eu tenho o direito de esperar em vinte vidas.

— Imploro-lhe que o proteja em Osaka, Mariko-san. Sinto muito, ele não é como nós, não é civilizado como nós, pobre homem. O nirvana dele é a vida e não a morte.

Isso ainda é verdade, pensou Fujiko novamente, abençoando a memória de Mariko. Mariko salvara o Anjin-san, ninguém mais — não o Deus cristão ou quaisquer deuses, não o próprio Anjin san, nem mesmo Toranaga, ninguém -, apenas Mariko, sozinha. Toda Mariko-noh-Akechi Jinsai o salvara.

Antes de morrer, vou erigir um santuário em Yokosé e deixarei um legado para outro em Osaka e outro em Yedo. Será um dos meus desejos de morte, Toranaga-sama, prometeu ela a si mesma, olhando para ele pacientemente, animada pelas outras coisas agradáveis que ainda havia por fazer em nome do Anjin-san. Midori como esposa, certamente, nunca Kiku como esposa, apenas como consorte e não necessariamente consortechefe, e o feudo aumentado até Shimoda, no extremo sul da costa de Izu. — Deseja que eu parta imediatamente, senhor?

— Fique aqui esta noite, depois vá direto amanhã. Não via Yokohama.

— Sim. Compreendo. Desculpe, posso tomar posse do novo feudo do meu amo em seu nome — e de tudo o que contém -, no momento em que eu chegar?

— Kawanabi-san lhe dará os documentos necessários antes que você parta. Agora, por favor, mande Kiku-san a mim. Fujiko curvou-se e saiu.

Toranaga grunhiu. Uma pena que essa mulher vá pôr fim à vida. Ela é quase valiosa demais para se perder, e esperta demais. Ito e Yokosé? Ito é compreensível. Por que Yokosé? E o que mais ela tinha em mente?

Viu Kiku atravessando o pátio banhado de sol, os pezinhos em tabis brancos, quase dançando, tão doce e elegante com suas sedas, a sombrinha carmesim, o desejo de cada homem à vista dele. Ah, Kiku, pensou ele, não posso me permitir esse desejo, desculpe-me. Não posso me permitir ter você nesta vida, sinto muito. Você deveria ter continuado onde estava, no Mundo Flutuante, cortesã de primeira classe. Ou, até melhor, gueixa. Com que idéia ótima aquela velha megera me saiu! Então você estaria segura, propriedade de muitos, a adorada de muitos, o ponto central de suicídios trágicos e disputas violentas e encontros maravilhosos, adulada e temida, coberta de dinheiro, que você trataria com desdém, uma lenda — enquanto a sua beleza durasse. Mas agora? Agora não posso conservá-la, sinto muito. Qualquer samurai a quem eu a dê leva para a casa uma faca de dois gumes: uma distração completa e a inveja de todos os outros homens. Neh? Poucos concordariam em se casar com você, sinto muito, mas essa é a verdade e este é um dia de verdades. Fujiko tinha razão. Você não foi educada para dirigir a casa de um samurai, sinto muito. Assim que a sua beleza se for... oh, a sua voz durará, criança, e o seu espírito, mas logo você será atirada ao monte de esterco do mundo. Sinto muito, mas isso também é verdade. Outra verdade é que as mais altas damas do Mundo Flutuante são conservadas no seu Mundo Flutuante para dirigir outras casas quando a idade se abate sobre elas, mesmo sobre as mais famosas, para chorar pelos amantes perdidos, pela juventude perdida em barris de saquê, aguado pelas suas lágrimas. As inferiores quando muito tornam-se esposas de um fazendeiro, um pescador, um mercador ou um rico vendedor ou artesão, de cuja vida você nasceu — a flor rara e inesperada que aparece na selva por nenhuma outra razão senão karma, para florescer rapidamente e se extinguir rapidamente.

Tão triste, muito triste. Como lhe dou filhos samurais? Conserve-a para o resto da vida, disse-lhe o seu coração secreto. Ela merece. Não se iluda como ilude aos outros. A verdade é que você poderia conservá-la facilmente, tirando-lhe um pouco, deixando-lhe muito, exatamente como à sua favorita, Tetsu-ko, ou Kogo. Kiku não é exatamente como um falcão para você? Apreciada, sim, única, sim, mas apenas um falcão que você alimenta no punho, para lançar sobre uma presa e chamar de volta com um engodo, para, após uma estação ou duas, soltar a esmo e desaparecer para sempre? Não minta a si mesmo, isso é fatal. Por que não conservá-la? Ela é apenas um falcão, embora muito especial, de vôo muito alto, muito bela de ver, mas nada mais, rara certamente, única certamente, e, oh, tão "travesseirável" ...